DEZESSETE

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— Tem certeza de que não aconteceu nada? — Pergunto, lutando para que minha voz não saia num tom de desespero. — Nenhuma gota caiu? Nada?

— Confie em mim — Maven diz, não tirando os olhos do caminho. — Ninguém viu nada. E se tivessem visto seu sangue, tenha certeza de que um pandemônio teria acontecido na hora.

Suspiro, aliviada. A perspectiva de meu disfarce ainda continuar intacto me acalma de maneira doentia. Mesmo tendo demonstrado tamanha força e poder naquela mini-arena, eles me matariam caso eu sangrasse apenas uma gota do meu sangue vermelho. Então resolvo acreditar cem por cento nas palavras de Maven. Arven chegou muito perto de nós depois da luta. Perto demais para ver nossas feridas e hematomas. O instrutor não falou nada, sequer suspeitou de algo.

Acho que a derrota de Cal foi o bastante para convencê-lo de que realmente sou uma ardente.

Falando no príncipe herdeiro, Cal não quis nos acompanhar. Resolveu ficar junto de Evangeline e o resto do grupo. Não penso que seria por causa da luta. Ele é um soldado. Soldados, querendo ou não, tem que se contentar com uma possível derrota quando não há mais chances de vencer. Mas imagino que essas derrotas são raras para Cal, que é um lutador nato.

Não sinto inveja. Apenas o medo invade meu corpo quando damos de cara com a pessoa que eu menos queria ver hoje. Empacamos no caminho assim que Elara aparece.

— Algum problema, querido?

Usando sua típica seda, a rainha Elara se aproxima de nós. Sem sentinelas, sem proteção — não que ela precise. Parece um fantasma elegante, meticuloso e poderoso. Seus olhos azuis estão cravados sobre nossas mãos enlaçadas; penso que irá invadir meus pensamentos, revirar cada pedacinho meu novamente.

Mas não sinto nada. Não sinto minha mente ser remexida e moldada pelo poder de Elara. Por incrível que pareça, é Maven que está tendo a cabeça revirada pela rainha, não eu.

— Nada que eu não possa resolver — Maven responde, seco. Ele segura minha mão com mais força. Não dói tanto, mas me causa um certo incômodo mesmo assim.

Elara franze o cenho, não acreditando em nada do que o filho diz. Ela não precisa perguntar. Num piscar de olhos, sem abrir a boca e sem esforço algum, a rainha pode ter todas as respostas que precisar.

— Melhor se apressar, Lady Raven, ou vai se atrasar para o almoço — ela me encara, enfim. Sinto os pelos da minha nuca se arrepiarem com esse gesto. — E tome mais cuidado nos seus treinamentos. É difícil tirar manchas de sangue vermelho.

Cerro os punhos, me soltando de Maven. A raiva fervilha dentro de mim.

— Pare de me chamar assim — minha voz sai sobressaltada. Não sei o que está acontecendo comigo hoje. — Acha que vou abaixar a cabeça e ficar seguindo suas ordens como uma cadela submissa?

Elara arregala os olhos, surpresa com a minha estranha explosão. Até eu estou. Meus sentimentos estão tão confusos que a ousadia consegue ser posta sobre o medo de ter a cabeça decepada. Ninguém nunca a respondeu desta maneira, visto que uma vaga sensação de júbilo toma conta de mim. Em vão.

Meu corpo, de repente, é empurrado para trás, sendo prensado na parede. De maneira maquinal e não-natural, meus pés se movem sozinhos, como uma dança desajeitada e fora de sincronia. Meus ossos doem, meu pescoço estala e posso ver estrelas azuis refletirem diante dos meus olhos. Não são estrelas. São os olhos de Elara.

— Mãe! — Maven grita, desesperado. Sua voz ecoa distante. — Mãe, pare!

Uma mão se fecha ao redor da minha garganta. Posso sentir suas longas unhas cravarem em minha pele. Ela não pode... Não agora...

A Mais Forte (What If...?/AU) [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora