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Pov – Catra

Adora estava no hospital.

Essa informação se acomodou no meu cérebro, e acabou me trazendo um pequeno alívio: agora sabíamos onde ela estava. Isso devia ser bom.

Mas o jeito que tio Randor ficou depois que desligou o telefone, e enquanto dirigia até o hospital, me fez ficar ainda mais preocupada.

Ele sabia alguma coisa sobre o estado em que ela estava? Hope lhe disse algo que ele não compartilhou? Ou ela não disse nada, mas deixou implícito que as coisas eram graves?

Quando chegamos ao hospital, me forcei a parar de pensar nas possibilidades.

Adora estava perto, eu logo teria notícias diretas sobre ela. Logo poderia lhe dar um abraço e lhe beijar... poderia esbravejar pelo susto desnecessário, e depois a beijar mais uma vez.

Respirei fundo e busquei me acalmar...

Mas toda a minha “calma” foi por água abaixo quando Hope finalmente apareceu.

Eu me lembrava dela. Light Hope, a médica amiga dos Grayskull, que cuidou de mim quando Adora e Adam me socorreram de Shannon. Ela mesma fizera o laudo sobre os abusos físicos que eu sofri, e que me ajudou a ter a emancipação mais rápido. Hope era alta, com físico perfeito. Tinha cabelos platinados, olhos azuis e um rosto de aparência confiável.

Mas, naquele momento, ela mal podia conter a expressão abatida e triste que dominava seus traços bonitos.

Foi ali que eu entendi: Adora estava machucada. Muito machucada, isso pra não citar as coisas mais horríveis que poderia ter acontecido.

Voltei a me sentar em uma das cadeiras da sala de espera, sentindo minhas pernas cederem ao meu peso.

Me dignei a ouvir a conversa em silêncio.

— Como Adora está? — tio Randor perguntou, aflito.

— Ela está estável, agora — Hope parecia escolher as palavras com cuidado.

— Como ela veio parar aqui, Hope? O que acontece com a minha filha? — minha sogra a olhou com certo desespero.

— Adora foi encontrada mais cedo, em um beco — a médica comprimiu os lábios. — Ela foi espancada. Duas costelas trincadas, uma torção no braço, hematomas por todo o corpo. Também encontramos indícios de que ela foi estuprada... — solucei nesse momento, tampando minha boca pra não gritar —, havia sêmen no que restava das suas roupas. Pelo menos três materiais genéticos diferentes. Enviamos tudo pro laboratório, e já estão investigando o local onde ela foi encontrada. Nesse momento, Adora está sendo examinada por uma ginecologista. Eu... sinto muito.

— Minha filha... — tia Marlenna voltou a chorar, sendo abraçada pelo marido.

Meu mundo desabou naquele momento.

Adora não merecia passar por isso... ela só merecia amor. Merecia carinho.

Não conseguia sequer imaginar o inferno que minha garota passou, enquanto eu acreditava que estava sofrendo.

Desabei a chorar, outra vez, sentindo o peito doer, mais e mais, a cada soluço.

Tudo que eu queria era ver seus olhos azuis, queria que ela me dissesse que era mentira. Queria que aquilo não passasse de um pesadelo, principalmente para Adora.

E por um lado, eu acreditava que, no fundo, isso era culpa minha.

Eu era a razão por ela sofrer assim. Porque tudo o que eu trazia era infelicidade. Tudo o que eu oferecia era azar. Se ela não estivesse namorando comigo, não teria saído de casa pra me contar o que quer que seja. Estaria segura. Nada disso teria acontecido.

Adora estaria bem. Não em uma cama de hospital, sendo examinada.

E eu não seria a culpada por ela estar ali.

Se eu fosse um pouco mais esperta, teria ido embora quando me dei conta disso.

O problema era que eu não conseguia.

Eu amo Adora, com todas as minhas forças.

E sendo egoísta, iria ficar com ela até que se recuperasse, e depois, eu a deixaria partir.

Ela iria para a Alemanha, longe das lembranças ruins, longe das pessoas que a fizeram mal — incluindo eu mesma. —, e lá ela recomeçaria sua vida. Novas oportunidades, talvez novos amores...

Sentada naquela sala, tendo por companhia somente meus sogros (que choravam como eu), enquanto esperava autorização para ver Adora, eu tracei minhas próximas ações.

Tudo o que eu queria é que ela fosse feliz.

Mesmo que não fosse ao meu lado.

[...]

Pov – Autora

Catra estava tão imersa em seus próprios pensamentos, que não percebeu quando Randor avisou para os amigos de Adora sobre ela estar no hospital. Também não percebeu que Adam, que foi um dos primeiros a ser avisado do sumiço da irmã, acabava de entrar na sala de espera, junto de sua noiva.

Ela só percebeu a presença alheia, quando Teela se sentou ao seu lado.

Catra a conhecia desde que a outra era apenas amiga de Adam. Era uma garotinha com cabelos cor de fogo e olhos azuis astutos, na época.

Ninguém nunca imaginou que realmente os dois dariam certo como casal — eram extremo oposto um do outro.

Por algum motivo, se sentiu acolhida com a carícia sutil que a ruiva fez no seu ombro, a confortando. Nunca foram realmente próximas, mas sabia que tudo o que vinha dela era genuíno e de coração.

Se permitiu suspirar e deixar mais algumas lágrimas rolarem.

— Ela vai precisar de você, nesse momento — a voz suave de Teela a fez olhar pra mulher ao seu lado. — Adora é forte... mas ela vai precisar de você, Catherine. Alguém em quem possa confiar. Eu me lembro que um dia vocês foram melhores amigas...

— Eu não vou deixá-la — pelo menos não agora..., completou mentalmente. — Obrigada por isso, Teela.

A ruiva assentiu, depois foi conversar com os sogros.

Catra respirou profundamente, antes de ouvir os passos apressados no corredor.

Não tinha visto o tempo passar, mas Adora já podia receber visitas.

↬ʟᴜᴄᴋʏ sᴛʀɪᴋᴇ • ᶜᵃᵗʳᵃᵈᵒʳᵃOnde histórias criam vida. Descubra agora