The Before: Joui Jouki

Terror (IV)

O asiático já estava vestido apropriadamente para a ocasião que viria, havia apertado o botão do elevador para o saguão para encontrar sua equipe. Os outros integrantes pareciam animados, com exceção de Ford que aparentava estar extremamente ansioso e preocupado com o que poderia acontecer.

O coração de Joui começara a palpitar de um jeito descomunal desde a hora em que tinha acordado, estava realmente muito preocupado com a competição que iria ocorrer no dia, provavelmente ficaria um bom tempo abalado por perder outra vez. 

- Já estamos pronto pra ir? - Questionou o treinador, quase alcançando a porta de entrada do hotel.

- Estamos sim, vamos. - Joui colocou sua mochila nas costas e acompanhou os amigos até a saída do hotel.

Desta vez, felizmente, o grupo decidiu chamar um Uber para poder levar-los até o ginásio, o papo de Lorenzo finalmente funcionou pra alguma coisa, convencer o treinador.

-  Como vocês estão? - Hans perguntou aos colegas, estava sentado entre os dois nos bancos de trás.

- Tô bem, acho que vai dar tudo certo, né Joui? - Lorenzo parecia estar confiante.

- É... acho que vamos nos sair bem, sim. - O asiático era péssimo em contar mentiras, deixava muito evidente de que estava nervoso e preocupado toda vez que tentava fazer isso.

- Relaxa cara, a gente vai levar essa, você vai ver. - Lorenzo passou a mão por trás de Hans para poder colocá-la sobre o ombro do amigo preocupado. 

Joui pareceu estar mais aliviado depois do "consolo" do amigo. A chegada até o ginásio foi breve, o grupo deixou todos seus pertences num canto reservado para eles e não tardou até se dirigirem para a arena, que não estava tão cheia como estava no dia anterior. No momento que os quatro chegaram na arena, Lorenzo notou a presença de Adélia entre um dos jovens ali no meio.

- Adélia! Oi! - O jovem foi correndo na direção da carioca, que ao perceber quem estava a chamando, abriu um sorriso animado e abriu os braços, oferecendo um abraço para o concorrente.

- Tudo bem, cara? - Ela parecia muito entusiasmada, não era difícil de se presumir que o sorriso que estava estampado em seu rosto já estava lá há um bom tempo.

- Melhor do que nunca. - Os outros dois integrantes da equipe acompanharam o amigo até o centro do local.

- Bom dia, Adélia. - Hans trouxe um espelho de mão junto com ele, ficou praticamente a manhã inteira reclamando do cabelo, por isso ficava tentando "consertá-lo" a todo momento. 

- Oiê, Adélia-san. - Joui abanou a mão de uma maneira animada para a competidora que logo em seguida foi acompanhada por seus dois colegas de equipe, Clara e Léo.

- Falaê galerinha, espero que todos vocês estejam prontos para hoje a noite. Se precisarem se alongar ou o sei lá o quê, tem um espacinho ali do lado. - A equipe do Brasil se retirou da arena e desapareceram por uma porta do lado daquela que os meninos achavam que era a do vestiário.

O resto da tarde foi relativamente tranquilo; Lorenzo preferiu ficar paquerando a nova amiga, Adélia do que aproveitar e treinar com seus amigos, Hans conseguiu arrumar seu cabelo e depois não conseguiu desgrudar o olhar de raiva de Mike, e Joui apenas aproveitou esse tempinho para meditar e alongar seus ombros e pernas.

Ao pôr do sol o ginásio já estava quase cheio, muita gente se amontoava nas bancadas para conseguirem pegar um bom lugar. A mãe de Lorenzo estava entre a platéia, o rapaz foi cumprimentá-la e apresentar, finalmente, os colegas de equipe para ela. 

Joui sabia que nenhum de seus familiares estaria presente, e de qualquer forma não esperava ninguém para a apresentação, já tinha aprendido a não criar muita expectativa em relação a isso desde sua adolescência.

