Mas esta tarde foi um choque. A cena de Gizelly aos beijos com outra se misturava com as cenas da traição que Rafaella havia sofrido quando ainda estava namorando a Bianca. Rafaella reconhecera o início da mesma sensação que sentiu quando descobriu que sua amiga tinha ficado com sua namorada, não muito tempo atrás.
Ivy sabia tudo sobre o seu relacionamento, era sua confidente, uma pessoa que ela tinha escolhido para ser sua amiga. Tinha muito respeito e confiança pela amiga, em contrapartida, a sua decepção era com Bianca. Elas estavam fazendo planos para o futuro, Rafa tinha segurado a maior barra ao seu lado, e o que ela tinha recebido em troca: uma traição que jamais poderia esperar.
Ela estava sofrendo novamente uma dor muito grande e não queria acreditar que tudo aquilo estava acontecendo novamente. Mais uma vez sentindo o amargor da traição. Encontrar Gizelly aos beijos com outra mulher lhe causou um turbilhão de emoções. Por mais que estivessem juntas a poucos dias, não amenizou em nada o tamanho da dor e raiva que estava sentindo.
Ela tentava escutar o que Gizelly estava lhe dizendo, mas sua mente a fuzilava com perguntas. "Será que todos os meus relacionamentos morreriam tão rapidamente quanto o fim da noite ou ainda mais depressa?" "Será que estou fadada a confiar em pessoas que no final irá sempre me trair?". As perguntas se alternavam com a imagem da cena do beijo de Gizelly e a estranha. Aquilo estava sendo uma tortura para ela.
Precisava dar um basta naquela conversa que não estava fazendo bem a ninguém. Ela estava completamente desacreditada, seu coração quebrado em pedaços. Sentia a necessidade de sair dali, precisava do abrigo da sua casa.
- Chega Gizelly. Por favor vá embora, não volte a me procurar. – Disse Rafaella, interrompendo Gizelly, lhe dando as costas e voltando para o abrigo da sua casa.
A cada passo que dava, deixava um pedaço do seu coração no chão. Tinha medo de olhar para trás e desistir da sua decisão. Assim que fechou a porta atrás de si, Bianca apareceu oferecendo um abraço silencioso. Ela deixou se envolver pelos braços. Ficaram abraças em silencio.
Seus grandes olhos verdes sempre sorriam mesmo quando ela não sorria. Rafaella estava sempre calma e a paz parecia segui-la aonde quer que ela fosse. Ela vivia todos os dias para fazer alguma coisa por outra pessoa, por menor que fosse, sem esperar nada em troca.
Foram essas qualidades que lhe deram independência que a deixou livre para ser quem ela era e compartilhar o que ela queria de si mesma com os outros. Outros invejavam sua calma e independência e viam isso como uma força. Poucos sabiam o quão frágil ela era.
Agora ela sentia sua vida começar a desmoronar, ela realmente acreditou que desta vez seria diferente. Agradeceu por Bianca está ali, lhe oferecendo um apoio sem questiona-la ou fazer qualquer tipo de cobrança.
Não tinha esquecido do que ela tinha feito, mas sentia que agora poderia estar criando algo novo. Ressignificar o que passou e transformar em uma amizade. Quando estava mais calma se desvencilhou dos braços dela.
- Obrigada! – Disse, lhe direcionando um sorriso de gratidão.
- Obrigada? Não sei pelo que está agradecendo. – Respondeu Bianca, em uma voz suave. Tentando demostrar uma falsa inocência.
- Obrigada pelo abraço, e principalmente por não fazer nenhum comentário sobre o que acabou de presenciar. – Disse Rafa, em um tom de lamentação.
- O que aconteceu? Você ter chegado do trabalho e finalmente podemos fazer algo para comer? Porque eu estou cansada de ter que preparar minha própria comida. – Disse Bianca, usando um tom de descontração.
