Capítulo XLVII ● Youngjae

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— Não é que eu não queira perdoar ela... — Ele responde, o que é surpreendente, mas se interrompe no meio da frase porque é mesmo um assunto delicado para ele, e eu entendo, eu espero o tempo dele para ouvir o que ele tem para falar, deixo ele sentir a dor dele. — Eu só não consigo. 

— Não consegue? — Pergunto quando percebo que ele não iria me dar mais explicações. Ele suspira lá na frente, como se fizesse um grande esforço pra pensar, sentir e falar, e eu entendo isso também.

— Eu entendo que ela tenha se separado dele, do meu pai, eu não sou burro, sei que o casamento deles era complicado, sei que ela estava no limite, sei que ela precisava fugir, mas... — Ele para de novo e tem tanta dor no timbre da voz dele, tanta solidão e perda. Jaebeom era uma criança quando SonHee foi embora, uma criança que ainda precisava da mãe, sei disso porque perdi a minha, de uma forma diferente, mas perdi.

— Mas?

— O problema dela era com o meu pai, não comigo! — Ele solta isso como se fosse um grande fardo que ele carregou por muito, muito tempo, com tanta dor e pesar, tanta confusão e solidão reprimida. — Eu ainda era filho dela, mas ela simplesmente foi embora sem nem se importar, sem se despedir, como se eu não fosse nada, como se eu fosse apenas um detalhe extra. Ela nunca tentou contato, nunca tentou explicar os motivos, simplesmente foi embora, se separou de mim também e não apenas do meu pai. Eu era tão pequeno! Eu precisava da minha mãe, ela era a pessoa mais importante da minha vida, era com ela que eu ficava por mais tempo, ela era uma parte muito importante do meu dia a dia, mas ela foi sem dizer adeus, agiu como se eu não fosse nada.

— Jaebeom...

— Então não, não consigo perdoar ela ainda. Ela me abandonou, me machucou mais do que qualquer outra pessoa no mundo. Abandono não é algo que se esquece fácil assim, é um trauma, uma cicatriz que nunca sara, que constantemente dói, faz você vacilar.

— Beommie...

— Queria conseguir perdoar ela facil assim, eu vejo que ela tem tentado mudar, vejo que ela tenta se aproximar de mim, mas sempre que eu vejo ela por perto, me lembro de toda a dor que senti quando ela foi embora e então eu fujo, porque tenho medo, porque sei que se ela fez uma vez, pode fazer de novo, e não aguentaria perder outra pessoa que eu amo, Youngjae, não aguentaria.

— Mas ela tentou voltar... — Tento interromper o diálogo dele pela terceira vez, meio nervoso... OK! Muito nervoso, mas ele não para de falar. Minha cabeça estava a mil, um milhão de pensamentos passando por ela, algumas lembranças de momentos antigos, lembranças que eu nem lembrava que tinha, mas tenho, lembranças que mudam tudo...

— Ela foi embora e agora eu não... Espera, o que você disse?

— Eu disse que ela tentou voltar pra você. — Tento soar o mais firme que consigo, mas por dentro eu estava berrando. Não quero contar o que sei, mas sei que preciso, ele precisa saber, mesmo se doer.

— Do que você tá falando? — A voz dele não passa de um sussurro, afetada pela dor e pelo medo, e eu me odeio tanto por estar prestes a causar mais dor ainda em cima dele. Respiro fundo, lembrando, puxando os fatos no fundo da minha memória.

— No primeiro natal em que SonHee passou como esposa oficial do meu pai, eu fiquei muito ansioso pelos presentes, então acordei muito cedo para abrir o que eu tinha ganhado. — Lembro do dia, exatamente como aconteceu, a memória tão clara na minha mente quanto água. — Quando estava passando pelo corredor eu ouvi uma conversa da SonHee com meu pai, eles não sabem que eu ouvi, ninguém sabia até agora e até alguns minutos atrás eu não tinha ligado os pontos, mas agora eu entendi.

— Que conversa você ouviu? — Ele pergunta, com a voz baixa, nervosa.

— SonHee estava chorando, chorando muito. — Suspiro, a lembrança dói. — Meu pai tentou confortar ela, mas ela ficou tão brava de repente, tão transtornada. Começou a gritar enquanto chorava, dizia que era injusto o que ele fez, que era errado que ele não permitisse que ela chegasse perto de você, que ela não acreditava que a Justiça tinha acreditado na palavra dele, mas julgado como mentira a dela, que era tudo uma merda e que ela estava cansada e muito brava.

— Quem é ele? — Ele pergunta, mas pelo tom que ele usa, uma mistura de confusão, medo e dor, eu sei que ele já sabe a resposta.

— Seu pai. — Respiro fundo, esperando que ele grite e diga que eu estou mentindo, que era tudo um plano pra fazer SonHee sair de coitadinha, mas ele não fala nada, apenas espera que eu prossiga. — Eu não sabia que era ele quando ouvi essa conversa, nem nas outras vezes, quando ouvi ela falando com ele por ligação, acho até que ela se encontrava com ele as vezes, sempre tentava convencer, pedir pra que ele deixasse ela falar com você. Não sabia quem ele era até alguns momentos atrás, eu tinha essa teoria, mas nunca quis julgar alguém que eu não conheço, mas agora... Não posso permitir que você continue pensando que ela te deixou, porque ela tentou falar com você durante todo o tempo depois que foi embora, Jaebeom, tentou muito, mas ela não podia, ele nunca permitiu.

— Por que ela não podia? — Ele pergunta baixinho, mais pra si mesmo do que pra mim, e eu sinto vontade de abraça-lo e dizer que esta tudo bem, mas se eu fizer isso, se eu tentar tocar nele, a merda desse caiaque vida e a gente cai na água.

— Eu não sei. — Falo com sinceridade, porque queria tanto ter todas as respostas para ele, mas eu não tenho, apenas SonHee tem. — Ela nunca falou o motivo de não poder, só dizia que não tinha permissão.

— Ela tentou voltar pra mim... — Ele sussurra, tão baixo que quase passa imperceptível, mas sabe como é, eu tenho uma audição super boa.

— Tentou. Tentou muito. Ela te ama Jaebeom, nunca esqueceu de você, sofreu por ter você longe todos os dias, tentou ter você de volta todos os dias, mas...

— Ela não podia.

— Não.

— Porque meu pai não permitia. — Não é uma pergunta, ele apenas esta colocando os fatos em palavras, porque assim se torna mais real. Não quero que ele fique com raiva do pai, mas sei que por ora é um sentimento inevitável.

— Não.

— E agora ele morreu e eu nunca vou saber o motivo dele... — Ele sussurra a ultima parte, bem baixinho. — Nunca vou saber.

— Você não vai. — Tento soar o mais amável o possível, e então penso em algo que talvez possa fazer ele se sentir melhor, ou pelo menos um pouco menos triste. — Mas tem uma coisa que você pode saber.

— O quê?

— O porque da SonHee não poder se aproximar. — Falo, delicadamente, e Jaebeom suspira, mostrando que ele sabia que essa seria minha resposta, ele só não queria aceitar. — Ela está esperando por você por todo esse tempo, Jaebeom, você só precisa permitir que ela se aproxime.

Blind • 2Jae (HIATUS) Onde histórias criam vida. Descubra agora