Palavras Doces

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  Suas mãos tremiam, igual aos seus lábios que estavam comprimidos por não conseguir dizer uma só palavra. Segurava em suas mãos alguns papéis na qual teria que ler na frente da sua sala toda, de pé, em frente a lousa. Seus ombros estavam tensos, olhos lacrimejando e a vontade de sair correndo e se esconder era o que mais queria naquele momento. Como diabos ele foi parar naquela situação constrangedora?

  Tinha feito um trabalho da escola, na qual descobriu que alguns alunos iriam ter que apresentá-los em público. Havia cogitado a ideia de que ele jamais seria escolhido para tal, mesmo tendo feito um ótimo trabalho, todavia, ele foi o primeiro a ser selecionado pelo seu sensei. Tentou, e como tentou lutar contra isso, pedindo diversas vezes para outra pessoa se apresentar em seu lugar, mas quando foi ameaçado de tirar zero por seu trabalho tão bem feito, acabou engolindo tudo e foi para o centro da sala. Agora ele estava ali, já fazendo mais de dois minutos onde estava apenas parado, prestes a ter um de seus surtos de vergonha.

  Podia ver algumas pessoas rindo baixinho pela sua covardia, enquanto outros cochichavam entre si. O seu sensei apenas aguardava pacientemente, encostado em sua mesa enquanto anotava em seu diário alguma coisa, provávelmente o quanto Hitoshi havia sido covarde o bastante para tirar um zero bem redondo. O desespero finalmente bateu em sua cabeça, o fazendo finalmente soltar as suas lágrimas de pavor e constrangimento. As risadas alheias foram ouvidas, o que o fez abaixar sua cabeça, molhando o seu tão belo trabalho no qual passou noites fazendo. Se sentia humilhado, fracassado e sendo o que ele mais temia: motivo de piadas e risos.

  Seu sensei pegou os papéis de sua mão delicadamente, os colocando em sua mesa. Dava para perceber a decepção em seu olhar, afinal, o seu melhor aluno não conseguia sequer apresentar um mísero trabalho em sua sala de aula, quem dera para uma escola inteira!

- Shinsou, eu ainda vou avaliar seu trabalho, mas saiba que irá tirar menos do que o necessário por não tê-lo apresentado. - Não, por favor, não diga isso em voz alta! - Sinto muito.

  E mais uma vez, as risadas ecoaram por seus ouvidos. Não resistiu, e na primeira oportunidade de lucidez, saiu correndo da sala, ignorando completamente os avisos de que ele seria levado à detenção por abandonar a sala daquela maneira. Já estava na lama, então não faria diferença nenhuma.

  Correu desesperado, com os olhos já vermelhos e lágrimas escorrendo loucamente para uma sala em específico. Somente naquela sala se encontrava a única pessoa pelo qual ele poderia socorrer sem temer por algo ruim. Não gostava muito disso, pois se sentia mais vulnerável do que já era por natureza, mas o que ele podia fazer? Aquele loiro lerdo era o seu único refúgio contra todos aqueles demônios que lhe perseguiam.

  Finalmente chegou na sala, dando de cara com a enorme porta escrito 1-A. Sabia que todos os alunos daquela sala, com exssessão do seu loirinho e de Midoriya o odiavam, mas ele não ligava para aquilo no momento. Tentou secar o máximo de lágrimas possível, falhando miseravelmente. Desistiu, logo batendo três vezes na porta de uma maneira ritmada. Não demorou muito para que um dos alunos abrisse a porta.

- O que está fazendo aqui? - Foi recebido por uma carranca de Jirou, que o olhava com desprezo.

- O Aizawa-Sensei não está? - Não era o seu objetivo perguntar sobre ele, mas achou bem estranho um aluno atender a porta.

- Não, ele está ocupado com o diretor Nezu. Se era só isso que queria saber, já pode ir embora. - Fechava a porta na sua cara. Não, espera!

- Espera ai! - Colocou o pé na frente, a impedindo de continuar, o que a fez rosnar baixinho.

- O que você quer aqui, garoto?! Quer manipular a mente de mais alguém daqui? - Estava irritada, e isso era nítido. Não, ele só quer ver uma pessoa.

- Quem é, Jirou? - Uma voz reconhecida se fez presente, aparecendo ao lado da garota.

- É a porcaria do Shinsou, aquele que manipulou o Midoriya, Kaminari. - O olhou novamente, com ainda mais ódio.

- Shinsou? O que faz aqui? - A voz do loiro elétrico era calma e ao mesmo tempo preocupada. Isso alegrou um pouco o arroxeado.

- Preciso falar com você, Kaminari. - Por conta do choro, a sua voz saiu trêmula e falha.

- O que? Shinsou, você andou chorando? - Passou pela porta, ficando mais perto do amigo.

- Kaminari! O que você está fazendo?! - Jirou gritava inconformada, atraindo olhares dos outros alunos, que se aproximaram e ao se depararem com Hitoshi, fecharam a cara imediatamente.

- Jirou, eu vou ali e já volto. - Foi o que disse, antes de pegar no pulso de Hitoshi e puxá-lo para longe.

   Se afastaram rapidamente, entrando em um corredor vazio. Shinsou ficou de frente para Kaminari, esse que o olhava preocupado.

- O que houve Hitoshi, por que choras? - Falou mansamente. Odiava ver o amigo daquela forma.

- Aconteceu de novo, Denki, e dessa vez eu perdi nota! - Se desabou em lágrimas. O loiro já havia entendido do que ele falava, o abraçando sem enrolar mais. - Eu sou tão fraco, Denki! Eu sou tão estúpido! Eu só queria conseguir superar tudo isso, Denki! Eu só queria...

- Ei! - Apertou o abraço. Por ser menor que Hitoshi, o arroxeado teve que se curvar um pouco para retribuir o abraço com força. - Não diga essas coisas de si mesmo, Hitoshi. Por favor, não se desvalorize dessa maneira.

- Mas como, Denki?! Como se tudo isso que eu estou dizendo é apenas verdade? - Estava rouco, e com  o coração quebrado em mil pedacinhos afiados.

  Um silêncio se fez presente, o que aumentou o choro de Shinsou. Os seus soluços eram auditíveis por todo o corredor vazio, e Kaminari se sentiu afetado por isso, já pensando em uma maneira rápida de ajudá-lo.

- ... Por mais que você negue isso até a morte... - Iniciou, afastando-o de seus braços enquanto segurava os seus ombros, sorrindo de uma maneira tão brilhante que o Aoyama teria inveja. - Tu és uma pessoa incrível, Hitoshi.

   E definitivamente, aquelas poucas e doces palavras atingiram Hitoshi Shinsou de uma maneira positiva, acalmando mesmo que temporáriamente os seus demônios que lhe perseguiam todos os dias.

"- Você é incrívelmente espetácular, Hitoshi Shinsou."

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