Você já imaginou como uma simples mensagem enviada pela internet tem o poder de mudar a vida de uma pessoa? Comigo foi assim. Eu, uma simples bibliotecária de uma cidade do interior com aspiração a escritora que nunca termina o seu livro, tive a minha vida sacudida por causa de uma mensagem que postei no facebook. Sou Juliana Santiago e essa é a minha história.
Tudo começou cerca de um ano atrás. Muito se falava sobre pessoas que se aproveitavam do distanciamento que a internet tem com a vida real, para falar o que vem na sua cabeça, sem se preocupar com o que a outra pessoa pode estar sentindo.
E não falo só de críticas e julgamentos, mas do modo como as pessoas tendem a objetificar as outras baseadas na sua aparência. É muito comum ver esses comportamentos partindo de homens com relação as mulheres e numa sociedade machista em que a mulher tenta ganhar espaço é um assunto que realmente deve ser tratado de acordo com a sua gravidade.
Um dia desses, enquanto estava olhando o facebook, uma foto estonteante do ator Edu “Maravilhoso” Constantini me chamou a atenção. Não só pela imagem dele sem camisa, com o tanquinho de fazer qualquer uma babar, em uma cachoeira linda de tirar o fôlego, mas pelo tipo de comentários que acompanhavam a foto. Coisas como: “Ô lá em casa”, “Se eu tivesse um tanquinho desses em casa, lavava roupa todo dia”, e esses eram os mais tranquilos, havia outros bem piores, com teor sexual e termos chulos, vulgares, que foram capazes de me fazer corar, principalmente por vergonha alheia.
Normalmente sou o tipo de pessoa que passa para a próxima página e ignora. Não gosto de criar polêmicas, mas havia ali uma situação que estava me incomodando mais que o normal. Já passei por algumas experiências na vida, em que fui tratada como um objeto, e que me talvez tenham me feito ficar um pouco mais insegura e retraída.
Foi aí que resolvi colocar para fora todo o meu descontentamento. Lembro das exatas palavras que passaram pela minha cabeça antes de começar a escrever o fatídico texto que posso chamar de ponto de virada na minha vida: “Não é como se muitas pessoas fossem prestar atenção ao que eu escrevo mesmo.” Como eu estava enganada...
“Gente... A foto realmente está muito bonita, linda até eu diria, mas parem um pouco para pensar e coloquem a mão na consciência. E se fosse com vocês? Se postassem uma foto de biquini e homens que vocês sequer conhecem começassem a deixar comentários com o teor que vemos aqui? Como vocês iriam se sentir? Não posso dizer por todas, mas eu me sentiria invadida e violada. Agora por se tratar de um homem talvez algumas pessoas pensem que o peso da atitude é diferente, mas o que precisamos levar em conta é que mesmo se tratando de uma figura pública, um ator que vive de expor a sua imagem, temos um ser humano, que vai ler cada uma dessas mensagens e que pode sentir que não vale mais que um objeto de decoração de encher os olhos, que não merece ter voz ou sentimentos. @educonstantinioficial é um ser humano, gente. Vamos usar de empatia! Querem elogiar, existem tantas maneiras diferentes sem toda essa vulgaridade... #empatia #vamospensarnooutro”
Se eu pensei duas vezes antes de enviar esse texto? Com certeza, mas tinha uma coisa dentro de mim que me dizia que era o certo a se fazer. Se soubesse que esse desabafo iria ganhar proporções de uma guerra, não sei se teria postado, ou se teria mantido aquelas palavras lá.
Já era tarde e eu estava deitada, pronta para dormir. Só que eu fui dormir e a semente que plantei teve a noite toda para germinar e criar raízes, com comentários, curtidas e compartilhamentos. Não eram números astronômicos, mas foram o suficiente para chamar a atenção, inclusive de quem eu menos esperava.
BNa manhã seguinte, estava no ônibus a caminho do trabalho quando resolvi olhar minhas redes sociais. Ao ver a quantidade de notificações no aplicativo me assustei.
Em casa só havia desligado o despertador do celular e não olhei mais nenhum aplicativo, eu sempre acordava em cima da hora para me arrumar. O que significa correr para me vestir, cuidar da higiene matinal, comer alguma coisa e sair em tempo de não perder o ônibus.
E havia tantas mensagens que mesmo com algum tempo sobrando não iria conseguir ver tudo. Quase dei um grito no meio do ônibus lotado, conseguem imaginar a cena? Todo mundo me olhando com cara de “que maluca é essa?”
VTrabalho na biblioteca pública de Ribeirão Preto. Vivo para os livros, então pensa numa vida de marasmo que levo. Rotina: De casa para o trabalho e do trabalho para casa. Muda um pouco no final de semana em que costumo visitar meus pais, ou sair com amigos que não são muitos. Sou do tipo de garota que não costuma chamar muita atenção, com cara de nerd, que vive com o nariz enfiado em livros.
Quando finalmente abri o facebook, depois de chegar na biblioteca, vi que o meu comentário havia repercutido mais que Fake News em época de campanha política. Milhares de curtidas e centenas de respostas ao meu comentário. Se eu fiquei surpresa? Imagina se não...
