Prólogo

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A noite estava clara, graças às raras nuvens no céu e a brisa leve. O clima era fresco, na estrada de San Diego, ao lado de Tijuana.

Naquele momento, as pessoas já estavam adormecidas;
Famílias, animais, andarilhos e caminhoneiros.

Exceto uma adolescente com cabelos azuis. Ela pilotava pela estrada com uma moto "emprestada", quebrando o almejado silencio com o barulho do motor.

Se sentia tão incontrolável quanto o mar, uma força da natureza, quebrando as expectativas e padrões que tinham para a vida dela.

Seus pais se conheceram e ficaram juntos em apenas uma noite, intensamente apaixonados. E então, seu pai foi trabalhar por entre as ondas e desapareceu. Todo mundo já sabia o que havia acontecido, o homem estava morto. Em meio ao luto, a mulher descobriu-se grávida. Como não estava bem, caiu em depressão e álcool.

Quando Suzan, nasceu, ninguém ficou alegre ao ver os cabelos dela, não eram loiros iguais os da mãe, nem pretos como eram os do pai. Suzan nasceu com um azul intenso, um azul cobalto. Era tanta estranheza que presumiram ser um agouro, a cidade inteira, incluindo a mãe, passaram a odiar a pequenina. Exceto por receber broncas a garotinha ficava sozinha. E quanto mais sozinha ficava, mais descobria sobre si mesma e o que tinha: Poderes que, assim como o cabelo, era apenas dela.

Com o veículo subitamente desacelerando, Suzan, se atentou ao presente. Conseguiu ir para o acostamento antes da motocicleta parar de vez. Pisou com força no asfalto empoeirado, emporcalhando seu tênis preto, agora marrom. Suzan se agachou agilmente procurando o defeito da moto.

— Droga! Droga! Droga!!! — essa porcaria está completamente em pedaços, já estava assim quando peguei essa lataria?! — CARALHO! PORRA!!! — gritou em um só folego, com toda sua raiva. Depois, riu sadicamente, pensando: com este grito, será que alguém me ouviu? — Era um pensamento engraçado, inútil. Não mudaria em nada, pois, a este ponto, ela sabia que se deuses existissem nunca se importariam com ela.

Levantou-se em um pulo, chutando o objeto ainda revoltada. O objeto não tardou a cair e levantar o pó acumulado no asfalto.

Colocou as mãos no bolso de sua calça jeans, em sua bunda, enquanto se afastava do veículo. Estou mesmo louca, fora de mim. Como se deuses pudessem sequer existir. Que piada! Parou quanto notou que era apenas o nervosismo a consumindo. Tateou os bolsos de sua jaqueta, procurando cigarro. Não achou nenhum. Apenas tocou em suas adagas, uma em cada bolso embainhadas, sem a trava. Virou encarando a moto, se aquela lata tivesse durado apenas mais um pouco... Pensou Suzan enquanto sua respiração se alterava. Poderia ter finalmente chegado nele. Voltou a atenção na respiração e se forçou a desacelerar. Respira...

Virou de costas para a moto, encarando aquele muro enorme que a separava do garoto que ela pressentia. Havia apenas um jeito agora dela atravessar aquele lixo, e seria a pé. Assim, caminhou lentamente pela estrada, analisando as estrelas desaparecerem ou a paisagem mórbida.

Parou apenas quando sentiu borboletas no estômago, se atentando aos arredores. Percebeu logo duas velhas sentadas confortavelmente em uma rocha, uma do lado da outra. Elas observavam Suzan, como se estivessem esperando por ela. Ambas usavam vestidos, chapéus com panos cobrindo o rosto e luvas cobrindo as mãos.

A senhora da esquerda. Tinha um vestido escuro, provavelmente vermelho, com algumas rosas cinzas estampadas. A renda e o chapéu eram pretos, assim como as luvas. Enquanto o vestido da mulher a direita, possuía um vestido com um tom azul índigo, estampado com algumas orquídeas, suas luvas, ceda e chapéu eram brancos.

— Está perdida, querida? — a senhora da esquerda declarou, com uma voz falsamente trêmula.

Suzan não queria responder. Aquelas... Coisas, obviamente só estavam fingindo serem humanas. Mas ou ela enrolava para se preparar, ou lutariam agora mesmo. — Vocês parecem mais perdidas que eu. Não tem nada para pessoas da sua idade aqui. — Disse em um tom debochado, discretamente colocando as mãos no bolso da jaqueta para poder segurar o cabo de suas armas.

Nem Tudo É AzulOnde histórias criam vida. Descubra agora