Lembranças Cinzentas

Capítulo 35

Enquanto estou no quarto olhando a noite pela janela, muitas lembranças passam por minha mente, principalmente aquela que mais odeio pensar...

O momento que pego o celular de Grace, e olho as mensagens, aquelas malditas mensagens.

Meus olhos ardem, novamente as lágrimas começam a se acumular, e desejam desesperadamente ser derramadas.

Escuto um bater de porta, já imagino que seja Hannah, peço para que ela entre, mas não deixo de olhar pela janela.

— É... só para avisar, já colocamos o Simba no quarto de Emma, ele ficou tão feliz... — escuto ela dizer.

— Que bom, mas quero ver se ela vai ficar feliz, quando ele crescer e querer continuar dormindo no quarto!

— Provavelmente vai ocupar quase o quarto todo dela... — Ela diz num tom como se tivesse achando graça, olho rapidamente para ela, vejo que ela está de braços cruzados, me olhando.

— Você tem razão... —falo, então ela se aproxima de mim, parando ao meu lado. — Ele era o amante dela, Kevin!

— O que ele queria aqui? — Ela pergunta.

— Parece arrependido... — falo e suspiro, olho novamente para janela. — Quer que eu o perdoe e quer ver a Emma, porque segundo ele, ele está morrendo... tem câncer!

— Nossa! É um belo motivo para se arrepender...

— Por quê? — pergunto

— A morte faz as vezes a gente pensar muitas coisas sobre a vida... principalmente como vivemos... — Ela diz e a olho com atenção. — Mas por que ele quer ver a Emma?

Volto a olhar para a janela, sinto novamente vontade de chorar.

— Sabe como descobri a traição? — pergunto, a olho e a vejo discordar com a cabeça. — Foi numa volta de viagem a trabalho, achei que quando batesse na porta ia ser recebido por minha mulher, mas na verdade, fui recebido por uma estranha, ela tinha sido contratada para ficar algumas horas como babá de Emma, enquanto Grace saia para jantar com Kevin... e eu fiquei ali no meu quarto, esperando ela voltar, até ai a única informação que tinha era que a babá me falou, que ela tinha saído para jantar com um homem, e quando a vejo voltar de carro com o meu amigo, e vejo ele se despedir dela, a beijando na boca, eu senti como se tivesse levado uma punhalada pelas costas, pode parecer clichê o que acabei de dizer, mas, realmente é o que a gente sente, quando somos traídos, é como te darem um tiro no escuro...

— Eu imagino! — escuto ela dizer, e então volto a olhá-la. — Eu não consegui me mover, eu tinha que ter descido naquele instante, aberto a porta, e jogado tudo que estava entalado na minha garganta, eu tinha que ter naquele momento ter soltado a fúria que estava dentro de mim, só que não fiz, eu deixei Kevin ir embora, para querer agir, ai o que aconteceu foi que eu a arrastei para o carro, e quis ir até a casa dele para fazer o que não fiz naquele momento, e essa atitude custou a vida da Grace... — uma lágrima cai dos meus olhos, a tiro rapidamente com o dedo. —E se isso já fosse terrível para superar, quando volto para casa, sabendo que fui traído pelo meu amigo e pela minha mulher e que Grace agora está morta, eu fico tentado a mexer no celular dela e olhar as mensagens... e então... eu vejo aquilo... aquela mensagem que nunca queria ter lido... —me aproximo da janela, me encostando no vidro, e então olho para baixo, mais lágrimas caem dos meus olhos.

— Que mensagem? — Hannah pergunta, noto que ela se aproxima, e coloca a mão em meu ombro.

Fico calado por alguns instantes, até ter a coragem de falar.

— Kevin chamando Emma de filha... — digo num tom de choro, então me viro e a olho. — Ele é o pai biológico de Emma, não eu...

Hannah imediatamente abre a boca, surpresa.

