Cigarros sem brisa

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Um dia descobrirei o porquê de a Lua sorrir para mim

- Aqui novamente? – Perguntou a diretora, sentando-se em sua grande cadeira de couro. Sua sala era pequena, mas bem-arrumada com apenas alguns livros e globos.

- É o que parece, não é? Vamos logo com isso. Quantos dias? – Perguntei, impaciente. A velha olhou pra mim com um ar questionador, acho que estava querendo adivinhar o que eu estava pensando.

- Você tem que me ajudar a te ajudar, Artur. Se continuar assim, será expulso. Seu número de suspensões está muito alto e você está começando a representar perigo às pessoas da escola. Gritando na diretoria, remexendo-se no chão. Surrando um aluno. – Listou ela, me encarando com aquele olhar severo que todos sempre fazem pra cima de mim.

- Olha, velha, eu já tô de saco cheio. Bati naquele racistinha burguês de merda mesmo, e daí? Vai me dizer que o papai dele vai vir aqui me processar? Processar a escola? Mato ele se fizer isso. – Afirmei, sem saco nenhum pra sermão.

- Artur, olhe o tipo de coisa que você está dizendo! Aquele aluno já teve várias denúncias por racismo, mas, infelizmente, o pai dele ajuda a escola financeiramente. Minhas mãos estão atadas. –Respondeu, suspirando.

- Que seja, sempre estão, né? Ricos, acham que podem pisar em qualquer um só por causa do dinheiro enfiado dentro das bundas de vocês. Me dá minha suspensão logo pra eu vazar desse inferno. – Levantei rápido pra caralho, já não aguentando ficar lá dentro. A velha assinou um papel e entregou pra mim, mas não disse nada. Acho que estava envergonhada ou com raiva. Não me importo também.

Peguei o papel e saí batendo a porta; os funcionários ficaram me olhando, mas desviaram quando fiquei com minha costumeira cara de cu. Acho que ficaram com medo de eu matar alguém. Todo mundo me via como um monstro mesmo. Segui meu caminho para a sala de aula e pegar meus materiais, mas acabei esbarrando em alguém. Nem tive tempo de xingar, as palavras só saíram da minha boca por pura educação.

- Desculpa, não te vi. – Recolhi os ombros antes tensos, fitando a menina a minha frente. Era gata, cabelos longos. Morena.

- Tudo bem. Artur, né? – Perguntou ela. Revirei os olhos, esperando alguma piada idiota sobre a minha fama clean. – Fiquei sabendo o que aconteceu com o menino do segundo ano. Fez bem, ele já tinha me sacaneado muitas vezes.

- Ah. – Respondi, realmente sem jeito por ter pensado mal dela. Acho que o costume subiu à minha cabeça. Devo ter criado um escudo com o tempo, lutando contra um monte de babacas e cuzões que viviam me enchendo o saco.

- O Carl já me falou de você. Eu e a galera vamo dar um rolê hoje. Quer vir? – Disse ela, percebi um quê de flerte no tom dela, mas deve ser viagem, uma deusa daquelas nunca me daria bola. Sem contar que eu ainda estava naquele rolo estranho com Mary e meus pensamentos sempre estavam completamente direcionados para Clary, mesmo que eu soubesse que nunca rolaria nada. Sim, eu sou iludido.

- Claro, bora. – Pisquei. Ela deu uma risadinha (bem suspeita na minha opinião) e saiu rebolando. Meus olhos desceram por ser corpo, foi automático, mas bem rápido. Olhar não tira pedaço, né. Continuei meu caminho até a minha sala, bati na porta e o professor me atendeu, perguntando o porquê de eu estar atrasado de novo.

- Tava na diretoria, tô suspenso. – Expliquei, mas não estava com vontade de continuar a atrapalhar a aula dele. – Desculpa, eu só vim aqui pegar minhas coisas, não quero estragar sua aula.

- Tá aqui, drogado. Pega aí. – Disse um garoto que sentava no fundo. Não prestei atenção nele. Ele jogou meu caderno, lápis e caneta no chão. Quis acabar com a fuça dele, o fazer engolir o próprio sangue, mas me controlei. Assim que me abaixei para pegar as coisas, senti bolinhas acertarem minhas costas.

Fumos ao VentoOnde histórias criam vida. Descubra agora