Capítulo 2

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Katherine se acordou muito antes de sua avó a chamar, na verdade muito antes de qualquer pessoa naquela casa se levantar. Era um daqueles dias péssimos quando ela sentia culpa só por respirar. Abriu os olhos devagar fitando o teto branco e prendeu a respiração. 1...sua mãe adorava margaridas...2... sua mãe adorava sorvete...3... sua mãe tinha um sorriso brilhante...4... sua mãe tinha uma cicatriz no canto da boca...5... sua mãe tinha medo de escuro. Trinta segundos depois ela tinha a descrição completa de sua mãe  e pulmões loucos por ar. Soltou aos poucos a respiração sentindo a ardência nos olhos que denunciavam as lágrimas, então ela esperou o líquido quente escorrer por seu rosto. Nada.

Ela teve um sonho estranho. Isso não era nada fora do comum, a maioria das noites seus sonhos não faziam sentido e ficava feliz em esquecê-los assim que acordava, mas esse sonho foi estranhamente normal e o garoto do balcão estava nele.
Levantou-se lentamente enquanto as imagens do sonho iam surgindo em sua mente: ela sorrindo para o garoto do balcão, eles correndo atrás de cachorro minúsculo em um parque, o garoto do balcão sorrindo para ela. Era um sonho feliz e ela se odiava por seu subconsciente ainda quer dias como aquele.
Balançou a cabeça com força como se pudesse se livrar daquelas cenas com esse gesto, sem sucesso. Jogou o lençol que se enrolará em suas pernas durante a noite de lado e decidiu que ir caminhar ajudaria a esquecer aquele sonho. Forçou seus pés a se arrastarem até o banheiro e depois de um banho frio saiu de casa armada com seus fones.

Assim que abriu a porta foi chicoteada por vento gelado, olhou para o céu e viu as enormes nuvens que pitavam o céu de cinza. Olhou de volta para dentro de casa analisando se deveria ou não voltar para pegar um guarda-chuva, decidiu que não se importava com a chuva, mas não queria se encontrar com sua avó e explicar o que ia fazer na rua a essa hora.

Fechou a porta atrás de si e colocou os fones do ouvido no volume baixo. Seus pés começaram a levar para o nada e ela se contentava em segui-los sem ao menos se questionar para onde a levavam. Aumentou o volume e a velocidade, em alguns minutos estava com a música em seu volume máximo e correndo a toda velocidade que suas pernas sedentárias permitiam. Seu pulmão gritava por ar, mas ela não parava como forma de castigo por eles ainda estarem funcionando. Foi quando sentiu seu corpo se chocar contra algo quente e duro sendo lançada ao chão antes de poder detectar em que esbarrara.

Olhou ao redor para enfim perceber que estava em uma ponte e que já tinha começado a chover, suas roupas encharcadas colavam em sua pele e sua visão estava embaçada, mas não a ponto de impedi-la de reconhecer o garoto do balcão parado olhando para rio segurando seu enorme guarda-chuva preto na mão esquerda. Ele também estava encharcado, claro, mas como Kathy não parecia se importar com as roupas que colavam em sua pele ou seu cabelo que pingava grandes gotas em seus olhos.

Kathy se forçou a levantar, tinha ralado seu joelho na queda, mas nada muito grave. Aproximou-se do garoto do balcão que até aquele momento não a tinha olhado nem um instante.

– O que você está fazendo aqui? – perguntou aos gritos por cima do som da chuva

Ele não parecia ter ouvido já que não mostrava nenhuma reação, ainda continuava fitando o horizonte do rio. Então ela decidiu não falar mais nada, ficou ali do lado dele fitando o rio sem conseguir enxergar nada de verdade. Tinham se passado uns cinco minutos quando ele finalmente decidiu falar, a chuva já tinha se acalmado então ele não precisou gritar para ser escutado.

– minha filha adorava nadar, quase todo final de semana eu pegava emprestado o carro de meu irmão e íamos para o rio – começou – ela podia passar o dia todo na água se eu não a tirasse prometendo que voltaríamos no outro final de semana.

Kathy permanecia calada sabendo mais ou menos onde essa história ia levar. O garoto tinha um sorriso triste no rosto quando decidiu continuar.

– ontem era meu dia de folga, mas eu decidir trabalhar já que queria tirar o próximo final de semana todo de folga para poder levá-la em uma viagem para comemorar seu aniversário, consequentemente não pude levar ela para nadar. Mas Anne pode ser bem persuasiva e de tanto pedir a meu irmão ele a levou. – finalmente o garoto olhou na direção de Kathy e ela se assustou com a dor que manchava seu rosto sem reservas – Meu irmão não sabia o local para onde eu sempre a levava e teve a infelicidade de escolher uma passagem com correnteza – sua voz foi ficando mais distante e dolorida conforme continuava a história – Ele só percebeu o erro quando não conseguia mais enxergar a Anne e em um impulso se jogou na água para procurá-la, ele está bem, teve força para se segurar em um tronco até alguém que passava o ajudou. . – deu uma pausa com mais um sorriso triste voltando a fitar o rio – o rio que ela tanto amava a levou, então acho que ela estava feliz.

