Past ghosts

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Acordei cedo na segunda-feira. Minha noiva - eu ainda não tinha me acostumado com a novidade - dormia tranquilamente ao meu lado. Sim eu tinha dormido na sua cama, com minhas irmãs dentro de casa mesmo, e não precisei esconder nada de ninguém. Acho que o pedido de casamento de Sofia resolveu as coisas, porque elas apenas olharam feio quando dei boa noite e entrei no quarto errado, e nenhum julgamento ou bronca foram proferidos. Eu seria a Sra. Oliveira e mal me aguentava em pé de tanta felicidade. Até que para alguém afirmando que jamais pisaria no tapete vermelho novamente, eu estava muito animada. Passei o domingo inteiro discutindo lugares e cores de toalhas de mesa com a minha nova cunhada, agora oficialmente.

Sofia desejava que o casamento fosse em breve, mas eu estava em dúvida. Eu não sabia se queria casar grávida, pois não sabia se caberia em algum vestido, ou se esperaríamos a bebê nascer (mas provavelmente eu continuaria sem caber em um vestido decente). Ou seja, se eu casasse grávida, pelo menos os convidados não poderiam me chamar de gorda - não na minha cara, já que eu teria motivos para tal.

Embora eu não quisesse, tive que levantar da cama, pois Renata me buscaria em meia hora para me levar a um exame de sangue. Empurrei as cobertas e fui para o chuveiro. Assim que ela me ligou, desci para encontrá-la.

- Bom dia, Isabele - cumprimentei contente, quando o elevador parou no 4 andar.

- Vejo que você ainda está aqui - respondeu, sorrindo falsamente. - Ela ainda não lhe deu o fora - constatou.

- Pelo contrário. - Isso seria lindo. - Ela me pediu em casamento! - anunciei, levantando a mão para lhe mostrar a aliança, e saí do elevador sem olhar para trás quando chegamos ao nosso destino. Entrei às gargalhadas no carro de Renata.

Quando já estávamos chegando ao laboratório, me dei conta de que tinha esquecido o cartão do plano de saúde em casa e tivemos que voltar para buscá-lo. Ainda bem que os exames laboratoriais não eram feitos com horário marcado.

- Sobe correndo - disse Renata, estacionando em frente ao prédio. - Eu espero aqui.

Como se eu conseguisse correr com essa barriga... É claro que ela ainda não estava imensa, mas agora eu vivia fazendo beicinho por tudo e usando minha filha para o mal. Ontem eu tinha feito Sofia sair às três da manhã para procurar um pastel de brigadeiro para mim. Óbvio que ela não encontrou, e por isso teve que comprar a massa e fazer o brigadeiro. Eu só a deixei dormir depois que devorei quatro pastéis tamanho família, horas depois.

Entrei no apartamento e corri para buscar a carteirinha. Quando estava saindo do meu quarto, ouvi uma voz diferente vinda do quarto de Sofia e aproximei o ouvido da porta para escutar melhor. Não tive dúvidas de que não era a voz dela. Entrei sem bater (logicamente), pronta para matá-la, mas a cena quase me fez cair de joelhos.

Isabele estava nua sob os lençóis em que eu havia dormido, e suas roupas estavam espalhadas pelo chão do quarto. Quando me viu ela não fingiu surpresa, apenas sorriu e cobriu os seios com as mãos, enquanto puxava o lençol para cobrir o resto do corpo.

- Eu te avisei! - disse-me, piscando seus longos cílios.

O chuveiro estava ligado; provavelmente Sofia tomava banho após ter transado com ela. Eu me sentia suja, mesmo sendo ela quem estava nua na cama de uma mulher comprometida. Não me dei ao trabalho de respondê-la, apenas me virei para sair.

- Você ainda não aprendeu que ela sempre faz de boa moça para você, mas acaba na cama comigo? Não foi diferente da última vez.

- Do que você está falando? - questionei.

Embora todos falassem, eu nunca tinha visto a curiosidade matar um gato. Sua cara de vitória me dava vontade de pular sobre a cama e agarrá-la pelos cabelos.

The Girl With Red HairOnde histórias criam vida. Descubra agora