capítulo 10: O homem

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O Senhor Nelson estava novamente no parque. Sentado em um banco de madeira com vista para o lago, com o sol batendo em sua nuca. Tentava fazer o pensamento embalar enquanto aproveitava o vento fresco da manhã, com os olhos fechados e a cabeça encostada no encosto do banco. Um homem chegou próximo dele.
- Bom dia. Tem horas?
O Senhor Nelson se esticou e olhou o relógio no braço direito, um costume que muitos estranhavam.
- São oito e quarenta e sete.
- Oh, sim. Obrigado.
O homem então se sentou ao seu lado. Senhor Nelson continuou como estava: reclinado e de olhos fechados com o rosto para cima.
- Foi difícil?
O Senhor Nelson continuou como estava.
- O que disse?
- Foi difícil encontrar o culpado pelas vítimas retalhadas?
- Oh, então me conhece? Bem, não muito. Em comparação com os outros casos, a dificuldade foi a mesma.
- Entendo. Mas acredito que nesses outros trabalhos o senhor sabia com o que lidava.
O Senhor Nelson sentiu o frio na barriga e o calafrio na espinha.
- O que está insinuando?
O Senhor Nelson tentou se levantar, porém, seu corpo não obedeceu.
- Apenas... Tenho dúvidas quanto ao senhor entender com o que está lidando.
O Senhor Nelson travou os dentes.
- Sei muito bem com o que estou lidando: um assassino, com uma forma inusitada de matar e alvos aparentemente desconexos. E apenas isso.
O homem riu de leve entre os dentes. Ele se levantou. O Senhor Nelson conseguia senti-lo na sua frente.
- A ignorância é uma dádiva... Espero que não lhe seja uma maldição. Apenas tome cuidado com esse caso - O homem se afastou - Ah, sim. E procure ler esse livro - O homem pôs algo no banco ao lado do Senhor Nelson - Os livros são as pedras que constituem um bom caminho. Pessoas que não leem costumam tropeçar em buracos de desconhecimento e incerteza.
O Senhor Nelson então levantou do banco com os olhos abertos procurando o homem com quem falara, porém o parque estava completamente vazio. Ele secou a testa com as costas da mão. O Senhor Nelson virou-se para o banco. Nele estava um livro grosso, tanto quanto uma bíblia. O Senhor Nelson o pegou e leu seu título.
- ... Hum? “O Verdadeiro Medo Habita em Nossa Alma”? Realmente não tenho sorte para conseguir bons títulos.

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