Eu pude sentir a fragilidade da vida naquele momento. Em um segundo estava vivo, em outro, morto. Eu mal tive tempo para ficar em choque. A figura desconhecida veio em minha direção, procurando tirar a vida de mim também. Meu corpo involuntariamente me tirou daquele lugar com toda a sua força. Senti meu coração batendo forte no meu peito, eu estava hiperventilando, suando frio, enquanto eu estava sendo perseguido por um desconhecido. Eu nem sabia mais onde estava. Tudo o que eu sabia na hora era que minha vida dependia do quando eu poderia correr. Minha lógica foi completamente desligada, e o instinto passou a falar muito mais alto. Me senti um animal fugindo de um caçador. Tentei respirar um pouco mais devagar, tentei usar minha lógica pra me tirar daquela situação, mas tudo o que eu consegui perceber é que eu já estava perto de um rio. seria o Rio Tigre, ou o Rio Eufrates? Tudo o que eu consegui perceber é que os passos do meu caçador estavam cada vez mais próximos.
Caro leitor, o desespero de estar com sua vida em jogo é enorme. Eu já havia passado por isso no buraco negro, mas Mikhail, estava comigo. agora, estou sozinho. É muito pior. Eu poderia nadar no rio. Se eu soubesse nadar. Só depois de um tempo meu cérebro processa que aquilo é um rio, e eu nunca havia visto um rio de verdade. Continuei correndo na margem do rio, mas era tarde demais. Senti o corte na minha garganta. Senti meu corpo desabar sobre a grama macia. meu corpo é mais pesado do que eu me lembro…
“Agora você vai sentir o peso da morte.” Uma voz suave me diz com toda a calma.Tudo se tornou escuridão. E depois, a escuridão se tornou luz. Uma coisa, parecida com uma essência, sem forma física, uma coisa que eu apenas consigo sentir disse: “Volte.”
Derrepente, meu corpo estava novamente sobre a grama. Não sentia mais dor alguma em minha garganta. Abri meus olhos com o pouco de força que me restava para fazer tal coisa e pude perceber que o assassino estava me observando.
“Conseguiu sentir como é morrer?”
Eu apenas me afasto como se ainda pudesse ser morto por ele. Minha visão está completamente desfocada ainda, tudo ainda está um pouco escuro. tudo o que eu consigo ver é uma silhueta. uma silhueta que começa a se levantar e a caminhar para longe de mim.
— Espere! - Digo estendendo meus braços em busca de explicações, com o pouco fôlego que me resta.
Ele me ignora completamente e continua andando. fecho novamente meus olhos, involuntariamente. Nunca me senti tão cansado em toda a minha vida.Pareço ter dormido por horas. Acordo renovado. A vida parece valer muito mais à pena. Mas ao mesmo tempo, parece ter perdido todo o seu sentido. Me sinto aliviado. Tão aliviado como nunca me senti antes. Tento me lembrar do caminho que fiz para ter chegado até o rio. Não seria tão difícil voltar, pois a paisagem não possuía muitas árvores, apenas grama e moitas. Enquanto volto, penso em todo o acontecimento. Lembro que minha garganta foi cortada. Passo a mão sobre a garganta e não sinto nada… Como é possível? não faz o menor sentido, eu pude sentir o corte ardendo, a faca no fundo meu pescoço! eu não consigo compreender.
Acabo esquecendo do fato de que estou caminhando, de tão profundamente que me lanço à esses pensamentos.
Consigo ver a Columbus ao longe. mas não vejo o corpo de Mikhail no chão. Mikhail… Ao lembrar dele e do que havia acontecido corro até a nave, procurando pelo seu corpo. Será que alguém havia levado ele embora?
Ao chegar mais perto da nave, percebo que o corpo dele estava no meu ponto cego. Mas o que eu encontro não é o seu cadáver, e sim, ele, sentado com olhos confusos e assustados.
Minha cabeça estava fervilhando em pensamentos, quando ele me perguntou:
— O-o que foi que acabou de acontecer?
ele disse isso tão baixo e com uma voz tão assustada que eu desabei em lágrimas de medo. Eu também não conseguia entender, eu havia acabado de ver ele morrer na minha frente, e agora ele estava me fazendo uma pergunta que eu não tinha ideia de como responder. O que foi que nos matou? nós estamos mortos agora?
Abracei Mikhail como se um parente muito querido tivesse ressuscitado.
Olho à nossa volta e percebo uma coisa um tanto quanto desesperadora. A pessoa que, agora percebo, veste roupas características da época e um capuz, com tecido grosseiro, está vindo em nossa direção calmamente como se nada tivesse acontecido. Ela para longe de nós, e levanta sua mão como se estivesse dizendo: “Esperem.”Vira as costas e sai andando.
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Kronos I
Genel KurguUm jovem condenado à morte em Marte vai ser lançado num buraco negro. Mas quem sabe o que poderá acontecer com ele enquanto estiver lá? Quem sabe o que pode acontecer 700 anos no futuro? Só a incrível história de Robert Kairós pode esclarecer tudo.