Capitulo 10

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-Eu pedi a porra de uma bancada de mármore, não de granito. - digo para o fornecedor que resmunga do outro lado da linha, não era a primeira vez que ele mandava material errado e eu já estava perdendo a paciência que eu nem tenho com ele.
-Vou mandar a bancada certa, só vai ter um cus...
-Não diga a palavra custo ou eu abro um processo contra você, eu quero essa bancada hoje.
-Certo, hoje.
-Hoje é dia 25, não amanhã dia 26, entendeu?
-Sim, sim.
-Passar bem. - desligo o telefone e guardo no bolso. -Bem mal.
-Removemos a bancada? - o mestre de obras pergunta.
-Sim, remova com cuidado e mande para o depósito, pode ser útil no futuro.
-Certo. - ele assobia e cinco pedreiros se aproximam. - Você tem que trocar esse fornecedor.
-Eu queria, Seu Mário, Deus sabe como eu queria, mas ele infelizmente é cunhado do manda chuva.
-Iiiii, então vamos ficar com ele por um bom tempo.
-Coloca tempo nisso. - olho uma última vez ao redor. -Como sempre o senhor comandou perfeitamente bem essa obra, está tudo certo, quer dizer quase tudo.
Olhamos para a bancada que estava sendo removida. Minha vontade é de tacar essa bancada na cabeça do Rômulo e de seu cunhado.
-Obrigado, você como sempre fez um ótimo projeto.
-O que seria de mim sem vocês para colocar em prática? Bom, eu tenho que ir, temos reunião geral hoje para fazer o levantamento de todos os projetos. Adios! - aceno para todos presente que me respondem.
Entro no meu carro e o ligo, a música Vapo Vapo da Mandragora invade os autos-falantes enquanto sigo pelas ruas em direção a construtora.
Seu Mário foi um dos mestres de obra mais turrão que eu já tive, ele pegava no meu pé até, e as vezes chegava a ser extremamente rude, mas com o passar do tempo mostrei meu valor para ele, mostrei que sabia o que estava fazendo e acima de tudo, sabia o que eles estavam fazendo.
Meu pai gostava de reformar casas e eu sempre mostrava interesse, no começo como uma forma de ficar próxima dele, depois que eu peguei o amor pela arquitetura o que era só para ter a atenção do meu pai se tornou verdadeiras aulas de como é a formação de uma casa e edifício.
O projeto é importante, super importante, mas sem os pedreiros e mestres de obra colocando o projeto em prática ele seria só mais um pedaço de papel, só mais um sonho.
Por isso sempre respeitei minhas equipes, mostrei para eles que apesar de ser formada em arquitetura que para muitos deles é: "só fazer uma desenhinho", eu também sabia fazer uma massa de reboco, um contrapiso, fazer o escoramento de uma laje, já ajudei em várias obras, colocando literalmente a mão na massa.
Entro com o carro em direção ao estacionamento para funcionários e  vejo uma vaga perto do elevador, o que é um milagre, estaciono, desligo o carro e pego minha bolsa descendo em seguida.
Mais uma maldita reunião em que vou ter que aguentar os olhares nojentos de Rômulo. Ed, Helena e eu já vimos para entrar com um processo de assédio sexual contra ele, mas infelizmente não tenho provas, e acima de tudo, ele é influente, muito influente, influente do tipo que faz coisas erradas.
Quando aceitei o cargo, Luís disse para mim que eu ia ter que fazer uma escolha muito importante, uma escolha que ia poder mudar minha vida completamente e que acima de tudo, ia por a prova o meu caráter, na época não entendi muito bem, até que com o passar do tempo e com o acesso a todos os projetos da construtora eu entendi o que Luís me disse.
Rômulo tinha um esquema de super faturamento de obras de prefeituras não somente do Estado de São Paulo, ele escolhia arquitetos específicos da construtora para participar do esquema, os que não aceitavam ficavam designados para os projetos "normais", os que aceitavam eram exclusivos para obras públicas.
-Ah, que bom que você chegou minutos antes da reunião. - Carol se materializa na minha frente depois de dois passos que dou para fora do elevador.
-Chora.
-O projeto de piranha disse para o Rômulo que você recebeu flores do Pietro. - olho para o rosto dela e semicerro os olhos.
-Pietro, é? Desde quando tem essa intimidade? - ela me olha por uns segundos e depois gargalha alto.
-Você está com ciúmes? - paro por um momento, ciúmes? Eu? Lia Carter? Não! -Você não escutou o ponto principal, Lia, deixe o ciúmes para depois...
-Eu não estou com ciúmes!
-O Vade retro está uma fera, ele já esbravejou até a alma.
-Quando ele não está uma fera? Acho que até dormindo ele é o cão.
-Isso é verdade, mas você não está entendendo, a Isabel disse que o rival da construtora mandou um puta buquê para você.
-E? No contrato que eu assinei não tinha nenhuma cláusula que me proibia de ter relacionamento com quem quer que fosse. Agora vamos.
Sigo em direção a sala de reuniões, escuto os gritos de Rômulo e reviro os olhos. O projeto de piranha que me "dedurou" é a responsável pelo esquema de Rômulo, ela me odeia desde que eu era uma simples estagiária, ela tinha certeza assim como todos que quando Luís saísse do cargo de arquiteto chefe quem assumiria era ela, já que diferente de Luís ela estava no esquema e isso facilitaria, mas Rômulo tinha outros planos.
-Boa tarde. - pronuncio e caminho para a ponta oposta da grande mesa com Carol no meu encalço.
-Boa tarde. - todos respondem.
-Podemos começar? Eu quero todos os projetos que vão ser entregues mês que vem. - me sento na cadeira e Carol senta na cadeira que fica atrás de mim.
-São só cinco projetos, Lia. - um dos engenheiros se pronuncia. Pego as pastas e olho para as plantas, orçamento e fotos de como tudo está.
-Novos projetos?
-Estamos com 15 projetos novos, por enquanto.
-17 projetos, temos dois projetos públicos. Um de Araraquara e outro em Barueri. - Isabel pronuncia.
-Ok.
A reunião segue normalmente com todos olhando e opinando sobre cada um dos projetos. Ao final da reunião Rômulo se levanta chamando a atenção de todos.
-Fui informado sobre algo que gostaria de esclarecer na frente de todos. - olho para Carol. - Soube que a Senhorita Carter está mantendo contato com o...responsável...
-CEO. - o interrompo. - CEO da companhia Di Santis. Mais alguma coisa?
-É verdade?
-Sim, mais alguma coisa? Ou já posso encerrar a reunião.
-Você não pode fazer isso! - ele grita assustando a todos os presentes.
-Eu não o que? - franzo o cenho e o encaro. - Olha aqui Rômulo, minha, presta bem atenção nessa palavra, MINHA vida pessoal não diz respeito a minha vida profissional, você é meu chefe, chefe equivale a profissional, relacionamento equivale a pessoal. Então não venha aqui no meio de uma reunião importante envolver minha vida pessoal, se está preocupado com roubo de clientes ou o caralho a quatro, não se preocupe eu prezo pelo meu nome, pela minha carreira, e não acabaria com ela fazendo isso. Agora se tudo foi esclarecido, estão dispensados. - as pessoas vão levantando, caminho em direção a porta e saio.
-Você deixou ele sem palavras. -
-Carol, minha flor, eu posso estar presa a esse emprego, mas eu nunca que deixaria um homem, principalmente meu chefe, ditar o que eu posso ou não fazer da mim vida.
-Uiiii.
-Certa é tu que gosta de mulheres infelizmente nós não podemos escolher nossa opção sexual. - entro na minha sala e me sento na cadeira. Tinha algumas horas de trabalho antes do jantar na casa dos meus pais.

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