Isto fez com que Rafaella esboçasse um pequeno sorriso para Bianca.
- Ou seja, sair do trabalho e você já quer me meter na cozinha. – Rafaella tentou falar com a mesma animação que Bianca, mas sua voz a traiu. Demonstrando o sofrimento que estava dentro de si.
- Podemos pedir algo, se assim preferir. – Sugeriu Bianca.
- Preciso de um banho. Assim que terminar decidimos o que fazer. – Respondeu Rafa. Sua voz estava começando a embargar novamente. Ela sentia que as lagrimas também estavam retornando. Precisava de um tempo sozinha.
- Tudo bem. Estarei aqui aguardando. – Disse Bianca
Rafaella foi para o seu quarto, enfim podendo ter um tempo a sós para processar tudo o que havia acontecido. Sentou na beirada da cama, a cena do beijo voltando a sua mente. Se permitiu chorar por uma ultima vez, decidiu que não iria se entregar ao sofrimento, não desta vez. Estava cansada de confiar nas pessoas e no fim acabar se entregando ao sofrimento.
Chegou à conclusão que tinha chorado demais por alguém que estava a pouco tempo em sua vida. Levantou-se da cama indo em direção ao seu banheiro.
A água descia pelo seu corpo lavando toda a dor e frustação causado por aquela tarde tensa e decepcionante que tivera. Enquanto a água escorria pelo seu corpo, ela sentia seu corpo se fortalecer, criando uma espécie de armadura.
Ao sair do banho, deu aquele assunto por finalizado. Não iria procurar e nem chorar por Gizelly. Desta vez iria cumprir com sua palavra de se dedicar ao seu crescimento profissional e somente a ele.
Depois de colocar uma roupar confortável, foi procurar Bianca. Ela estava no quarto de hospedes. Rafaella dá duas batidas na porta antes de falar.
- Vamos pedir uma pizza? – Diz ao se encostar no batente da porta.
- Só se for acompanhada com uma maratona de filme? – Pergunta Bianca, erguendo uma das sobrancelhas.
- Tudo bem, mas desta vez eu que irie escolher o filme. – Responde Rafa.
- Você que manda, Baby.
Rafaella revira os olhos antes de falar.
- Já falei pra você não me chamar assim. – Diz semicerrando os olhos para Bianca.
- Duvido que eu vá parar. É melhor você se acostumar. - Bianca respondeu dando de ombros.
Rafaella permaneceu em silencio por alguns minutos. Lembrou de quando conheceu Bianca.
Rafaella já a tinha a visto algumas vezes, em reuniões mensais da antiga escola que trabalhavam, mas nunca tiveram contato até então. Trabalhavam em horários diferentes. Ao aceitar o convite de uma de suas amigas para inauguração de um barzinho LGBT, acabou se deparando com Bianca. No iniciou ficaram sem graça, mas depois a conversa fluiu e no final acabaram se relacionando.
- Ei, vamos pedir agora ou você vai esperar que eu morra de fome? – Perguntou Bianca. Trazendo Rafa de volta ao presente momento.
- Larga de drama, vamos. – Disse se viando e indo em direção a sala, Bianca vindo logo atrás.
Assim que se sentaram, Rafa perguntou.
- Muita ou pouca fome?
- Muitaaaaa. – Respondeu Bianca fazendo uma carinha triste enquanto acariciava a barriga.
- É muito drama pra uma única pessoa, sooh. – Disse Rafa rindo.
Rafaella discou o numero da pizzaria. Assim que terminou de fazer o pedido, colocou o celular em modo avião.
- Vamos de filme enquanto a pizza não chega? – Perguntou, se virando para Bianca.
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Era você
FanfictionUma romântica incurável que não consegue manter um relacionamento, mas que sonha muito viver um clichê digno dos livros de Jane Austen. Uma Solteira convicta, em quer sua felicidade estar em não manter laços afetivos com suas companheiras de cama. ...