Noah
Ela só deve estar gozando com a minha cara. É o que penso enquanto viro a bebida escura que está em meu copo nos meus lábios e ela desce queimando minha garganta. O que Eliza está fazendo aqui? Estou a uma distância segura dela, não há possibilidade de que me veja. Eu assisto a sua entradinha triunfal ou a merda desse tipo de camarote.
Observo quando Jack, um dos seguranças, deposita o carimbo de entrada em um de seus braços. Eliza vira para ele o olhando de um jeito meigo e impressionado, com um sorriso no rosto. Sonsa demais. Eliza está chamando a atenção com aquela camisola – porque nem a pau que aquilo é um vestido. Alguns caras na fila da casa noturna, e até mesmo os seguranças, a olham feito coiotes em frente a algo suculento. Bem, ela está suculenta. Desço novamente meus olhos por ela, agora de forma mais lenta, seguindo–a, enquanto a minha ex caminha para o segundo piso da boate. Sua roupa não deixa margens para imaginação, ela entrega tudo de uma só vez. O tecido acetinado do vestido destaca suas curvas de um jeito obsceno, principalmente com ela subindo as escadas com aqueles saltos.
Ela mexe nos cabelos rapidamente. Se a conhecesse bem como um dia imaginei, diria que está nervosa por causa de toda aquela atenção, mas mulheres como ela respiram atenção. Eliza gira a cabeça em minha direção, como se soubesse que estou a observando. Antes que nossos olhares se cruzem, viro para o bar e faço sinal para que me tragam outra bebida. Sou atendido rapidamente.
Não irei inflar ainda mais o ego dela, deixando que perceba que tem mais dois pares de olhos em seu corpo. Ela já tem o que veio buscar.
A La Fest é o "inferninho" da cidade, o único lugar onde basicamente todo mundo se reúne apenas para dois propósitos: curtir com sua parceira ou quando o letreiro "estou na pista, quero encontrar alguém" está estampado na sua cara. O que significa dizer que o fato da Eliza aparecer ali, aparentemente desacompanhada, apenas com Lorena a tiracolo – que, diga–se de passagem, é frequentadora vip da La Fest – só quer dizer uma coisa, e eu não estou nos meus melhores dias e nem bêbado o suficiente para presenciar.
– O que eu preciso é de uma garrafa – murmuro por cima da música estrondosa, mas aparentemente sou ouvido.
– Uau! Que gostos... quero dizer, que lindas! – diz Adriel ao meu lado, bebericando um tipo de bebida afeminada com frutas em seu copo plástico com desenhos e dizeres de Ano Novo. – Elas sabem mesmo como chamar atenção, está todo mundo olhando.
– Quem liga, cara – tento fazer pouco caso –, só preciso de uma mulher disponível e me mandar daqui. Com toda certeza, quilômetros de distância daquelas curvas e cabelos pretos trariam minha sanidade de volta.
– Você não está assim por causa...
Sou poupado de ter que calar a boca óbvia do meu melhor amigo quando alguém obstrui a minha visão. Pelo menos, eu achei que havia sido poupado.
– Você deve estar frustrado, já que ela não voltou por você – debocha Mylla, ficando do meu outro lado e sussurrando em meu ouvido. – E eu aqui, livre, leve e solta.
Olho duro para ela e a mulher só sorri sugestivamente, como sempre, me atiçando. As pessoas consideram Mylla como o troféu da cidade, por ser filha do prefeito e linda. Sei que é mais do que uma filhinha de papai e um rosto bonito. Apesar da sua beleza, com seus cabelos nos ombros, olhos escuros no rosto espetacular e corpo mais ainda, Camylla carrega um senso de realidade e perspectiva que poucas pessoas em suas condições têm. Ela é implacável nos negócios, sou grato por tê–la como uma de minhas sócias. No entanto, ao contrário do próprio pai, Mylla é humilde e divertida. Seu defeito é que adora me provocar, é do tipo que joga sal na ferida sem pena.
– Você sabe que ela não vai ficar sozinha a noite toda, certo?
Decido entrar em seu jogo. Abro para ela o tipo de sorriso sujo e enigmático que sei de que gosta, eu também adoro atiçá–la.
– Nem eu – afirmo.
Mylla está perfeita com esse vestido prata todo drapeado, não colado em seu corpo, apenas depositado sobre ele, como se pudesse ser puxado a qualquer momento.
– Talvez eu esteja frustrado, como você bem colocou, mas porque você não apareceu depois do evento – abro outro sorriso, de poucos amigos. Mylla gosta desse tipo de flerte. – Só para deixar evidente, nada do que diz respeito àquela mulher me interessa.
Fico de frente para ela e castigo sua boca com a minha, em um beijo feroz e excitado, ao qual retribui perfeitamente. É, eu e minha sócia temos uma relação do tipo "amor de cama", que apenas permitimos pois nenhum está a fim de algo sério, do tipo que possa comprometer nossa sociedade. Também temos algumas regras estabelecidas. Pela primeira vez, vejo em seus olhos que quebrei uma.
Merda, Noah, limites.
– Você prometeu que não faria isso – há algo em sua voz que nunca tinha ouvido antes. – Não usamos um ao outro como consolo. Lembra, Noah?
