Seesaw

Único

Taehyung penteou os cabelos para trás, respirando fundo, olhou mais uma vez para o Rolex prateado em seu pulso, junto das pulseiras que tanto gostava de usar e que também eram lotadas de significados para si. O relógio marcava nove e meia da noite, mas ele já estava esperando a mais de uma hora e meia, sua paciência estava nos últimos resquícios e a comida que havia mandado trazer já deveria estar mais que fria, talvez não fosse exagero dele dizer que teria até virado gelo. No entanto, ele não conseguia mandar de volta pra cozinha e ir dormir, ele queria contar cada segundo, porque o monstro raivoso dentro de si pedia por isso, aquele monstro queria alimento para jogar na cara de Yoongi mais tarde.

Seria o terceiro encontro que o loiro deixava de ir por alguma razão e isso corroía Taehyung de dentro para fora. Aos poucos, ele sentia-se trocado por alguma coisa, sentia o amor esvaindo por suas mãos, a ausência de Yoongi era fria e nada acolhedora, estava ficando estranho amar alguém que parecia não estar ali com você nos raros momentos que estavam sozinhos; Yoongi, ultimamente, estava sempre com a cabeça nas nuvens e cada vez mais sem tempo para Taehyung, mas era realmente isso? Ele realmente estava sem tempo ou estava fugindo de Taehyung? Evitando sua presença, seus toques e até mesmo as suas mensagens.

Ele lamentava sozinho naquela suíte espaçosa, encolhia-se e tornava a lamentar pela solidão que o envolvia, pelos pensamentos negativos que rondavam a sua mente, causando estragos gigantescos, mas talvez reparáveis. O cansaço e o frio o atingiu e, então, ele adormeceu esperando pelo namorado.

Yoongi também dormia, lá no Genius Lab, com a cara no meio do equipamento enquanto uma música tocava no repeat. Ele estava dedicando cada um dos seus momentos livres para a música, mal saia para comer ou tomar banho, dormia ali mesmo e acordava pronto para continuar a produção de músicas, de modo incessante. O álbum exigia de si uma música que falasse sobre amor, mas Yoongi não era o tipo de pessoa que conseguia ou sequer sabia falar de amor de uma maneira sincera e aberta assim, ele queria evitar clichês e falar de um tipo de amor diferente, mas como compor sobre algo que você nem chegava perto de sentir? Não fazia sentido, ele sequer sabia como começar aquilo e por isso revirava horas e horas em seu covil, trabalhando em uma música.

O relógio do pequeno estúdio marcava duas e meia da manhã, Yoongi foi acordado com o toque incessante da campainha, o que o fez derrubar um dos fones no chão ao levantar a cabeça, abruptamente e levemente irritado. Quem ousava incomodar ele justo agora? Estava entrando em uma espécie de orgasmo do sonho.

— Que porra...? — xingou e caminhou até a porta, destravando ela apenas para encontrar Kim Seokjin com a pior das expressões possíveis, uma careta raivosa e braços cruzados. — Hyung...

— Você morreu aí? — questionou e farejou o ar, torcendo o nariz em seguida. — Meu deus, você tá fedendo!

— Obrigado, Seokjin, eu queria mesmo saber sobre meu odor, muito obrigado. Era só isso?

— Não sei como o Taehyung aguenta você, mas enfim...

O nome Taehyung fez Yoongi ficar parado, praticamente estático e então bater a palma na testa um milhão de vezes, xingando-se de todas as formas possíveis. Como ele podia ter esquecido do namorado, de novo?! Céus, céus, ele estava ferrado, fodido, muido, amassado, esmagado, estrangulado, sufocado e etc, não sabia o que a imaginação fértil de Taehyung poderia imaginar para seu destino, mas sabia que tinha tomado no cu e não era nem do jeito que gostava, longe disso.

Passou por Seokjin às pressas, correndo como se toda a sua vida dependesse de chegar ao quarto do mais novo, o que de fato dependia. Sua vida amorosa dependia disso, mas ao cruzar a sala espaçosa do apartamento, seus olhos encararam o relógio por breves segundos e ali soube que não adiantava toda a pressa, estava mais de oito horas atrasado, fedido, com fome e sonolento. Era o fracasso de namorado, realmente.