Pandemia do COVID-19: do privilégio ao egoísmo

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Hey, pessoas, tudo bem?

Eu fiz um texto pra uma aula da faculdade e gostei bastante dele, então queria compartilhar com vocês, relacionei a pandemia com o filme "O Poço" e mais umas coisinhas.

Leiam e comentem, por favor 😁

(Texto escrito em 02/07/2020).
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No início de “O Poço” – filme espanhol original da Netflix, muito comentado neste ano, sobre uma espécie de prisão vertical, na qual a comida é distribuída de cima para baixo, fazendo com que as pessoas que estejam nos níveis mais altos possam comer à vontade, e em contra partida, as que estão nos mais baixos passem fome – assim que Goreng desperta em uma cela compartilhada com um senhor, a primeira informação que recebe é a de que existem três classes de pessoas, as de cima, as de baixo e as que caem. Tal afirmação pode causar certo impacto, porém não é necessário refletir muito para notar que a mesma é extremamente pertinente, principalmente no contexto atual da pandemia do COVID-19 e, sobretudo no Brasil. (O POÇO, 2019).

A divisão de pessoas por classes sociais – em um cenário no qual parece que todo o globo terrestre está ligado pela tecnologia – aparenta ser uma concepção ultrapassada, no entanto, neste século, a desigualdade social nunca se fez tão evidente quanto nos últimos meses, e isto se deve a pandemia do novo coronavírus. Prova disso é que se tornou comum ver pessoas da classe alta, nas redes sociais, com o discurso de que a quarentena é um período ótimo para começar uma rotina de exercícios, aprender uma língua nova e até mesmo fazer um curso, enquanto uma porcentagem esmagadora da população não pode ao menos se dar o “desfrute” de ficar em isolamento, pois tem a necessidade de trabalhar para manter sua família, mesmo que isto signifique arriscar sua saúde.

O termo “classe social" citado acima foi bastante disseminado nas correntes de pensamento marxistas e, embora Karl Marx não tenha chegado a descrever sua definição, focando na aplicação da mesma ao determinar duas classes sociais, a burguesia e o proletariado, tal teórico é de extrema relevância, pois seus estudos possibilitaram o entendimento deste conceito, mostrando que a sociologia auxilia na compreensão desse e de outros fenômenos sociais, como a desigualdade, que está intrinsecamente relacionada ao surto de coronavirus. (GROHMANN, 2013).

Referente a desigualdade, pode-se usar como exemplo a nova propaganda do MEC, que sugere que mesmo em meio ao isolamento social, uma geração de médicos não pode ser perdida, então é necessário que se faça o ENEM 2020, estudando de qualquer lugar e de diferentes formas, com as ferramentas que se tem, como internet e livros. Mas a grande questão é: são todos que têm essas ferramentas? Anteriormente foi dito que o globo aparenta estar todo conectado, porque realmente só aparenta, já que, segundo a Folha de São Paulo (2020 apud DUVIVIER et al., 2020), 1/3 da população brasileira não tem acesso a internet e 30% nunca comprou um livro, significando que o MEC não pensou no Brasil todo para programar uma prova que deveria garantir o ingresso de estudantes sem condições financeiras em instituições públicas. E talvez não seja espantoso pensar que alguns estudantes tenham privilégios sobre outros devido a melhor educação ofertada por escolas particulares e a possibilidade de pagar por cursos pré-vestibulares, porém, o que choca é ouvir de Abraham Weintraub, ministro da Educação, que o Enem realmente não é 100% justo, que só os mais qualificados e inteligentes são selecionados, escancarando assim a desigualdade e o privilégio, além de demonstrar certo egoísmo ao não pensar na maioria. (DUVIVIER, 2020).

Tal egoísmo é muito descrito no filme “O Poço” já abordado, uma cena que o representa bem é quando o protagonista pergunta para o colega de cela o que eles vão comer no Poço, e o senhor responde “é óbvio, as sobras do pessoal lá de cima". Trazendo essa frase para a realidade, é claro que a maior parte da população brasileira tem que se virar com os restos de quem está em cima, quando um hospital como o Albert Einstein, um dos mais caros do país, é considerado, de acordo com o Decreto N° 2.536 (1998 apud DUVIVIER et al., 2020) uma unidade filantrópica, não pagando impostos e recebendo verbas destinadas ao SUS por, na teoria, oferecer 60% de seus leitos para quem não pode pagar, quando na prática não o faz. E isso não é questão de privilégio, mas sim de egoísmo e falta de responsabilidade social, pois essa unidade de saúde usufrui de verba pública sem pensar na falta de leitos em hospitais por todo país e na sobra que há no seu. (DUVIVIER, 2020; O POÇO, 2019).

Desta forma, a crítica apresentada não é em relação ao privilégio, mas sim ao o que é feito dele, a consciência de classe se faz indispensável em meio a esta pandemia, para que não haja egoísmo, estoque não só de comida, mas também de dinheiro. Infelizmente, não vejo essa consciência sendo fomentada num cenário pós-pandemia, pois assim como o Poço não alcançou a solidariedade espontânea que tanto queria, suponho que o isolamento social também não irá alcançar. Outra lição desse filme incrível é que se todos comessem apenas o que precisam, a comida chegaria ao nível mais baixo, e quiçá o mundo possa ser mais justo, quando quem está lá em cima se conscientizar disso e criar uma noção de responsabilidade social. (O POÇO, 2019).







REFERÊNCIAS:

DUVIVIER, Gregorio et al. Greg News – Desvio na Saúde. YouTube, 2020. Disponível em: <https://youtu.be/B2XqF3aWobA>. Acesso em: 2 jun 2020.

DUVIVIER, Gregorio et al. Greg News – ENEM. YouTube, 2020. Disponível em: <https://youtu.be/orQ0rX-emoQ>. Acesso em: 2 jun 2020.

GROHMANN, Rafael. O conceito de classe social no marxismo: correntes e atualidade. Florianópolis, 2013. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.5007/1984-8951.2013v14n105p3>. Acesso em: 2 jun 2020.

O POÇO. Direção de Galder Gaztelu-Urrutia. Espanha: Netflix, 2019 (94min.). Disponível em: <https://www.netflix.com/br/title/81128579?preventIntent=true>. Acesso em: 2 jun 2020.

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⏰ Última atualização: Jul 11, 2020 ⏰

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