Assinto, incomodado com sua reação. Isso nunca tinha acontecido, quero dizer, essa é uma de nossas regras, assim como não se apaixonar e querer exclusividade, mas é a vulnerabilidade nela que está me desconcertando, talvez porque esteja com receio do que pode significar. E se ela desenvolveu... não, Mylla não está apaixonada por mim. Por vezes, me perguntei o porquê de não funcionarmos mais intensamente, resolveria muita coisa em nossas vidas.
Volto a olhá–la. Mylla está concentrada num ponto distante do outro lado da boate, onde posso jurar que alguém familiar acabou de entrar no banheiro feminino acompanhado de outra pessoa. Definitivamente, são do sexo oposto, não é preciso ser gênio para saber no que isso vai dar.
– Temos um problema, então – digo, analisando sua reação e querendo que converse comigo. Somos amigos antes de toda a pegação, e pelo visto ela tem um caso mal resolvido. O que será um problema na nossa "relação".
– Temos dois – ela responde, interpretando perfeitamente meus pensamentos de antes. Hahaha, nem sonhando! Eliza definitivamente é a última mulher com quem eu terei algo novamente e não, não somos mal resolvidos, o que aconteceu entre nós já está encerrado há muito tempo. – Como disse, ela não perde tempo, amorzinho – provoca Mylla.
Me viro para onde minha sócia está indicando com o queixo. Vejo Eliza dançando com um sujeito qualquer, o qual não consigo ver o rosto, visto que está de costas. Um maldito refletor virado exclusivamente em sua direção quer que eu perceba o quanto está se divertindo, sendo iluminada de cima pela luz. Permaneço olhando, observando seu rosto, seu sorriso.
Daria tudo para dizer que não estou a fitando, que vou me virar para prestar a atenção na mulher linda ao meu lado, porém, há algo em Eliza quando sorri que transforma todo o seu rosto. Ela pode ser serena e, muitas vezes, inexpressiva quando quer, mas quando sorri, repuxa suas sobrancelhas, olhos e bochechas. Não sorri apenas com os lábios, faz por inteiro. Ela pode conquistar o mundo só com aquele sorriso, com a risada meio barulhenta e meiga. É claro que não ouço o som de sua risada – nem tem como por causa da música alta e distância –, mas as lembranças são tão vívidas em minha mente quanto a realidade. Sinto como se estivesse ao seu lado. Seu sorriso é uma das coisas que eu costumava amar nela...
Será que algum dia vou olhá-la sem que me lembre de suas melhores partes? Entretanto, por experiência própria, sei que quando você ama alguém que te ferra, primeiro você odeia intensamente cada coisa que faz lembrar a pessoa, depois, você fica obcecado querendo recordar–se de tudo que configurou o que tiveram. Eu odeio admitir, todavia, em minhas piores noites, lembro do maldito sorriso dela.
Só percebo que estou apertando demais o copo em minha mão quando ele ameaça quebrar e eu sinto um pequeno estalo por entre os dedos. Dessa vez, viro o copo de uma vez, e o líquido desce feito brasa queimando minha garganta, o incrível é que não é só a garganta que está queimando. Tento não prestar atenção no sorriso de Eliza, passo os olhos pela boate, mas eles acabam no mesmo lugar. Estou ficando patético por causa daquela mulher, porra!
– Pessoal, vou convidar Lorena para dançar! – anuncia Adriel por cima da música alta e virando sua bebida (como se assim fosse lhe dar mais coragem), como sempre, pouco entendendo o silêncio constrangedor entre o trio.
– Boa sorte com isso! – Desejamos Mylla e eu juntos. Conhecemos perfeitamente a fama de arrasadora de corações de Lorena Mafra, um cara sensível como Adriel, digno de ser apelidado de cavalheiro, não tem chance. Não se faz mais caras como ele por aí.
Mylla e eu assistimos penosamente enquanto Adriel atravessa a grande pista de dança, a todo tempo reajustando seu blazer e os cabelos ruivos. Mulheres da família Mafra deveriam vir com um letreiro do tipo "PERIGO, MANTENHA DIST NCIA". Lorena vai arrancar o coração dele, foder sua mente, e, achando pouco, pisará com um salto quinze em suas bolas. Aquela mulher faz mais estrago em um cara do que tiro à queima roupa, sei disso porque a conheço bem, não tão pior quanto sua prima Eliza, mas na mesma linha.
– Aposto que ela aceita dançar...
– Adriel se apaixona e ela vai brincar com ele – completa Mylla, sem que eu conclua a frase.
– Quem vai perder essa aposta? – sou sarcástico.
– Ele!
Mylla me fita com seu sorriso cínico e metido, sugerindo que formaríamos um par perfeito por isso. Formamos uma transa perfeita, isso sim, mas sorrio por cima da borda do copo rachado. Acho que minha noite não está de fato perdida. Percebo que Eliza não está mais no lugar onde a vi antes, nem o "merdinha" que está com ela.💋 Amouuures! Acabou por aqui! Mas tem mais até o fim de agosto na Amazon! Não esqueçam de deixar o seu like, comentar e salvar na biblioteca, ok? Bjoos da Anne💋💋
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MECÂNICO ARROGANTE
RomansaAlgumas coisas simplesmente devem ficar no passado e não serem mexidas. Eliza Mafra sabe disso melhor que ninguém. De volta a sua cidade natal, dois anos depois do acidente que quase assolou sua família, ela só quer viver em paz e seguir em frente...