Putz

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Adolescentes são a praga da humanidade.

Rãs, mosquitos e gafanhotos tinham sido na época do Egito Antigo. Deus estava mais esperto.

Mesmo quando estava no auge da puberdade, Katsuki não se lembra de ser tão imbecil. Suspeitava ser um fenômeno social, ou seja, um adolescente talvez não representasse grande risco. Muitos, no entanto, trabalhavam em conjunto para estressar todos que tivessem juízo.

Sempre pensava nisso quando atravessava aquela área da cidade. Bares, boates e clubes deixavam o trânsito infernal. Tantas placas de LED davam dor de cabeça. Bêbados vagavam distraidamente, alguns atrás do volante.

Nada pior do que as risadas incessantes. O que era tão engraçado? Grande bosta, a espécie humana. Literalmente um peido do universo, uma sorte tão inexplicável que se transformou em azar. Antes tivéssemos continuado nas árvores. Melhor, não devíamos ter nem subido. Quem foi o energúmeno que decidiu que seria uma boa ideia sair do mar? Vida boa era dos primeiros micróbios.

Putz, o que foi aquele barulho?

Katsuki atropelou alguém.

Porra, seu carro deve ter ficado amassado.

Deitou a cabeça no volante, acionando a buzina sem querer. Aumento de estresse em 100%, tudo bem, tudo bem, bastava contar até dez. Um, dois, três...

Ouviu gritos.

Ok, Bakugou ia sair, pegar o número da conta bancária da vítima, dar algum dinheiro, fingir que era esquizofrênico, falar que tinha voltar para uma missão secreta, soltar umas frases em latim, se contorcer e rir muito. Com sorte, o garoto ia embora. Fosse por medo, pena ou raiva, tanto faz.

- Argh! Minha perna!

Eis a cena: aparentemente, o carro estava bem. Ufa. O garoto, não. Seu pé estava torcido, fazendo um ângulo anormal. Por causa da tentativa de se desvencilhar do veículo, sua coxa arrastou no asfalto. A carne estava exposta, uma quantia significativa de sangue ensopava os trapos.

Algumas pessoas tiravam foto, ninguém oferecia ajuda.

Sem dizer nada, Katsuki agachou para que o ruivo notasse sua presença. Poderia assustá-lo se simplesmente o carregasse, mas a dor estava nublando demais sua mente. Resumindo, não fez diferença. Por mais que parecesse tudo superficial, algum osso podia ter quebrado. Hospital, hospital.

Agradecendo pelos meses de academia, o loiro finalmente conseguiu enfiar o desconhecido no banco traseiro. Seu retrovisor estava quebrado, reparou. Antes de colocar a chave na ignição, já tinha traçado mentalmente o trajeto para o hospital mais próximo. Ah, o milagre da adrenalina.

Os gemidos penosos estavam atrapalhando a música da rádio. Quão sociopata era ficar feliz por poder burlar as regras de trânsito? Depois de ativar o pisca-alerta, Katsuki só andava na contramão. Há muito tempo não se sentia tão vivo, ao passo que o ruivo poderia estar morrendo. Comparação bizarra.

Quando entrou na ala de emergência, tinha certeza que estava sorrindo. Caramba, precisava ir ao psicólogo. Será que tinham um ali?

As enfermeiras demoraram para trazer uma maca, então o ruivo passou um tempo nos braços alheios. Deu para reparar em outras coisas: o maluco tinha dentes de tubarão. Legal. Veja só, uma cicatriz no olho. Cicatrizes também são legais. Ele deve ter ganhado várias hoje.

Quando deitou o corpo na cama móvel, Katsuki reparou que estava sujo de sangue. Perguntou se poderia acompanhar, embora não se conhecessem. Ficar sozinho em um hospital não devia ser agradável. A enfermeira parecia prestes a negar, mas cedeu quando Bakugou sugeriu ligar para os conhecidos do garoto. O celular estava intacto, pelo menos.

O dia que atropelei o KirishimaOnde histórias criam vida. Descubra agora