Comecei a ler o que haviam escrito e apesar de uns poucos comentários rudes, a maioria deles era de apoio e o assunto todo virou uma discussão de moral e direitos. E isso ainda nem eram oito horas da manhã. Havia feito as pessoas pensarem e só com isso havia ganho o meu dia.
Mas vocês devem estar se perguntando: “Ok. E qual a moral da história?” Eu já chego lá. É mais emocionante do que parece a princípio.
BMeu trabalho é bem tranquilo e consiste em organizar as devoluções, dar baixa nos empréstimos, coisas que as outras meninas me ajudam, mas a parte mais divertida é organizar o orçamento do mês, para selecionar as novas compras de livros. Comprar livros já é divertido, com o dinheiro dos outros é melhor ainda.
Estava no meu escritório quando a coisa mais maluca aconteceu comigo, e sim, eu tenho um escritório. Não é demais? Não é nada grandioso, mas é um canto de paz e sossego para trabalhar. Mas voltando.
Estava finalizando a planilha de orçamento quando meu celular apitou por alguma mensagem. A maioria das mensagens são silenciadas, principalmente dos grupos. Caso contrário, eu ficaria maluca. Tenho uma certa tendência a entrar em mais grupos do que deveria.
Peguei o celular e olhei a tela que indicava uma mensagem pelo facebook messenger de uma pessoa que nunca havia visto na vida. Um tal de Carlos Eduardo C. e na mensagem uma simples palavra que para mim não fez o menor sentido na hora.
Aí como tudo o que eu fazia na vida, fiquei um tempo pensando: “Responder ou não responder? Eis a questão.” Clichê? Com certeza, mas eu sou a rainha dos clichês. Se um livro tiver um belo clichê bem escrito, pode contar que me conquista. Afinal, clichês são clichês por um bom motivo. As pessoas tendem a gostar deles.
A mensagem com a palavra “Obrigado” estava ali, na tela do meu celular enquanto eu pensava em como responder. Provavelmente a mensagem havia sido enviada por engano.
“De nada!” eu respondi e continuei. “Acho que mandou a mensagem para a pessoa errada.”A foto de perfil não entregava nada e a conta era fechada somente para amigos, o que me deixava sem pista nenhuma de quem poderia ser. E foi então que a troca de mensagens começou de verdade.
“Não. Eu mandei para a pessoa certa.”
Um milhão de interrogações apareceram na minha cabeça nessa hora.
“De nada, então!”
Mas é claro que como boa curiosa que sou, continuei.
“Pelo que afinal de contas?”
“Hahahahaha!”
“Realmente acho que não fui muito explícito. Me desculpe.”
“Tudo bem.”
Em minha defesa, esse tom apaziguador é uma constante na minha vida. Não sou muito boa com conflitos.
“Eu agradeci o comentário que você postou ontem, na última foto do Edu Constantini. Foi uma atitude muito legal, ainda mais levando em conta que algumas pessoas foram bem desagradáveis ao te responder.”
Realmente achei esse cara estranho. O que ele tem a ver com tudo isso, afinal? Homens em geral não costumam agir assim. Enquanto as mulheres geralmente se unem quando algo assim acontece com uma de nós, os homens tendem a gostar da atitude, mas deixam as suas opiniões guardadas.
“Só senti que precisava expor a minha opinião. Às vezes as pessoas agem sem se dar conta de como podem afetar as outras. Só queria abrir os olhos delas e mostrar que do outro lado da tela existe uma pessoa com sentimentos como a gente.”
“Você é uma garota legal. Tenho certeza de que o Edu viu o que você fez e gostou disso.”
“Eu duvido muito, mas obrigada!”
“Que ele tenha gostado?”
“Que ele tenha visto! Você viu o tanto de gente que costuma interagir nas redes sociais dele? Meu comentário deve, no mínimo, ter se perdido no meio de tantos outros, e no mais, eu não fiz isso para ser notada, então tá tranquilo.”
“Bom... Se você não percebeu, seu comentário meio que viralizou na rede. Muitas pessoas vieram me falar dele.”
“E quem é você, afinal?”
Até aquele momento eu não estava entendendo o que estava acontecendo.
Principalmente o porquê daquele cara – pelo menos eu achava que era um cara – com o perfil estranho ter me mandado uma mensagem que acabou virando uma conversa.
E aquela ideia maluca de que o Edu Constantini havia visto a minha publicação. Esse era o tipo de coisa que só acontecia nos romances que eu amava ler o tempo todo. Aquele tipo de história que te faz pensar no quanto seria bom ter um pouco mais de aventura na sua vida.
Às vezes a gente precisa ter cuidado com o que deseja, apesar de não me arrepender de nada do que aconteceu desde que eu a mandei para aquele grupo de pessoas.
Afinal, é por isso que você está lendo hoje o que eu escrevi, já que antes disso, se alguém fosse ler sobre a minha vida, iria cair adormecido antes mesmo de terminar o primeiro capítulo. Eu tive até um tempinho razoável para divagar até receber a resposta.
“Eu sou o cara que você estava defendendo naquele comentário.”
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RomanceUm conto de fadas moderno. Juliana Santiago nunca imaginou que uma mensagem deixada nas redes sociais de um dos aatores mais badalados do momentos iria mudar sua vida. Principalmente quando recebeu dele uma mensagem privada e um story agradecendo pe...