— Como? — Ela diz quando parece recuperar a voz, derramo mais lágrimas, enquanto fecho os olhos por alguns instantes. — Você consegue entender como foi difícil para mim guardar isso por tanto tempo? Eu... eu... tentei colocar na minha cabeça que ela é sim minha filha, porque eu estive no nascimento dela, segurei a mão da Grace, enquanto olhava Emma nascer, fui eu quem estava ao lado da Grace no primeiro banho de Emma, fui eu que estive em todos os ultrassons, eu sonhei com nascimento dela...

— Sim, você é o pai... —Ela diz num tom de choro.

— Mas, isso não impediu Hannah, de eu ficar as vezes observando o rosto dela e tentar desesperadamente encontrar um traço meu, um traço que dissesse que Grace estava enganada... e a medida que ela crescia, as vezes eu via o Kevin nela, mesmo que ela fosse tão parecida com a mãe... teve um tempo que eu não conseguia encará-la, isso acabou criando um muro entre nós! —passo a mão no cabelo e respiro fundo, enquanto volto a olhar para Hannah. Vejo ela se aproximar ainda mais, e colocar as mãos no meu rosto, e então limpou as lágrimas que desciam de meus olhos com sua própria mão, e então a olho nos olhos, e finalizo. —E só agora que você entrou na minha vida que estou conseguindo quebrá-lo... você consegue entender, por que você se tornou importante na nossa vida?

Uma lágrima desce dos olhos dela, e mordendo os lábios, ela assente com a cabeça.

— Sim, entendo, mas acredite vocês são bem mais importantes na minha... a mudança que houve em meu interior depois que conheci vocês, não tem explicação, vocês me trouxeram fé, vocês me deram esperanças, me fizeram acreditar que eu poderia recomeçar, trouxeram fôlego para minha alma, e isso eu serei sempre, eternamente grata... —Ela pega uma de minhas mãos, entrelaça os dedos dela nos meus, e fica as olhando. — Sabe, ser um ser humano é isso, é ser uma pessoa imperfeita, que sente raiva, que sente dor, mas que também sente alegria, e que ama, as vezes se apega de uma forma que não deveria se apegar, e que as vezes sente um ódio que não deveria sentir, que cai e que se levanta, e que se culpa, muitas vezes porque queria ser uma pessoa melhor, mas tem vezes que não consegue, mas Richard, uma oportunidade que nos deixaram foi o perdão, embora seja difícil e doloroso, acredito que ele é o caminho da luz, o caminho que aquele senhor quis dizer para mim...

— Que senhor? — pergunto confuso.

— Michael, seu caseiro... ele disse para buscar o caminho da luz, para assim eu poder renascer... e a luz é isso, é o perdão, ele que tirará o peso das minhas costas, e pode ser que essa é a forma de tirar o peso da sua também... a gente não é o que nos aconteceu Richard, a gente é o que nós escolhermos nos tornarmos, podemos fazer boas escolhas o que nos trará resultados bons... — Ela diz, me viro e a olho nos olhos, vejo que estão brilhando, e sorrindo acaricio o rosto dela, solto um suspiro, ao sentir a maciez de sua pele.

— Uma coisa eu já escolhi e sei que é o caminho certo... — falo, a olhando profundamente.

— O que? — Ela pergunta.

— Você... — falo, e para minha surpresa ela sorri, o que me dá a confiança, de me aproximar ainda mais dela, até nossos lábios se colarem.

Fazendo assim toda a dor do passado, dúvida, mágoa e raiva, sumirem para dar lugar ao sentimento belo e doce daquele momento.

É como se tudo tivesse sumido, e agora só existisse nós dois.

Hannah e eu.

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Olá pessoas...

Em breve entraremos para reta final da história...

E nessa reta final tem muitas emoções para acontecer, não perca teremos momentos bem legais em lembranças cinzentas

e em breve, vou começar a postar no wattpad o meu maior desafio de escrita:  O apagar da vida.

Será um drama que ando apostando todas as minhas fichas e que estou escrevendo com o maior cuidado do mundo, e quero muito que vocês leiam e goste!

Não percam ;)

beijos e vou tentar voltar agora mais rápido já que estamos chegando na reta final

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