Sucumbindo a dor e a escuridão, Carol se entrega ao seu pior lado, fechando-se para o amor e o que sobrou das coisas boas que poderia ter no fim do mundo. Depois de se separar da sua família e sentir que era parte dos mortos, sua única motivação par...
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DIA 1.860, manhã
Abro meus braços, sentindo o calor do sol, inclinando o rosto para ele conforme ando no meio fio da calçada, ouvindo Tara rir ao fundo. Ela é engraçada. Uma das poucas pessoas mais engraçadas que já conheci e seu senso de humor me diverte, fora que é uma tagarela, assim só preciso lhe responder e não falar tanto. Estamos há algumas horas aqui fora e não me canso da sua companhia, ainda que não haja tanta floresta nessa parte da cidade.
Há apenas a vegetação que tomou parte do lugar.
A quantidade de errantes também é pouca. No fim, o que me acalmou foi escutá-la falar como um papagaio velho, e não sair por ai usando meu taco como certa pessoa faria.
— Sabe, tem uma história sobre você... — Tara começa a falar e quando abro os olhos, a vejo andando de costas, para assim conseguir me encarar — uma sobre você ter levado uma horda de walkers para longe da fazenda do Hershel.
— Ah...
A mesma horda que voltou e fez com que eu me separasse de todos. Faço uma careta e dou de ombros. Mal me lembro daquele dia. Com certeza deveria estar em um nível muito alto de surto para achar que eu conseguiria fazer tal coisa.
— Não foi nada demais...
— Salvar Amy, matar Shane, afastar a horda... é, não — ela bate a mão no ar, dando de ombros — nada demais.
Matar Shane... Não fiz isso sozinha. Lori me salvou. Me pergunto se ela teria me mandado para longe se ainda estivesse viva, pois mesmo após eu estragar a sua vida de milhares de formas diferentes, ela ficou ao meu lado e me salvou. Queria ter dito a ela o quanto era grata por tudo isso antes de tê-la perdido. Por que estou pensando nisso afinal?
Reviro meus olhos e saio do meio-fio, apoiando meu taco no ombro.
— O que vocês não sabem sobre mim? — questiono, curiosa sobre isso.
— Só o que você viveu lá fora em três anos — Tara murmura, parece pensar sobre isso —, mas a história de como você chegou e salvou todos, a cidade já sabe. É claro. Todo mundo ama as histórias sobre você.
— Que ridículo.
— Não! — exclama rapidamente, virando-se e me alcançando — é o máximo, Carol! Esse lugar todo é sobre você, sobre as coisas que você fez para salvar as pessoas. Eu sequer consigo me esquecer a forma como você matou o governador. Aquilo salvou minha vida, da minha irmã e sobrinha também.
Dou de ombros, não muito animada com a conversa. Não sei se deveria me orgulhar dessas coisas, já que foi o que me manteve tão longe de todos. Sinceramente, não posso entender como isso virou um livrinho de histórias, que as pessoas contam para seus filhos ao redor de fogueiras. É ridículo só de imaginar.
— Por que gosta tanto de ficar aqui fora? — Tara pergunta, voltando a puxar assunto — o que te atraí?
