I. A Montanha do Deus da Floresta

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Eu nunca parei para pensar em como seria a minha primeira experiência com a morte, ou com o desaparecimento repentino, aquela sensação seca de se ver longe de algo, ou alguém que amo, mas não me arrependo dos caminhos que tomei até chegar a essa sensação. Eles me levaram até ele.

Eu tinha 8 anos quando o vi pela primeira vez, e 18 quando me despedi pela ultima vez.

E mesmo que algum tempo já tenha se passado, ainda não aceitei que ele não está mais lá, minha cabeça e meu coração ainda o sentem de perto, mesmo que eu o tenha sentido na pele apenas uma vez, na nossa ultima vez. Sempre ouvi que o tempo é o remédio pra tudo, tudo se cura com o passar dos anos e, na verdade, eu nunca vi uma mentira tão grande na minha vida. Eu nunca me curei, o tempo passou e a dor ainda está aqui, a diferença é que eu aprendi a conviver com ela, a suprir o vazio com as lembranças do sorriso. Quando doía muito, a ponto de sufocar, eu corria pra o quarto e buscava pela caixinha branca dentro do guarda roupa, a máscara ainda intacta e linda estava lá, e eu precisava abraça-la e lembrar dos braços dele, e eu n]ao tenho como definir como eram os braços dele, só que eram dele, e isso já é a melhor coisa do mundo.

Hoje eu não fico mais ansioso pelo verão, minhas lágrimas não param de cair e meu peito ainda dói, tudo esfria em noites que eram para ser quentes, mas eu continuo vivendo, como ele me pediu, e as lembranças dele aquecem o meu coração.

Eu e minha família saímos de Mokpo quando eu ainda era um bebê, minha mãe sempre disse que foi a melhor escolha que fizeram, já que na capital todos tínhamos melhores oportunidades. Mas em todos os verões eu voltava pra lá para passar as férias com meus avós, não que tivesse muito o que fazer, na verdade não tinha nada o que fazer. A cidade, extremamente pequena e tradicional, não tinha muito o que oferecer além de ruas para brincar, e florestas para se perder. E foi em uma dessas que eu o conheci.

Era uma tarde quente de verão, eu só queria explorar umas coisas por aí, descobrir novos caminhos e passar o tempo que parecia que não passava naquela cidade. Acho que de tão distraído, não notei que entrei demais na floresta a ponto de me perder, estava encantado em como tudo ali era mais vivo que em outros lugares, eu tinha a impressão que tudo tinha vida, por mais estranho que possa aparecer, então movido pela curiosidade entrei floresta a dentro. Quando dei por mim, não conseguia achar uma saída por entre as árvores, não entendi como consegui me perder, mas não demorei nem um segundo, depois de me situar de onde estava, para entrar em pânico. Todos os anciões de Mokpo, contavam que aquela floresta era tomada por espíritos. Seres que andavam por ela cantarolando procurando uma criança para levar junto com eles e nunca mais voltar para casa, Minha vontade de sair dali triplicou, passei horas rodando procurando uma saída, mas chegou um ponte em que eu estava tão cansado que não consegui mais mover minhas pernas, então sentei no chão encostado em uma árvore e chorei de medo. Minha mãe sempre me disse que eu choro por tudo, eu não concordo, apenas choro em situações delicadas, e aquela era uma situação delicada. Quanto mais eu chorava, com mais medo eu ficava.

Foi quando ele apareceu na minha frente.

- Hey, nanico! – Na verdade não foi bem na minha frente, eu ainda demorei a o encontrar. Estava a poucos metros de mim, atrás de uma árvore, e ele parecia muito estranho com aquela máscara. – Porque está chorando?

Eu nem pensei duas vezes, levado por todo o meu desespero me levantei e sai correndo com a intenção de pular em seu corpo. Oras, aparentemente ele era um humano e eu uma criança perdida na floresta, claro que eu ia ficar animado daquela forma. Mas qual foi a minha surpresa quando ele desviou depressa demais e eu caí, literalmente, de cara no chão?

- Me desculpe. – Ele disse enquanto eu tirava a grama do cabelo e me levantava, eu estava emburrado, como ele pôde me deixar cair daquela maneira? eu não tinha nenhuma doença. – Você é uma criança humana, certo? – Minha cabeça deu um nó naquele momento. – Se um humano me tocar, por menor que for o toque, eu vou desaparecer.

TODO VERÃO O MESMO AMOROnde histórias criam vida. Descubra agora