 O tempo parecia estar passando mais rápido do que o normal, ambas equipes concorrentes já haviam deixado a arena, os jurados lançavam olhares de aprovação para quase toda manobra que os participantes realizavam; Joui já estava começando a pensar que não teria chance nenhuma contra aqueles caras. O rapaz saiu de um "transe" temporário assim que viu seu colega Hans voltando da arena em direção a equipe, voltava com um sorriso sincero, assim como Lorenzo fez ao terminar o show. 

- Você vai conseguir, cara. - Os dois disseram para o colega.

- Escuta, Joui, você vai entrar lá e vai se sair bem, tá entendendo? - O treinador, surpreendentemente, não estava preocupado nem nada, ele estava sorrindo, talvez pelo desempenho do resto do time e dos sorrisos que conseguiram arrancar dos jurados.

- Eu vou conseguir... - O jovem asiático murmurou para si mesmo, percorrendo o caminho até a arena, ficando frente a frente com os aparelhos dispostos pelo espaço.

Aconteceu tudo tão rápido na cabeça do jovem que os dez minutos de apresentação se tornaram dois. Seu primeiro ponto foi conquistado por meio de um salto através de uma mesa; o jovem pegou impulso e correu em disparada, cerca de 30 metros, até pular em um trampolim e, com as duas mãos apoiadas na mesa de salto, realizou um salto com uma cambalhota, girando duas vezes no ar e caindo de pé no chão.

Após isso, utilizou toda sua força nas pernas para conseguir alcançar as argolas suspensas a mais de 2 metros no chão, era impressionante a força nos braços necessária para que o garoto conseguira manter seu corpo de uma maneira retilínea e suspensa no ar apenas se pendurando em duas argolas; pousou no chão com outro salto realizado com maestria. Em sua cabeça, não achava que essas manobras iriam lhe conceder muitos pontos, mas pelo menos estava tentando dar o seu melhor.

Sua manobra final era a mais complicada das três; o jovem foi correndo rapidamente e pulou numa barra fixa, agarrando-a. Deu três voltas na barra. Era um movimento quase impossível de ser finalizado a julgar pela velocidade do ginasta, a platéia e os jurados já esperavam uma queda iminente, mas não foi isso que receberam para a felicidade deles; Joui pairou no ar por meio segundo, girou o corpo 360° e conseguiu voltar para a barra sem dificuldade, e antes que pudesse voltar ao ciclo giratório, largou as barras e conseguiu fazer o "impossível" mais uma vez, caiu no chão elegantemente com um espacate perfeitamente - e de maneira segura - realizado.

 Após ter deixado a arena, não conseguiu esperar o suficiente para ficar sabendo do resultado. O garoto tinha saído correndo, euforicamente, do ginásio, com Lorenzo em seu encalço. O treinador Ford e Hans ficaram no local sem entender nada, presumiram que teriam que contar para os colegas o resultado final.

O moreno alto só conseguiu alcançar o amigo no próximo quarteirão, ele estava com as costas apoiadas num poste, parecia aterrorizado. 

- JOUI!? O que foi que aconteceu lá? 

- Eu sabia que seria um sinal de má sorte. O quarto. O quarto lugar. Má sorte... A gente perdeu, não foi?

- Eu... eu não s- Foi interrompido pelo toque de notificações de seu celular, de repente abriu um sorriso e voltou o olhar para o colega eufórico. - Não. Nós ganhamos, Joui.

- O quê? - Lorenzo apertou o amigo num abraço apertado por um bom tempo, seu semblante parecia ter se acalmado drasticamente. 

- A gente conseguiu! Tamo na final!

No retorno ao ginásio para os colegas pegarem seus pertences para enfim conseguirem retornar para o hotel e terem uma noite de descanso, Joui estava muito ansioso para poder comunicar o ocorrido para seu pai. 

Então na hora que finalmente pôde, agarrou seu celular, abriu o aplicativo de mensagens e enviou apenas um: "PAI!!! A gente conseguiu, estamos na final!! ♥", enfiou o telefone no bolso e seguiu, saltitante, até o hotel com o grupo.