Kathy não conseguia não encará-lo, ainda estava olhando para ele quando sentiu os primeiros raios de sol surgindo instantes depois, ainda o olhava quando ele fechou os olhos em exaustão sentindo a pele absorve aquela luz recém nascida. Ela deve vontade de contar sobre sua mãe, ainda abriu a boca pra dizer como tudo foi culpa dela e como seu mundo foi embora assim abriu os olhos naquele hospital e soube que foi a única a sobreviver, quase contou como odiava ainda respirar e como não sentia mais fome ou o sabor dos alimentos, mas não falou e só continuou a fitá-lo.

– Eu ainda tenho o próximo final de semana livre – falou a assustando por um instante, ela não esperava que ele ainda fosse falar – na verdade tenho bastante tempo livre agora já que sai daquele trabalho ridículo – abriu um sorriso um tanto travesso, “como ele ainda estava sorrindo?” Se perguntou – e acredito que meu irmão não vai se importar se eu pegar o carro, o que você achar de fazer uma viagem comigo?

Kathy não consegue conter a careta de surpresa de indagação que surge eu seu rosto. A chuva já tinha ido embora há um tempo, mas suas roupas continuavam molhadas e coladas ao seu corpo, Kathy puxou o tecido da blusa de seu corpo em uma tentativa de não ter que olhar para ele.

– você deve ter enlouquecido – finalmente responde ainda com a cabeça baixa.

– provavelmente – replica e Kathy volta a fitá-lo intrigada com ele ainda conseguia sorrir – ela amava meu sorriso

– você poderia não responder as perguntas que eu faço na minha mente? – ela não queria admitir mais era um pouco assustador então mascarou com irritação

– você não é difícil de ler Katherine, vive tentando mascarar seus sentimentos, mas eles sempre escapam por seus olhos – o garoto do balcão a fitava intensamente o que a fez desviar os olhos para o horizonte – estarei esperando por você aqui na sexta-feira seis meia da noite, não se atrase a estrada é longa – e com isso virou-se sem esperar por sua resposta.

Kathy ficou parada sem reação observando suas costas se afastando até terem sumido completamente. Permaneceu por mais uns minutos ali passando e repassando aquela conversa na mente até finalmente dar meia volta e ir para casa.


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Na segunda feira o Bill chegou cedo para seu alívio que não teve que ficar no lado de fora com a chuva que continuava desde ontem. Assim que entrou o guarda-chuva deixando em um canto para escorrer e correu seus olhos para o balcão lembrando da estranha conversa de ontem.
Depois de trocar sua roupa para o uniforme, limpou as mesas, abriu a lanchonete e se posicionou atrás do balcão.
Durante uma hora observou as pessoas passando, algumas paravam em frente a lanchonete como se procurasse por alguém, outras passavam direto e por fim Kathy culpou a chuva. Depois de duas horas sem ninguém se dignar a entrar ela decidiu por seus fones no volume baixo e observar a chuva de uma das mesas vazias.

Seu expediente terminou e no final das contas cinco pessoa tinhas entrado no “lanches espaciais”, duas delas só para perguntas o nome da rua. Depois de se livrar do uniforme pescar seu guarda-chuva Kathy saiu sem avisar ao Bill.

E foi assim pelo resto da semana, ela não teve nenhuma noticia do garoto do balcão pelo resto da semana e o tempo na lanchonete tinha se tornado praticamente livre então ela o ocupava escrevendo cartas, dessa vez mais uma vez para sua mãe. Em casa as coisas com sua avó tinham melhorado, eles não tocaram mais no assunto, seu tio quase não parava em casa e ela vivia trancada em seu quarto, na maioria do tempo dormindo. Na quarta-feira a noite ela foi caminhar de novo naquela ponte e ficou lá até amanhasse observando o rio.

Então finalmente tinha chegado a sexta feira, na verdade ela não tinha pensado muito na oferta, tinha decidido que tudo não tinha passado de mais um dos seus sonhos malucos. Quando seu expediente acabou naquele dia ela caminhou mais devagar, parou algumas vezes para olhar as pessoas que passavam e num impulso decidiu ir. Em casa largou algumas peças de roupas em sua mochila, escova de dente e sabonete, documentos, um caderninho onde escreva suas cartas, todo o dinheiro que tinha guardado de seus salários, foi até a cozinha e pegou alguns pacotes de biscoito de morango (ela odiava biscoito de morango). Antes de sair deixou um bilhete para sua avó, que dormia no sofá com a tv ligada, colado na geladeira por um daqueles ímãs horrorosos.

“Estou indo viajar com um amigo, não sei quando vou voltar, mas não se preocupe estou levando o celular e pode me ligar a qualquer hora”.

Foi até a porta fazendo o mínimo de barulho possível, pegou seu guarda-chuva que tinha deixa encostado na parede e saiu direção a maior loucura de sua vida.

Olá pessoas! Eu estou muito feliz, muito muito obrigada a todas pessoas que deram um pouco do seu tempo para ler meu livro.♥️😍
Eu já falei que sou ansiosa? Pois bem, eu não ia postar hoje, mas tô super ansiosa para vocês lerem!! Comentem muito e me digam o que estão achando. Ah! E não esqueçam de votar se estiverem gostando 😘

obs.: Sou eu mesma que reviso meus capítulos então talvez vocês achem algum erro, por favor, me avisem se isso acontecer!

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