Fraude!
Eu era uma fraude.
Eu sou uma fraude.
Uma completa e incompetente fraude.
Não havia mais esperança.
Não havia mais segunda chance.
A rachadura estava exposta.
Mas meus olhos ainda escondiam tudo muito bem.
O nevoeiro neles não deixava ninguém se aproximar.
O sorriso falso e sem graça completava o disfarce.
Enquanto houvesse distância haveria simpatia.
Simpatia por algo despedaçado e feio.
Mas eles não sabiam.
Ninguém nunca poderia saber.
O disfarce era muito bom.
Enquanto eu continuasse tentando, tudo continuaria escondido.
Eu tinha tudo o que queria.
Mas eu não tinha amor próprio.
Eu tinha tudo que pedia.
Mas a alma era inalcançável.
Eu teria tudo que desejasse.
Mas eu não tinha mais controle.
Eu queria subir aos céus.
Mas o inferno me engolia.
Você não se aproximaria se me visse de verdade.
A capa da fraude era vestida dia após dia.
E eu era uma infelicidade sorridente.
Uma angústia displicente.
Todos os erros apontavam para mim.
Todas as indecisões eram minhas.
E nada do que fiz foi por mim.
Vivi pelos outros.
Amei pelos outros.
Mas só chorei por mim.
A fraude que eu era já tinha enterrado quem eu queria ser.