Alex deu um abraço de boa sorte no amigo antes de sair. Os dois passaram o dia todo arrumando o apartamento de Felipe pra tentar fazê-lo parecer um lugar habitável. Ele estava genuinamente feliz pelo amigo, mesmo não sabendo como a conversa iria terminar, sabia que tudo que Felipe mais queria era isso, uma conversa.
Enquanto saía com seu carro, Marcela estacionava na frente do prédio. Havia deixado Daniel alguns minutos antes num ensaio fotográfico que ele iria fazer e agora trazia Gizelly pra se encontrar com Prior. Se alguém contasse a ela alguns meses atrás que isso aconteceria, ela jamais acreditaria. Olhou pra Gizelly no banco do carona, que parecia estar nervosa.
- Amiga, você tem certeza que quer fazer isso? Não precisa fazer só porque o Dani pediu. Não precisa ser hoje também, você acabou de chegar, tem até o final da semana pra fazer isso – diz Marcela, não querendo desencorajar a amiga, mas lhe dando opções, já que ela parece estar perdida.
Gizelly olha pela janela e dá um suspiro. Ela se vira pra Marcela, que segura sua mão e lhe dá um sorriso compreensivo.
- Eu preciso fazer isso – ela diz, e olha de volta para o prédio. – Nós precisamos.
Gizelly coloca os óculos escuros e sai do carro com pressa. O medo de ser vista ali era grande. Seu coração bate como se ela tivesse corrido uma maratona e parece haver mil borboletas em seu estômago. Ela sorri sem perceber enquanto o elevador sobe.
Lá dentro do apartamento, Felipe parece um adolescente indo ao primeiro encontro. Tomou banho, escovou os dentes e passou até perfume pra receber Gizelly. Seu coração está a mil e ele mal consegue respirar. Ele quase cai da cadeira quando a campainha toca.
Felipe abre a porta e por alguns instantes, os dois ficam se encarando em silêncio. Gizelly está mais linda do que nunca, usando um vestido rosa, comprido e decotado e saltos prateados. Rosa??? Ele dá um sorriso que quebra o clima enquanto olha ela de cima a baixo. Ela também deixa escapar um sorriso quando percebe ele olhando pro seu decote. Ele está largado como sempre, de chinelas, bermuda e uma camiseta azul, que o deixa ainda mais lindo. O tempo fez bem para os dois.
- Não vai me convidar pra entrar, homi? - disse ela, já impaciente. Felipe a convida pra entrar, mas se mantem distante, nem ao menos se abraçam. A energia alterna entre tranquia e pesada, enquanto ele desvia o olhar dela, que olha pra ele, séria.
Eles vão até a cozinha, enquanto Felipe pega duas cervejas para os dois e eles se acomodam nos banquinhos da bancada, um ao lado do outro, mas sem se olhar. Conversam sobre amenidades, sobre os trabalhos que começaram a fazer depois da quarentena, as reformas que ambos fizeram em seus apartamentos, o bug no ig, etc. Felipe mais pergunta do que responde. Ele está com medo de que a conversa chegue à um certo assunto. Sua cerveja está acabando, e ele tem medo de beber mais, pois prometeu a si mesmo que ia tentar ter essa conversa sóbrio.
Gizelly percebe que ele está tenso e continua falando de amenidades. Ela olha fixamente pra ele, que raramente olha de volta e está quase debruçado sobre a bancada. Começa a perguntar sobre a vida dele, mas ele responde sempre de maneira curta, perguntando algo a ela logo em seguida, como se quisesse mudar de assunto. Ela sabe que ele sente medo. Até que o assunto acaba, e ela decide fazer a pergunta que sabe que ele tem medo, mas que precisa ser feita. Ela pergunta sobre o processo.
Ele dá um último gole na cerveja, já sentindo suas mãos tremerem. Se levanta e vai até a geladeira pegar outra garrafa, mas a deixa de lado, por achar que mal conseguiria tirar a tampa. Ele se apoia com os cotovelos sobre a bancada e coloca as mãos sobre a boca, sentindo seu rosto corar e seus olhos arderem. Ele sabe que ela está olhando pra ele fixamente, mas não consegue levantar os olhos e encará-la. Um silêncio ensurdecedor pesa no apartamento.
- Antes de falar... - ele ouve sua própria voz ficando mais fina e rouca e sente uma lágrima escorrer. - Eu quero saber... se você acredita em mim... - as últimas palavras quase não saem.
Gizelly se sente um pouco confusa, mas se emociona ao ver Felipe assim. Ela nunca tinha o visto chorar e não sabe muito bem o que fazer.
- Sim - ela responde, e só essa palavra faz Felipe soltar um soluço que estava entalado em sua garganta, e as lágrimas começarem a cair.
- Eu sempre acreditei em você, Felipe - ela diz, enquanto ele chora atrás da bancada. Um choro doído e pesado, mas que ele precisava chorar, como uma tempestade depois da seca.
Ela se levanta e dá a volta na bancada, o puxando para um abraço, passando os dedos pelo seu cabelo, agora comprido como nos primeiros dias de BBB. Ele ainda demora um pouco a devolver o abraço, porque mal consegue ter controle sobre seus próprios braços.
- Eu sempre acreditei. Eu não podia falar nada, mas eu sempre acreditei. E eu sempre desejei tudo de bom pra você, desejei luz e que tudo se resolvesse - disse Gizelly, já com a voz embargada. Felipe ainda chorava copiosamente, molhando seu ombro esquerdo. Se perceber, ele a apertava cada vez mais em seu abraço.
- Eu não sei... - ele começa, quase sem conseguir falar. - Eu me importo com que você pensa, mas não sei porque... Eu tinha, tanto, tanto medo... tanto medo do que você pensa de mim... Quando eu saí... eu tinha raiva de você, mas eu morria de medo de você ter raiva de mim também... - ele conclui, em meio a soluços e mais lágrimas.
- Eu também saí com raiva, mas tá tudo bem agora - ela diz, enquanto as lágrimas escorrem por seu rosto. - Eu não quero mais brigar, eu não quero me lembrar das coisas ruins, eu só quero te pedir perdão e dizer que te perdoo por tudo. Vamos só esquecer tudo de ruim que aconteceu.
Felipe não diz nada, apenas faz que sim com a cabeça, concordando. Aquelas palavras eram tudo que ele queria ouvir. Não queria brigar, nem mexer nas feridas do passado. Ele só queria ouvir aquelas palavras que ele mesmo queria dizer mas não conseguia, e mais do que tudo, só queria aquele abraço.
E ali naquele abraço, eles poderiam morar eternamente.
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O Primeiro "Sim"
FanfictionGizelly vai à trabalho para São Paulo e decide se encontrar com Felipe em seu apartamento para ter a conversa que eles tanto esperavam.