Capítulo sete

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Júlia


— Não, Júlia, você não será contratada como babá. Vai assumir o meu cargo, já disse.

Por mais que Taís insistisse naquilo, ainda me soava suspeito. Contudo, nem precisei pressioná-la muito até que ela confessasse:

— Vamos precisar que cuide da menina por alguns dias, mas só por alguns dias, enquanto procuramos por uma babá e uma creche. Mas fique tranquila, você receberá um adicional por esses dias de dupla função.

Sabia! Olhei por um momento para a bebezinha que dormia bem no centro do sofá-cama e meu coração se aqueceu. Oras, não seria nenhum sacrifício ter que cuidar dela por alguns dias. Mas tinha o treinamento, que deveria ser realizado junto com o trabalho, e em meio a isso ainda cuidar de um bebê? Como eu daria conta?

Parecendo ler meus pensamentos, Taís me tranquilizou:

— Desmarquei quase todos os compromissos da semana do doutor Théo, excluindo uns dois ou três que eram inadiáveis. Então ele praticamente só fará trabalhos internos durante essa semana, o que vai diminuir a carga de trabalho. Estarei meio presa tentando resolver questões da Gabriela. Consegui comprar um berço para ser entregue e montado ainda hoje, mas tem milhares de outras coisas que um bebê precisa e que terei que providenciar. Também vou fazer entrevistas com candidatas à função de babá, procurar por uma creche, dentre outras coisinhas. Em meio a isso já vou te passando algumas coisas do trabalho, mas você terá que se dedicar basicamente mais à menina. Na semana que vem tudo isso estará resolvido, e daí iniciarei o seu treinamento de fato. Tudo bem?

De tudo o que ela disse, uma informação tinha ficado retida com mais força na minha mente.

— É Gabriela o nome dela?

Taís sorriu, demonstrando simpatia.

— É. Gabriela.

— Fiquei me perguntando como ela se chamaria. O doutor Théo só a chamava de 'menina'.

— Gabriela é o nome da mãe dele. Logicamente, também mãe da mãe da bebê. Se vai trabalhar com o doutor Théo, assumindo o meu cargo, é bom que conheça um pouco a respeito dele. Ele era ainda uma criança quando perdeu a mãe para uma doença. Anos depois, o pai e a madrasta morreram em um acidente de carro. E agora, como acho que você deve ter conseguido entender da situação, a irmã mais velha dele, mãe da bebê, também morreu.

Assenti. Não mencionaria o fato de não ter captado aquilo apenas pela situação, mas através das fofocas trocadas pelas moças da recepção, com isso sabia não apenas que a tal irmã havia morrido... mas que havia sido assassinada. Algo horrível. Eu não podia sequer imaginar o tamanho da dor que deveria ser perder alguém amado de uma forma tão brutal.

— Para um menino rico, ele teve muitas perdas na vida — ela completou. Percebi a forma como falava a respeito dele. Havia sentimento ali, mas nada que soasse como carnal. Apesar de não aparentar ser tão mais velha que o patrão, Taís parecia ter um carinho quase que maternal por ele.

— Dinheiro não compra tudo, afinal — completei. Poderia parecer uma frase pronta e clichê, mas era algo em que eu realmente acreditava. Doutor Théo claramente não me parecia um homem feliz, no fim das contas.

Talvez a pequena Gabriela fosse capaz de trazer um pouco de felicidade para ele.

— É, não mesmo. Mas compra bastante coisa, e por falar nisso, precisamos comprar algumas coisas para deixar por aqui. Itens de higiene, pratos, copos e talheres próprios para um bebê, uma banheira, toalhas... Hm... roupas o doutor Théo disse que trouxe muitas da casa da irmã, vou pedir para ele trazer amanhã para deixarmos uma parte aqui. Anda, me ajude. Pode fazer uma lista?

As Leis do Amor - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora