SÉLLON - Saga Rajadas de Vento - Parte II

🔱 Alojamento 🔱

Ouvi meu pai e Lim falarem sobre esse lugar, monumento colossal de mortes.  É confuso para mim ficar dividida entre querer voltar para casa e assumir essa natureza, no entanto eu já estava satisfeita com o duelo contra Richard.

--- Cuidado para não estourar essas veias, não gosta das mãos ou o que?  --- disse outra garota que vinha atrás de mim na fila.

--- Oi fiquei nervosa só isso. --- falei.

--- Acabou de sair da arena é bom ter em mente uma coisa... uma hora vai ter que escolher, reprimir ou agredir.

--- Você ja escolheu? --- perguntei.

--- Te conto quando chegarmos no alojamento.

O percurso fugiu da minha compreensão tendo em vista meu cansaço, ouvia baixo a respiração de alguém próximo de mim.

--- Sorte a minha que você é leve, assim não deu trabalho te trazer até o quarto. --- a mesma garota que fora legal comigo na arena, sem as marcas vermelhas de sol no rosto.

--- Eu to me sentindo assim desde que aterrissei.

--- Você o que? --- seus olhos fixaram em mim.

--- Desde que cheguei. --- tentei me corrigi --- em Têrcy falamos assim. --- desdenhei.

--- Ah meu Quartzo dourado!!! Falou isso para mais alguém sobre ser desse distrito com a letra T?

---  Não, qual o problema?

--- Na arena a galera que chega dos distritos do sul são eliminados primeiro e acabam por não aparecer nas demais etapas, se é que me entende. ---  levantei me rápido como quem é alfinetado, corri até a porta do alojamento para reparar se estava trancada.

--- E você vai me entregar? --- firmei os pés no chão dependendo da resposta dela nós teríamos problemas.

--- Deveria mas eu também não sou bem vinda aqui, estou atrás de uma passagem fácil para o décimo primeiro distrito. --- relaxei os ombros ao ouvir isso.

--- O que quer dizer com passagem fácil? Se eu fosse você ficava longe de Onzier, Albert Kinger não é muito diferente do Armendáriz.

--- Falando assim parece que os conhece bem. --- não demorou para a moça benevolente começar a me sondar.

--- É o que todos dizem. --- falei meio rude

--- Já que estamos no mesmo alojamento, e somos indesejadas aqui correndo o risco de fatalmente desaparecer... --- achei que ela não iria parar de tagarelar a ponto de tentar me convencer. O corte curto de cabelo deixou escapar uma marca sobre a pele morena, na altura do pescoço.

Símbolos eram comuns entre mercenários, membros da elite ligados inteiramente ao Conselho e clãs, a pessoa usava a marca para barganha entre desafetos. E a garota na minha frente não me parecia ser nem uma coisa nem outra contudo lembrando me das poucas mulheres na fila na saída da arena, esta veio para esse alojamento junto comigo. Ela estava lá por acaso ou...

--- Para de falar sobre como estamos derrotadas, isso não faz sentido. Você não é uma lutadora como as outras mulheres que vi na arena. Estava lá por algo mais... me diz,  sabia que eu apareceria? --- fui em sua direção apontando lhe dedo frente ao nariz.

--- Cala boca você menina! Trouxe você para cá, te tirei daquela confusão... estava mais atordoada que uma ave em cativeiro. --- continuava sem conter a língua saindo do meu campo de ataque.

--- Obrigada, é tudo que eu tenho para te dizer. --- caminhei até a porta.

--- Para, para! --- disse ela. Esperei ela falar mais alguma coisa para só então eu lhe dar a devida atenção. --- Eu também ficaria desconfiada mas não faço isso de caso pensado. --- Ela veio até mim.

--- Então o que acontece? --- desviando os olhos de mim passou a minha frente me tirando da entrada.

--- É como se a sua raiva me atraísse, não teria que me contar nada para que eu tivesse certeza. --- encolheu se outra vez ao gesticular.

--- Conheço  alguém que sofre com esse meu problema. --- desabafei lembrando de Salim. --- Nossa, você deve ser mais furiosa que eu.

Não sei quão estranho soou no entanto vi um sorriso tímido sobressaindo em seu rosto.

--- Amigas? --- ela falou de repente após um minuto.

--- Amigas!