Com aquele inverno cortante, vindo da Prússia Getrude passou a se consultar com um psicólogo renomado e designado pelo governo para aqueles em condições precárias. A vida ali em Dijon era mais que monótona, quando ouvi os turistas falando da cidade tinha ataques de ânsia, tudo que havia ali eram caminhões e mais caminhões de mostarda e frio. Ah, o frio, pensava que todas as vezes que dormia sentia o pesar antecipado de ter que dormir, e ao acordar com a cama quentinha teria que ir ao trabalho.
Logo, que começou a ser escutada pelo Dr. Stravogin Olav as coisas tinham se tornado amenas, afinal precisava de consolo, precisava de atenção e estava desesperada que ao completar 50 anos dali a duas semanas, seria um velha mal-amada, que nunca sentiu felicidade. Era de partir o coração.
Depois, dos rios congelarem e todo estoque de importações entrar em escassez, ela já havia contado tudo para Olav: como o marido a rejeitou por anos para ir apostar, como os filhos a renegaram, como aquela cidade havia sugado toda sua esperança. Era interminável a lista de problemas. Ali em plena terça-feira, em meio ao chá da tarde, o cheiro de cigarro e desespero ela chorava, e Olav também se desatava a chorar. Logo ao fim das 17:00 a secretária entrou novamente para avisar que seu próximo paciente aguardava, e ao ver ambos chorando em prantos, ficou sem entender, mas nada disse.
"Que homem gentil, esse Olav", pensou ela ao entrar novamente em seu escritório. "Tão prestativo e solicito, se ao menos Nielsen ou meus filhos fossem assim, pensou ela".
Ali na tarde infinita, enquanto lufadas e neve revolviam o tempo de Dijon, Gertrude tomava um novo posicionamento, perguntava e se interessava ativamente pela vida de Olav. Dessa vez os dois tomavam chá, e ela que havia trazido biscoitos amanteigados, pensava que depois de tantas décadas havia reaprendido a fazer amigos.
Entretanto, por mais obscuras que fossem as coisas ali na cidade, nada havia tomado as dimensões que tomaram ali ao fim de outubro; Dr. Stravogin que estava sendo acusado em outros países por tentativa de estupro, agora convencia todos os pacientes a um ato de epifania, uma tentativa de se tornar senhor da morte. Afinal, todos os pacientes acreditavam piamente que Olav era inocente, e não só isso, aquele homem meigo e caridoso merecia proteção e abrigo.
...
O delegado Anton simplesmente chegou à cena do crime, ou suposto suicídio, após algumas horas. Visto que naquela província pequena, não haviam nada mais que disputas de bar.
"Quando se vive por tempo demais nos tornamos Hyde, nos tornamos Macbeth; e sendo este um teatro que não posso escapar, deixo minha última atitude e ação conjunta como manifesto pra humanidade.", lia-se na placa dali a alguns metros da cena.
Ao se aproximar seu coração batia forte, sentia a respiração difícil e se recusava a ir adiante, uma vez que outra parte de si remoía em curiosidade. Viu algumas mãos estendidas para cima, nada mais que um grossa camada de gelo cobrindo uma centena de corpos abaixo do rio Suzon, todos eles nus e congelados, como aqueles mamutes conservados pelo milênio. Quiçá pensassem que seus corpos seriam conservados para a próxima era, e assim sendo aquilo seria não um suicídio em massa, mas sim, uma forma de protesto, de alcançar e morrer pela utopia.
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-5º Fahrenheit
Non-FictionEm uma pequena cidade da França, um psiquiatra de caráter duvidoso ganha a confiança dos seus pacientes, sem sequer saber que é o famoso terror do ártico.