Esse sonho aparece toda vez que brota uma rosa do meu coração.
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Eu estava atravessando o rio no meio da vila, quando ela me engoliu todinha. Esse primeiro instante foi rápido demais para voltar atrás. Depois se transformou numa história fora da história. Eu disse que ela me lembrava uma outra pessoa, muito especial. Muito fria, mas muito quente também. Ela riu sem olhar nos meus olhos.
Passamos a hora seguinte sentadas conversando das flores que sempre caem naquele lugar, naquele horário. Não falamos da hora que vinha, era mau agouro. Eu passei o minuto seguinte beijando a sua mão. Ela passou a hora seguinte beijando a minha boca, até se levantar e ir embora. A hora se aproximava.
A noite estava linda, iluminada do chão às estrelas com tochas, como vagalumes laranjas gigantes em todo o céu. Quando eu a encontrei novamente, ela estava esperando por mim. Nós duas estávamos com tanta, tanta sede. As lágrimas se escorriam com a saliva, com o suor. Aquilo não existia mais em lugar nenhum. Quando nenhum. Só ali.
A hora se aproximava, e logo não estaríamos sozinhas. Mas se tínhamos algum poder, era esse: atrasar o resto do mundo só para que ela pudesse me amar mais um pouco. Eu tola, nunca poderia amá-la de volta.
A noite se tornou dia, e noite. Tanto poder, mas não era o suficiente. Ela me largou e começou a se vestir. Continuei pelada e chorando, sem forças para pegar numa arma sequer. Para levantar. Num momento ela estava ali, e no outro não estava mais. Mais uma rosa, são sempre rosas. Elas sempre vão embora, e eu nunca sei para onde. Nunca sei os nomes, as datas, nada. Nada nunca fica. Nada!
A eternidade não vale nada se não tem nome. Mas nenhum nome cabia nela, ou no rio, ou na espada, ou em mim. Nenhum. Mas toda vez que desencarnava, os malditos nomes apareciam. Nunca durante, só depois. Não é justo, nunca é. Só eu posso mudar isso.
– Você sabe que eu nunca consegui te amar? Da mesma forma que você não consegue se matar. – Ela fala, com sangue sobre todo o corpo. Toda a relva, todos os corpos. É sempre ódio e amor, ódio e amor. Falsa dicotomia inútil, baseada no desespero. Não me mergulhe nisso. Por favor. Isso é coisa de quem não tem história! – Você sempre descobre a verdade no final, mas nunca faz diferença. Nada que você faz é o suficiente, para você ou para mim. – Ela pega uma faca do chão e corta a própria garganta, e eu começo a gritar, mas não acordo; só durmo, de novo.
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Nosso mundo se torna atravessável em alguns minutos, cheio de milagres e tragédias que se explodem em labaredas em questão de alguns minutos. Como se o sonho não durasse dias, como se não tivesse que criar e recriar o mundo toda hora.
Tem sempre alguém por quem você se apaixona. Tem sempre alguém por quem você mata e morre, e alguém que mata e morre por você. Elas nunca são a mesma pessoa, e eu não poderia imaginar o inferno que seria se fossem.
Não me decido se cada era é uma história ou se todas elas são um capítulo, mas elas se atravessam. O amor reverbera, reencarnado toda vez, toda vez, toda vez, infinitamente, até o amor se tornar ódio, até o ódio se tornar o amor. Qual é a história? Qual é a história?
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Mariana. Eu amava a forma como eu falava o nome dela, e o meu nome parecia quase digno na boca dela. Aquela boca vermelha, com aqueles lábios brilhantes. Os olhos, enormes, que eu tenho que implorar para me ver. Mas nunca é o suficiente, e eu logo esqueço tudo.
Eu a encontrei no topo da montanha.
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– Nada que você faz é o suficiente, Carina. Para você ou para mim. – Ela pega uma faca do chão e corta a própria garganta, e eu começo a gritar, mas não acordo; só durmo, de novo. Carina.
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Historia CortaUm conto redundante de mil novecentas e oitenta e seis palavras (ou mil novecentas e setenta e uma, de acordo com o Wattpad.)