A Espera

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Felipe parecia fora do ar. As mensagens chegavam no celular em sua mão, mas ele mal ouvia ou enxergava nada. Sua mente estava uma bagunça, enquanto Alex, sentado à sua frente, havia percebido que o amigo estava estranho. Ele estralou os dedos umas três vezes na cara de Felipe para que ele voltasse à realidade.

Felipe olhou para o celular e teve que subir as mil mensagens que Daniel estava mandando para ler novamente aquela frase. Você sabia que a Gi tá vindo pra São Paulo?. Ele mal conseguia acreditar. Tanto tempo havia se passado e ele ainda sentia que seu coração ia sair pela boca só de ler o nome dela.

- A Gizelly tá vindo pra São Paulo - ele disse num sussurro, quase que pra si mesmo. Alex olhou pra ele e deu um sorrisinho, entendendo o motivo de o amigo estar estranho.

- Agora vai, hein - disse Alex, soltando uma gargalhada. Felipe olhou pra ele e sorriu, voltando a olhar pra mensagem. Estava aliviado que só Alex estava ali hoje, pois o amigo era o único que nunca o podou a respeito de Gizelly. Foi ele que disse que Felipe devia entrar em contato com Gizelly pra conversar sobre o bug no ig, mesmo que Alex fosse o responsável por suas redes sociais, ele sabia que o amigo só estava dando a corda que ele queria pra puxar papo com a Gi.

Ele olhava pro celular e respondia as mensagens de Daniel mecanicamente. Os dois haviam se tornado grandes amigos e já haviam se encontrado algumas vezes desde que Dani chegou em São Paulo. Apesar de ter amizades em comum, como Gabi, Bianca e Pyong, ele nunca conversava com eles a respeito de Gizelly, nem mesmo com Daniel, por isso a surpresa ao vê-lo falando tão naturalmente sobre ela. Mas Daniel era assim mesmo, sem filtro, ingênuo e até mesmo um pouco sem noção, e era por isso que gostava tanto dele.

- Você vai se encontrar com ela ou não vai? - disse Alex, direto como uma flecha. Felipe olhou pra ele e sorriu, levemente envergonhado. O amigo de infância conseguia ler seus pensamentos. Ele realmente estava cogitando pedir pra Daniel fazer essa ponte, mas não sabia como fazer isso.

- Vamo, mano, pede pra ele fazer isso aí pra você. Só pergunta, o máximo que ele vai responder é um "não", igual o Vitão - Arrrrrrrr o Vitão. Felipe fechou a cara por um segundo ao se lembrar daquilo. Ele entende que Vitor apenas não quis se meter, mas as coisas poderiam ter sido diferentes se ele tivesse passado o número dela.

- Não sei o que escrever - ele admitiu. Mil coisas se passavam por sua cabeça, mas ele não sabia como colocá-las no papel, ou no celular, no caso. Era sempre assim quando se tratava de Gizelly. Ele tinha um milhão e meio de coisas pra falar, mas não conseguia. Nem lá dentro da casa, muito menos aqui fora. Em suas piores brigas, depois de beber e perceber que havia passado do ponto, ele não conseguia falar com ela, mesmo com a dor estourando seu peito, mesmo com tudo na ponta da língua, ele não conseguia falar. Felipe não conseguia entender o que acontecia dentro de si mesmo, Gizelly mexia tanto com ele e ele não entendia porque. Àquela altura, mesmo com as acusações, e entendendo aqueles que não queriam manter contato com ele aqui fora, ele já havia se acertado decentemente com todos da casa, menos com ela.

- Fala assim, "tem como você falar pra ela que eu quero conversar com ela?". Só isso, se der, deu - Alex era pragmático. Felipe escreveu o que o amigo falou com as mesmas palavras, pra não haver qualquer erro. Ainda assim, sentia um medo dentro de si. Só não sabia se era medo de Daniel não querer ajudar ou medo de Gizelly dizer sim.

- Claro, vou falar sim - foi a única resposta de Daniel, que logo voltou a falar de outros assuntos aleatórios. Sentiu um frio na barriga e um sorriso se formou em seu rosto sem que ele percebesse. Alex olhou pra ele e riu, pois conhecia aquele sorriso bobo na cara do amigo. Ele se levantou e pegou duas cervejas na geladeira e propôs um brinde à balsa que finalmente iria encostar. Felipe riu e deu um gole na cerveja sem tirar os olhos do celular.

Mais tarde, naquela noite, Daniel mandou outra mensagem que faria Felipe perder o sono. Ela chegou e tá aqui na Ma, acho que ela vai querer falar com você sim. Felipe quase caiu da cama. Alguns minutos depois, outra mensagem de Daniel: Amanhã. Amanhã???? Ele mal conseguia acreditar que ela tinha aceito tão rápido. Sua cabeça estava a mil. Começou a organizar as coisas que precisava falar, mas tudo se misturava. Devia ser o álcool ou a ansiedade de encontrá-la, mas porque ele estava tão agitado? Porque sentia medo? Porque a imagem do rosto dela e o gosto do seu beijo rodeavam seus pensamentos o tempo todo? Precisa dormir e se preparar, mas aquele amanhã parecia uma grande nuvem pairando sobre sua cama.

AMANHÃ. Puta que pariu.

O Primeiro "Sim"Onde histórias criam vida. Descubra agora