ANA CHUTOU OUTRA pedra, se arrependendo logo em seguida. Seu pé começou a doer novamente com o golpe e ela tratou de pedir desculpas ao pequeno fragmento da ruína. A pobre pedra não merecia aquilo. E se tudo ali fosse mágico poderia querer se vingar - o karma, ou sei lá.
Já estava ali havia uma hora e não fazia ideia de como achar a droga da chave de portal. Nem sabia como procurar. Nem tinha mais paciência para admirar o lugar.
Já estava ficando tarde e escuro e assustador. Os turistas da ponte haviam ido embora e sido substituídos por uma nova remessa menor, cheia de fotógrafos.
Ela apenas deu mais uma volta pelo arco de entrada, mas não tinha mais vontade alguma de estar ali. Talvez devesse voltar amanhã.
Não. Balançou a cabeça. Resolveria isso hoje. Agora. Não podia perder mais tempo.
Então teve uma ideia. Saiu de dentro das muralhas do castelo e parou bem em frente a uma das torres.
Então, começou a correr ao redor, sem parar.
Os turistas ficaram confusos, mas a esse ponto nem ligava mais. Alguns chamaram sua atenção, outros só franziram o cenho e ignoraram.
Nem ela sabia o que estava fazendo. Talvez quisesse que, de alguma forma, uma porta secreta surgisse ou algo que não havia notado antes. Mas tudo que aconteceu foi ela parecer uma doida.
Então ela parou, fechando os olhos e grunhindo alto. Pegou o mapa no bolso novamente e olhou. Olhou de perto. Virou de cabeça para baixo. Enfiou o nariz no papel e quase o rasgou.
Mas nada apareceu, como o esperado.
Sem mais paciência, Ana entrou de novo em uma das torres em ruínas e se recostou na parede de pedra. Respirou fundo e olhou ao redor.
Na outra extremidade da enorme estrutura, um portal dava acesso ao interior das ruínas. No segundo andar, grandes vigas de metal suportavam as paredes e o que restara da fortaleza. As janelas, agora apenas grandes buracos retangulares, estavam interceptadas por pedras, grama e musgo, que surgiam por todo o solo do lugar, até onde ela estava.
Ana apenas observou o sol se escondendo entre as nuvens no horizonte, a luz alaranjada contra os muros de pedra gasta. Em outra vida, em outro tempo, talvez alguém como ela estivesse vendo aquele pôr do sol pelos vitrais daquela mesma torre.
Talvez alguém esperasse um ataque, a coroação de um rei ou até mesmo um horrível casamento arranjado.
Ou talvez só esperasse o fim do dia chegar para ter aquele confortável momento, mesmo no inverno, mesmo prestes a cair na escuridão. E se agarrasse àquela luz calorosa como conforto e alegria.
Independentemente do que fosse, podia considerar um dos lugares mais místicos e românticos que conhecera.
Ana fechou os olhos levemente, sentindo o calor no rosto enquanto o sol se escondia entre as colinas em seu espetáculo de boa-noite.
E então ela viu.
Quase sem tempo. Quase no momento em que o último raio dourado tocou nas pedras altas aos seus pés.
Uma refração mínima, quase despercebida.
Ana correu até a outra extremidade da torre, arregalado os olhos.
No lugar de um simples tijolo de pedra, de uma ruína qualquer, um pequeno filete de luz refletia o ato final do sol daquele dia. Nem pareceria nada a qualquer outra pessoa, mas agora ela sabia a verdade.
Com cuidado, Ana brincou com a luz entre os dedos, a sentindo driblar suas mãos e continuar seu caminho em direção ao Sol.
Então, ela puxou a mochila das costas. Precisava tirar a chave dali.
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Aurora | Adhara: Deraia - Livro I
Fantasy🏅#1 no concurso Aventuras Literárias 🏅#1 em Capa no concurso Raposa de Ouro Uma história sobre sonhos, reinos mágicos e autoconhecimento. Para Ana Foster, cujo horizonte não se limita à antiga cidade onde vive, todos temos nosso legado. Nossa hist...