BRYAN
"Como é possível ver todo nosso mundo desfalecer
de uma vez só?"
- Katherine MillerO cheiro de pólvora ainda estava fresco nas minhas narinas.
Pólvora.
Nunca, em toda minha vida, imaginei que fosse levar um tiro. Sempre soube, desde quando entrei para Kairós, que esse fato era um risco eminente. Afinal, metade dos caras que eu conhecia já haviam tomado um. Porém, nunca pensamos que o pior vai acontecer com a gente, até ele acontecer. Franzo o cenho ao me deparar com uma luz forte, o som de aparelhos apitando do meu lado. Quando os abro, percebo que estou em um hospital. Sinto vontade de vomitar. Passo os dedos pelo peitoral, sentindo uma pequena marca da incisão do tiro. O disparo da arma voltando a perpetuar minha cabeça.
Me lembro exatamente qual fora a sequência de acontecimentos: Eu estava na fraternidade, pegando meu "salário" do mês antes de ir para a véspera de natal, onde todos meus amigos me aguardavam. Havia combinado com Ellen de ela vir me buscar, uma vez que meu carro está no concerto – algum filho da puta quebrou minha janela. Ao pegar meu dinheiro e sair da casa, me deparei com Cassidy, um dos novatos que, por sinal, me odeia por instruí-lo com seriedade. Holton, o nosso "chefe" por assim dizer, me deixou a quantia que deveria lhe entregar. Após o fazer, Cass se questionou do valor ser baixo aos seus olhos. Ri, uma gargalhada estrangulando minha garganta, dizendo que aquilo era ainda mais do que ele merecia. Iniciamos uma discussão, onde o garoto gritava, tentava se sobressair e demonstrar de qualquer forma que queria mais, mesmo comigo apontando todos os seus erros. O senti partido para cima de mim. Não saindo por trás, consegui colocá-lo no chão, deferindo socos no seu rosto, como um aviso para não mexer comigo. Posso ser o cara mais gentil, alegre e compreensível do mundo, desde que não se meta nos meus negócios. Apenas quando senti o coldre da arma no meu abdômen que percebi o que viria a seguir.
Cassidy me deu um tiro.
Apenas um. Gritei, sentindo o sangue escorrer pela minha barriga. Ele me encarou em puro choque, medo. Cass não era o tipo de cara que aguentaria a barra de matar alguém. Já conheci pessoas assim, o garoto a minha frente não era uma delas. Agindo como um covarde, ele roubou minha mochila e partiu para o seu carro, me deixando sangrar. Por um instante, soube que eu morreria. Aquele era o meu fim. Mais ninguém estava por lá devido a véspera de natal. Colocando a mão de volta no ferimento, quase desmaiei ao ver a quantidade de sangue que estava literalmente vazando do meu corpo. Minha visão foi ficando turva, distante. Senti um toque familiar no meu braço, antes de um grito agudo ser dado, então apaguei.
Mas sei muito bem quem era.
Era ela. A pessoa que eu queria que fosse o grande amor da minha vida. A garota ruiva, de olhos castanhos, que não me amava como eu a amava. Ellen murmurava palavras como: "Eu sabia!", "como você pode deixar isso acontecer, Bryan?", "eu liguei para o hospital, eles estão chegando. Por favor, não morra", "não deixe a minha partida ser mais difícil", entre outras coisas que não me lembro. Ao correr os olhos lentamente pelo quarto, desejei que fosse ela a mulher sentada ao meu lado. Solto um suspiro triste, porém grato ao perceber que é Dominique.
— Eu poderia te matar, mas alguém tentou fazer isso antes de mim. — Faz uma piadinha nada adequada, mas por ser o seu tipo de humor, acabo rindo.
— Essa não é uma boa brincadeira para fazer com alguém que levou um tiro, Beaumont. — Cerro os olhos com desconfiança, e também por ainda estar me acostumando com a luz ambiente. — Muito sem graça.
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IRREVOGÁVEL [COMPLETO NA AMAZON]
Romansa[TRILOGIA CORRUPTOS, LIVRO 3] Bryan Campbell poderia facilmente ser sinônimo de problema. Todo seu charme, sorriso encantador, piadas e jeito levemente cafajeste de ser eram apenas uma barreira para disfarçar seu coração partido. Ninguém sabia das d...