Capítulo XXIV

129 8 2
                                    

- Você foi à casa de Mark no sábado?!

Germano demonstrava a sua decepção e indignação com Benjamin enquanto estavam sentados em um dos bancos da área externa da escola.

- Mesmo depois de tudo que eu lhe pedi?! Ele fez alguma coisa com você?

Na verdade, Benjamin não estava muito afim de discutir sobre aquilo novamente. Já tinha ouvido o que Germano tinha para lhe falar e não queria ter que escutar tudo aquilo novamente.

- Ele não fez nada comigo, Germano.

Eu acho..., Benjamin pensava.

O garoto lutava para se convencer de que realmente não acontecera nada no churrasco na casa de Mark.

Desde o domingo, um dia após a tarde do sábado, fragmentos fracos, porém significativos, de memória invadiam a mente de Benjamin, inundando-lhe com dúvidas e perguntas que se tornavam cada vez mais frequentes à medida que o tempo passava e o garoto pensava sobre o que de fato tinha acontecido na mansão de Peterson Pierce.

Ele não contara a Germano que ele não sabia (ou não lembrava) o que fez o rapaz ter uma intensa embriaguez, não queria dá mais uma razão ao rapaz para tentar convencê-lo de que Mark era uma péssima pessoa, mas não parava de tentar montar as peças do quebra-cabeça que foi a tarde de sábado.

As únicas coisas que ele sabia com certeza eram os fatos que ocorreram antes de ele tomar a bebida feita por Mark Pierce. Ele não lembrava de nada que sucedeu o gole final da sua caipirinha de limão, apenas memórias questionáveis que talvez a sua embriaguez tenha implantado em sua mente. Ele recordava de elogiar a mansão do homem; de tirar as suas peças de roupa e, apenas de sunga, mergulhar na piscina; de ver Mark colocando a carne no churrasco; de conversar com o rapaz sobre Peterson e sua personalidade violenta; e, a partir daí, as lembranças começam a ficar turvas, fato que fazia com que Benjamin não soubesse dizer se era realmente uma lembrança ou uma memória falsa que a bebida produziu.

Obviamente, Benjamin queria, mas não conseguia, eliminar de sua mente a ideia de que Mark havia batizado a bebida, de que ele havia lhe dopado. Não conseguia imaginar o seu tio de consideração fazendo aquilo: colocando algum tipo de droga para fazer o garoto ficar bêbado, tonto, enjoado, sonolento e grogue. Porém, infelizmente, uma memória, que Benjamin achara ser realista demais para ser apenas uma invenção de sua cabeça, contradizia esse achismo positivo sobre Mark: o garoto tinha imagens confusas em sua cabeça de sua visão rodopiante observando o fundo de uma pia prateada, com um copo de vidro no fundo; ele lembrava, com uma certa fidedignidade, o toque de dedos quentes em sua virilha, abaixando velozmente a sua sunga até encostar em seus calcanhares; ele lembrava toda uma mão, com aqueles mesmos dedos quentes, tocando em suas costas, forçando o tronco do garoto para baixo, fazendo encostar o seu peito naquele material gélido da ilha da cozinha; e, por fim, ele lembrava sutilmente de uma voz masculina sussurrando algo em seu ouvido.

Talvez seja apenas a minha mente tentando me enganar, Benjamin tentava se convencer, sem sucesso.

Ele se recusava a acreditar que Mark Pierce, um homem que ele admirava tanto, havia feito aquilo com ele. Isso se chegou a fazer alguma coisa. Afinal, Benjamin não lembrava de mais nada. O garoto estava uma confusão.

Ele não sabia em que voz de sua cabeça acreditar: naquela que gritava a inocência de Mark, tentando convencer o menino de que ele nem sequer viu o rosto do dono daquela voz e daquele toque quente, ou naquela que acusava Mark de uma tentativa de assédio, já que Benjamin lembrava muito bem de que, quando ele chegara na mansão, não havia mais ninguém além deles dois. Mesmo assim, inconscientemente, os seus ouvidos estavam levemente inclinados a ouvir a primeira voz. Afinal de contas, Mark Pierce era o seu tio, era um dos caras mais legais que Benjamin conhecia.

Benjamin e GermanoOnde histórias criam vida. Descubra agora