Horrores da Noite-1

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     Meu nome é Benjamin Ifeza Nocte, e eu era um meio-elfo que vivia uma vida normal em minha vila, o povoado de Alfend. Vivendo tranquilo com minha família e com um noivado preparado para a próxima primavera. Então os assassinatos começaram... No começo foram apenas um ou dois a cada mês, os aldeões desconfiavam de ser algum animal selvagem devido à selvageria dos ferimentos: corpos estraçalhados em becos, sangue espalhado pelas paredes ao redor, órgãos destruídos espalhados por toda parte, ossos quebrados, marcas de mordidas e garras...

Passado um tempo os aldeões decidiram caçar este animal, eu, meu pai e os aldeões que tinham alguma habilidade de caça partimos em busca da criatura da noite. Por dias apenas encontramos poucas pegadas, manchas de sangue seco na floresta e poucas pistas, até o dia em que saímos para outra busca, em uma noite de lua cheia... Um leve nevoeiro assolava o ambiente invernal, a neve branca caindo lentamente, nossa respiração saía em pequenas nuvens e a noite estava silenciosa e banhada pela prateada luz da lua cheia aos céus. Devido a claridade extra proporcionada pela lua os aldeões se dividiram em duplas pela floresta, eu estava em dupla com um velho amigo meu, o anão Belrom.

- O que acha que estamos procurando, Ben? Um urso talvez? -ele me perguntou por baixo de sua volumosa barba ruiva

- Nessa época do ano Belrom? Estou começando a achar que o tempo que você passa nas suas invenções malucas estão fazendo você perder alguns parafusos, velho amigo. Os ursos daqui já estão hibernando... -respondi, me agachando para checar uma marca no chão. Parecia a pegada de um cão, mas o formato e tamanho eram estranhos. Eu me virei para comentar isso com Belrom, mas parei quando ouvimos um som que assombraria meus pesadelos por anos.

Nós ouvimos seu uivo muito antes de notar sua presença, um uivo gutural e selvagem, que lembrava o uivo de um lobo atroz, cortando o silêncio noturno. Pelo som, julgamos estar a uns trinta metros dali, nos entreolhamos e com um aceno de cabeça Belrom disparou um sinalizador de luz ao céu para indicar nossa posição para os outros aldeões e fomos em direção ao uivo. O problema é que pensamos estar caçando esta criatura, mas nós é que eramos sua caça...

Após chegar numa clareira de onde achamos que tinha vindo o uivo, ficamos de costas um para o outro e apuramos os sentidos, tentando localizar a origem do uivo quando não vimos sinal algum da criatura... O silêncio reinava enquanto meu olhar disparava de um canto a outro ao redor da clareira, buscando algum indício de movimento. A Lua cheia no céu, nossa silenciosa observadora, iluminava nosso redor mas tudo o que víamos eram árvores e rochas por todos os lados. Ele atacou antes que pudéssemos ter reação, correndo numa velocidade impressionante e nos derrubando no chão. Belrom e eu caímos com gritos de dor, de minhas costas escorriam grandes fios de sangue quente por entre os rasgos que as garras da criatura fez em minha carne. Belrom não estava muito melhor com um arranhão profundo na perna impedindo-o de andar. Levantei-me com dor e tentei levá-lo para trás de uma rocha grande na clareira, desesperadamente em busca de alguma forma de cobertura. Antes de chegar lá, porém, a besta atacou novamente, não senti nenhum impacto direto dessa vez, mas o grito de horror de Belrom me dizia que ele foi o alvo desse ataque. Me forcei a olhar para ele e eu me vi segurando metade do corpo morto de meu amigo, suas pernas brutalmente arrancadas com o impacto e ataque da criatura; seus olhos sem vida me encaravam com a frieza dos mortos. Corri para debaixo da pedra levando comigo os restos de Belrom, eu não iria deixar seu corpo para ser devorado pelo monstro, ele merecia um destino melhor... Soluçando embaixo da pedra eu esperei por vários segundos que me pareceram horas de terror... O silêncio interrompido apenas pelos batimentos palpitantes de meu coração como um tambor, eu tinha certeza que a criatura poderia ouvir meus batimentos de tão alto que estavam em meus ouvidos, e apenas torcia para que os outros aldeões chegassem e me tirassem dali.

Uma dor excruciante percorreu meu corpo, e com um grito de horror eu olhei para o braço em que eu segurava o corpo de Belrom, e ali estava o monstro que o matou, agora tentando arrancar meu braço em uma violenta mordida, junto aos restos de meu falecido colega. Me prendendo a ideia de que se ele o fizesse eu não sobreviveria por tempo suficiente para levar Belrom para um devido funeral, eu dei uma boa olhada na criatura na minha frente -pelos negros cobriam seu imenso corpo numa forma semelhantemente humanoide, braços de músculo que terminavam em mortais garras que pareciam navalhas, um rosto que parecia um imenso lupino, com brilhantes olhos amarelo alaranjados que lembravam âmbar, seus dentes afiados e mortais cravados no meu braço rasgando minha pele e carne- e naquele momento se tornou impensável morrer ali. Se eu morresse não haveria garantia de que encontrariam meu corpo ou o de Belrom, ele não teria seu funeral, e eu deixaria para trás uma mãe, pai, dois irmãos mais novos, além é claro, minha futura esposa.

Nessa hora uma força dentro de mim rugiu de volta para aquela fera e eu notei uma runa estranha na pedra atrás de mim brilhar com uma luz verde intensa, vi a pele da criatura a minha frente irromper em chamas verdes. Com um uivo de raiva e dor a criatura soltou meu braço, mas parecia prestes a me atacar novamente. Nesse momento, em vários pontos em volta da clareira eu vi a luz de tochas e gritos de ameaça dos aldeões, "eles chegaram" eu pensei, antes de meu corpo desabar enquanto eu desmaiava ao lado dos restos de Belrom...

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