Calmaria lastimante

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Era o décimo vestido que Beatrice testava naquele dia chuvoso de domingo. Os tecidos realmente custaram pelos vestidos. Aquele era de linho branco, com o busto bem encorpado e justo nos seios, alças finas que ajustavam-se nas mangas finas douradas. As mangas eram boca de sino e eram abertas no pulso, forradas por tecido de algodão. O saiote do vestido era revestido por um laço de cetim dourado. A costureira deixara bem claro que fora um trabalho difícil e, portanto, o mais belo vestido que já criara. Ao vesti-lo por cima da crinolina, Beatrice apaixonou-se.

Claro que suas paixões demoravam-se de duas semanas a um mês para passar, logo enjoaria e pediria outro. Era um ciclo realmente vicioso e ela adorava. Quando desceu as escadas para mostrar e, claro, causar inveja, nas irmãs, todas ficaram de queixo caído. Dentro daqueles panos brancos e dourados brilhantes, Beatrice parecia um belo anjo descendo das escadas.

- Gostaram bem de meu novo vestido, irmãs? – Perguntava ela, com um sorriso esnobe. Todas as mulheres reviraram os olhos, crentes do engano que haviam cometido quando a viram como um anjo.

- É realmente um belo corte, minha irmã. – Disse Helena, que estava calmamente sentada de pernas cruzadas na poltrona da sala, lendo um livro sobre etiqueta. – O saiote e o busto caíram-te como uma luva. Deverás usá-lo para o baile de meu casamento.

- Usá-lo-ei. Concluo que, com toda certeza, roubarei a atenção da noiva. – Provocou ela, ácida. Helena ficou vermelha, mas nada disse. – Ainda tomando aulas de etiqueta, irmã? Sempre reprova, não é?

- Até onde sei, a reprovada há de ser você, minha cara irmã. – Helena retrucou, calando Beatrice. As demais mulheres observavam a discussão. Frederica, que as observava com atenção, voltou a tricotar seu lenço de inverno.

Beatrice pigarreou, mas ninguém olhou para ela. Bufando, tornou a andar em direção ao escritório do senhor seu pai, mas encontrara a porta fechada. Claramente não queriam sua companhia. Subiu as escadas e trancou a porta de seu grande quarto. O chuvisco que escorria pela janela já deixara de acalmá-la e tornou a ser irritante; seria um belo dia para caminhar com seus vestidos novos e invejar todas as suas concorrentes.

*

Alguém bateu à porta, mas ela não estava se sentindo disposta para abri-la. Tirou, com muita dificuldade, o vestido branco que trajava. Ao contrário deste, preferiu optar por outro mais simples: tinha tecido lilás e renda clara trançada no saiote por entre as estampas brilhantes adornadas em pequenas estrelinhas. Suas mangas eram largas e o busto, frouxo. Assim que terminou de arrumá-lo, calçou os sapatos decorados na cor azul-bebê e soltou o cabelo loiro. As batidas continuavam incessantes, o que deixou Beatrice impaciente.

- Não deixei claro de que não desejo ser incomodada? – Perguntou ela, andando até a porta. Quando a abriu, deu de cara com sua mãe, Frederica, segurando a empregada pelas vestes e com uma careta distorcida pela raiva. – Mamãe? O que foi? Este verme estava perturbando-a?

- Não, Margaretta. – Frederica largou a funcionária no chão sem piedade, a mulher resmungou de dor, mas nenhuma das duas pareceu se importar. – A imprestável não foi capaz de tirá-la de seu quarto. Saia já, o noivo de Helena já está para chegar e quero minhas filhas bem arrumadas. Você, suma da minha frente. Estes escravos têm sorte de ter a lei a seu lado, caso contrário, muitos já teriam deixado de pisar em minha casa.

- Mamãe! – Advertiu outra voz. Era Helena, acompanhada por Amélia e Betsy. – Não fale assim de nossos ajudantes! Ora, que blasfêmia é esta? Dama nenhuma pode dizer coisa do tipo.

- Cale-se, Helena Skeffington. Eu sou a madre desta casa, portanto não aceito que uma filha me diga tal coisa, ainda mais não sendo a herdeira. – A mulher disse ácida. Carregava um sorriso realmente sombrio.

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⏰ Última atualização: Jul 15, 2020 ⏰

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