Agdora ficou completamente isolada do mundo dos humanos por muito tempo... Não mantive registro dos anos como os homens fazem, mas mantive resgistro dos aniversários de Impérea, e este é seu ducentésimo octagésimo sexto ano de vida, o mesmo tempo faz que minha amada Maximiz se foi. Nunca a esqueci. O amor nunca morre, não importa quanto tempo se passe, ou quão diferente as coisas fiquem... O amor nunca morre.
Impérea cresceu saudável, cheia de inteligência, linda, herdando os traços finos da feição da mãe, a habilidade da magia que eu possuía, e um atributo que era somente dela; a valentia. Impérea era uma maga líder desde sua infância. Todos a respeitavam não apenas por ser filha do Mago-mor, mas também por sua influência benigna e protetora sobre todos os que habitavam nossa ilha, Agdora.
Hoje adentramos o ano predito para a convergência das espécies que habitam este planeta. É o ano dois mil e vinte e dois.
***
— Pai, precisamos conversar... — diz ela com tom inquieto.
— Diga, minha filha, o que te aflige? — respondo-lhe, imediatamente prostrando atenção.
— Você sempre me disse que era primordial que eu aprendesse tudo o que você sabe, e que um dia precisaríamos nos defender de diversas espécies e ataques externos à Agdora... Contudo, neste ano completo meu ducentésimo octogésimo sexto aniversário e nada nos aconteceu até agora! Não que eu duvide de sua vidência, mas sinto vontade de conhecer o mundo! De criar coisas novas fora de Agdora!
Neste momento senti que ela também poderia me escapar por entre as mãos, e cometi um dos primeiros erros irreversíveis...
— Impérea! Não! — disse em tom áspero ao me virar de costas para ela — Eu vim desse mundo que você quer conhecer... Você acha que estamos em Agdora por que eu desejei uma prisão? O mundo é cruel! As pessoas não são dóceis e amigáveis como aqui! O mundo é um lugar sujo e frio! Eles temem o que não podem controlar... E eles não poderão te controlar! Você está mais segura aqui em Agdora do que por aí... — pude ver a indignação em sua face esmorecida.
— O senhor espera que eu fique aqui nessa cidade perfeita para sempre? Por que não usamos nossas habilidades para ajudar a humanidade? — indagou ela com o mesmo tom de indignação.
— Minha pequena... Os humanos não vivem mais que um século... Olhe para você... Tão jovem, e ainda assim, já possui quase três séculos de idade. Nós temos a eternidade... Deixe que os humanos escrevam suas estórias sobre nós... — repliquei, agora com tom mais persuasivo.
— É isso... Enquanto não me provar valente e forte você sempre me verá como uma "pequena"... Eu sinceramente esperava conseguir mudar sua mente, papai, mas creio que isso jamais acontecerá... — disse ela, fazendo um breve suspiro.
— Minha filha, não quis dizer...
— Papai, eu te amo, mas já fiz minha escolha — ela me interrompe de forma abrupta — vou quebrar o selo de Agdora!
Impérea simplesmente desaparece perante meus olhos usando a magia de tele-transportação. Sigo-a pelo vácuo através do resíduo de matéria que fica no ar por segundos depois do uso da magia.
Ela estava perante o portal da cidade, o mesmo que eu havia criado com obsidia há séculos atrás.
— Impérea, por favor, minha filha! Não me faça... Eu não quero ter que fazer isso! — disse um tanto desesperado. Esse era nosso primeiro desentendimento. Ela era tão forte quanto eu no tangente a magia.
— Tutela obice! — ela lança o feitiço de barreira de proteção.
— Sonantis tonitrui! — invoco uma tempestade de trovões para tentar amedronta-la, mas é inútil.
— Haec placant, solve fasciculos virtute naturae matris tutela sigillum. — ela inicia a quebra do selo protetor.
— Voco ex virtute naturae est mater custodire sigillum tutela. — uso minha contra-magia para detê-la, mas parece não ser muito eficaz. Ela realmente tinha cativado não só a vida em Agdora, mas também toda a natureza fora dela.
— Haec placant, solve fasciculos virtute naturae matris tutela sigillum! — ela prossegue imparável.
Neste momento eu simplesmente desisto de tentar impedi-la. Minha superproteção deveria ter fim em algum momento de nossas existências.
— Haec placant, solve fasciculos virtute naturae matris tutela sigillum!! — ela pronuncia as palavras com firmeza... O selo se desfaz e o vento gélido do Polo Norte sopra ferozmente para dentro da ilha. Está feito.
Impérea me fita, uma lágrima escorre por seurosto e ela então se vai junto com o vento frio.
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Agdora de Hierofante: A Ilha Flutuante de Fogo do Círculo Polar Ártico
ФэнтезиO ano de 2022 reserva a revelação dos maiores segredos para a humanidade: A fantasia é real. O homem, movido pela ganância com seu espírito destruidor e aventureiro desbrava a trilha em direção a Marte, pois a Terra tem seus dias de vida contados. T...