Carta n° 6
Eu não aguento mais sonhar com você.
Meses se passaram desde nosso afastamento, mas nunca imaginei que resquícios químicos teus ainda estariam trazendo à tona a história que já tivemos juntas.
Meus dias monótonos de repente trazem os flashes de nossas guerras, vitórias, batalhas travadas. Cada cena lembrada é um suspiro dado, um aperto no peito como tiros bombardeados neste campo de fogo.
Eu quero esquecer você. Eu preciso esquecer, mas é quase impossível acontecimentos marcantes saírem das lembranças facilmente. Preciso seguir minha vida, meus sonhos – agora vazios –, mas tudo me lembra você. Não poderei botar fogo em tudo que me faz lembrar, ou eu ficaria sem nada. Basta conviver com a dor de não te ter novamente – talvez, mesmo que sejam a poucos quilômetros daqui, a distância que te corroeu aos poucos como cupim em madeira antiga, e então você desistiu mais uma vez.
Destinos incertos me cercam como fantasmas. Eu mesma não gosto daqui, particularmente, nunca gostei, você sabe disso. Você fazia tudo ficar menos pior, trazendo clareza e calmaria junto com todo seu caos. Mas, só fui me dar conta depois de todo o desastre, que quem era o furacão sou eu.
Viver é dolorido, ainda mais com essas pessoas modernas em que tudo é líquido, até os amores, rasos como uma piscina vazia. Raros daqueles que têm suas intensidades para afastar outros com medo de nadar. E eu achei que você fosse diferente... Até hoje eu sou confusa com tudo isso. Eu não entendo como foi capaz de fazer aquelas coisas e não pensar como tudo desmoronaria tão facilmente, mas eu fui, eu te amava tanto que te segui esperançosa por nós, achando que iria dar certo pela segunda vez. Não houve uma terceira.
Não sei se vou levar essa cicatriz pro resto da vida de estar dopada dos sentimentalismos temporariamente, mas digo que no momento não acredito que haveria outra pessoa que te levasse à galáxias distantes como eu te levei. Que não existisse outra conectividade além da sua de se encaixar tão bem ao meu sistema, de emoções que nunca senti, com uma explosão de duas estrelas em colapso, tudo ainda tão recente e dolorido.
Tudo o que te dizia era completamente sincero, tanto que eu poderia morrer toda a vez e renascer das cinzas. As promessas, os desejos, as metas, tudo era tão singelo... Como pôde? Me perguntava isso a algum tempo atrás. Mas, agora, sei que está tudo premeditado.
Você não errou.
Não podíamos dar certo naquele momento, quando refleti, pois havia sido duas vezes. Nas duas vezes o destino tentou nos avisar do que viria, tola de mim que não quis dar ouvidos, cega de paixão por você.
Foi melhor assim. Evitou muito mais problemas que estariam por vir, você sabe, tinham muitas coisas a serem resolvidas ainda. Tanto você, como eu.
Enfim, mesmo nesta maldita hora em que escrevo essa carta não paro de pensar o que poderíamos ter sido. Peço ao destino que me dê outra chance – quem sabe – no futuro. Que nossas linhas se cruzem novamente nessa linha do tempo, que eu tenha a sorte de te conhecer novamente. E eu espero que esteja bem, que esteja se amando e se cuidando, e mesmo que não nos vermos novamente, quero que tenha toda felicidade que merece, todo sucesso em sua carreira e que consiga concretizar seus sonhos – independentemente com quem.
Mas neste exato momento ainda marmorizo meu sentimento atualmente: nunca estive tão quebrada. Já fui em outras vezes, mas agora, não estou nem conseguindo juntar os cacos, de tão pequenos e frágeis que você os deixou.
Eu sempre fui perdidamente apaixonada por você, desde o primeiro oi online. Ainda sou, na verdade.
Mas minha paixão ficou na garota que saiu a primeira vez daquele ônibus pra me ver. Depois daquele ano, ela morreu, assim como eu.
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Carta Aberta Ao Meu (Quase) Amor
PoesiaAmores não correspondidos ou apenas poemas aleatórios que transbordam em seu coração.