Capítulo 4

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Eliza
Eu acordo suando. A repentina desorientação quase me faz hiperventilar. De início, não reconheço onde estou e quase grito, mas avisto os papéis de parede à minha frente e entendo que estou no meu antigo quarto de infância. Eu estou de volta à Santa Bela. Eu estou de volta ao Noah, é o pensamento que me vem em seguida. Essa constatação esquisita e totalmente inequívoca é o que me desperta como água fria e me faz sair da cama.
Uso o banheiro rapidamente, faço minha higiene matinal e desço para tomar café. Encontro meus pais já sentados à bancada da cozinha. Abraço os dois e depois me sento em frente a eles do outro lado.
– Você vai sair hoje, querida? – minha mãe pergunta e eu já sei que ela tem uma extensa programação em mente.
– Melhor não, vou desfazer a minha mala – respondo e mastigo meu cereal, para ocultar minha mentira.
– De novo? – meu pai arqueia a sobrancelha.
– Pai! – resmungo quando engulo e em seguida bebo meu café, postergando olhar para minha mãe. – Desculpe, não queria inventar algo, só não quero sair por esses dias.
– Você sabe que eu entendo, não é? – minha mãe começa. – Não precisa sempre querer dizer as melhores coisas se não é o que quer realmente, meu amor. Já falamos sobre isso, fico preocupada com você, ainda mais depois... – ela funga e eu me retraio, pois sei perfeitamente do que está falando. Está se referindo ao assunto proibido entre nós. O acordo que meu pai, ela e eu fizemos quando decidimos nos mudar.
– Querida... – meu pai toca em sua mão por cima da mesa. Apesar do gesto carinhoso dele, sei que é um alerta para ela e sinto seus olhos em mim.
– Eu sei, eu sei. Desculpe – ela pede, tentando se recuperar –, não sei como posso dizer isso, mas só não tenta querer me agradar sempre, tudo bem? Eu dou conta, querida.
Mas ela não tinha dado. Nenhum dos dois tinha e principalmente eu. Embora também estivesse em luto, presenciar meu sofrimento foi um inferno para ela e quase a fez ficar tão doente quanto eu. Minha mãe é um dos motivos de eu ter forças de levantar todos os dias da cama, mesmo nos ruins, porque se não fizesse, ela também não faria. 
– Você deixou seu celular em nossa antiga casa? – meu pai tenta quebrar o silêncio tenso entre nós. – Eliza?
– Não, não deixei. Ele está descarregado, por quê?
– Sua prima tem nos ligado desde às seis horas.
Como se fosse uma deixa, nosso telefone começa a tocar naquele instante. Só pela insistência já imaginava quem poderia ser.

xxx

– Você trabalha para o Noah e nunca me disse?!
    Lorena solta uma risada baixa envergonhada e se mexe na cama ao meu lado. Sei que está tentando ganhar tempo e decidindo como vai me responder. Além de mim, Lorena é a única outra pessoa que sabe como fiquei mal com o término do meu namoro com Noah. Quando fui embora, passava horas chorando ao telefone com ela.
– Você se encontrou ontem com ele e não me disse – Lorena é mestre em driblar perguntas. Sabe sair de uma enrascada apenas sorrindo e desconversando. Como sua melhor amiga, cabe a mim me manter imune ao seu talento de jogadora de pôquer.
– O que você não está me contando? – pergunto.
Ela levanta as mãos para o alto, suspirando.
– Ele paga bem, ok? Eu sei, sei que nossa família é abastada, mas meu pai me deixou por conta própria quando decidi cursar jornalismo. Precisei me virar – ela dá de ombros –, além disso, posso ser eu mesma na empresa dele, não sou a filha rebelde do juiz.
– Eu não acredito que seu pai fez isso.
– Você ainda está surpresa? Mas deixa isso para lá – ela faz pouco caso. – O que quero mesmo dizer é que você nunca me disse como e por que vocês terminaram. Pensei que tivesse sido pela distância, afinal, você foi embora sem data para voltar – ela segura minhas mãos nas suas. – Ele machucou você de que forma?
Assim como antes, não quero falar, muito menos agora que sei que ela precisa do trabalho. Lorena é bem capaz de invadir a empresa do Noah agora mesmo para tirar satisfação se eu contar. Faço que não com a cabeça e ela assente, sem insistir mais, contudo, olha em volta para o meu quarto e eu estremeço, já prevendo o que vem por aí.
– Você realmente não decorou isso aqui?
– Eu só cheguei ontem – fico na defensiva, evitando olhar as paredes pintadas de rosa com posteres de bandas teen.
– Meu Deus, é como voltar à época das calças com cós baixo e celular guitarrinha! – Lorena circula pelo quarto revirando cada coisa que encontra, comentando sobre. Ela se aproxima da parede com posteres. Eu me levanto apressada, mas é tarde demais. Ela já tinha puxado um e visto o que tinha por baixo.
Fotos. Inúmeras fotos de Noah comigo espalhadas pela parede do meu quarto, onde tentei encobrir com posters antigos logo após saber da verdade.
– Espere aqui – Lorena gesticula, apontando um dedo para mim –, vamos dar um jeito nisso agora.
Ela sai correndo do meu quarto e quando volta é com duas facas pequenas. Sei o que vem em seguida e também que o peso em meu coração não é só por conta do papel de parede.

💋Amouuures! Eita que vem bomba! Hahaha deixo você com expectativa... Curte, comenta, salva e divulga para os amigos. Vamos ajudar uma escritora nacional e iniciante! Bjoos da Anne!💋💋

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