DEZENOVE

461 20 11
                                    

*vo quebra a sequência, fds*


Tento ao máximo me manter parada diante do espelho enquanto as criadas lutam para arrumar meu cabelo. O belíssimo vestido vermelho pesa tanto quanto as lembranças. Não sei como ainda estou sã depois daquilo, depois de trair todos os ideais que tanto conservei sobre os prateados. Agora, me vejo como uma idiota que deixa o coração falar mais alto que a razão. Ou é somente carência? Eu não amo Cal. Nunca o amei. E duvido que o ame algum dia, principalmente depois de ontem à noite.

Respirando fora de compasso, toco um pequeno e pesado amuleto dado a mim há muito tempo atrás; um medalhão de prata no formato de uma estranha estrela de seis pontas. O colar pende no meu pescoço por uma gargantilha preta, feita de um tecido macio. Um presente do meu pai. Ele me disse que o colar é muito antigo, mais velho que nosso vilarejo e até mais do que o resto. Meu pai o encontrou na floresta, o material prateado praticamente encrostado na terra.

Ele me disse que me daria sorte caso o segurasse em momentos de medo e pressão. Não estou muito diferente neste momento. Antes, eu não acreditava na sorte, em deuses ou coisas do tipo. Mas acho que é o que mais precisamos nesta noite.

Meu maior desejo era esquecer esse fantasma. Entretanto, eu preciso de forças para não recuar. E este pequeno presente do meu pai é o que está me dando firmeza agora. Por favor, que eu não me arrependa de usá-lo.

As criadas, enfim, terminam meu traje de gala: um vestido onde o vermelho predomina mais que as outras duas cores. Além das estranha escolha sobre a vestimenta, uma longa capa fina e delicada balança atrás de minhas costas. É sustentada por ombreiras em cada lado, caracterizadas por tiras prateadas. A capa parece ser invertida. O preto embaixo e o vermelho em cima.

Já pronta, saio do quarto e caminho pelo corredor praticamente vazio. No final de toda a exposição de quadros e quinquilharias valiosas, avisto Maven me esperando. Um sorriso mínimo cresce em seus lábios, causando-me uma sensação lancinante no corpo. Apesar da diferença gritante entre os dois irmãos, não posso evitar de pensar em Cal quando olho para o jovem príncipe de olhos azuis. De certo modo, ele são parecidos. Lutam por suas causas, ainda que sejam estritamente distintas.

Quando me aproximo, ele estende o braço e o tomo sem hesitar. Preciso me apoiar em alguém, mesmo que isso nos canse. Seu toque sobre minha pele me causa arrepios estranhos. Não sei se é de timidez ou repulsa. Não dele, mas de mim. A pele que Maven toca é a mesma pele que os lábios de seu irmão beijaram há uma noite atrás. 

Me sinto péssima, mas luto para não demonstrar. As lembranças querem vir, porém, as afasto. Tenho coisas muito mais importantes para me preocupar agora. Muito mais.

— Você está linda — Maven diz, ainda sustentando o belo sorriso no rosto.

Coro intensamente por baixo da pesada maquiagem.

— Obrigada — digo quase num murmuro. Infelizmente, meu falso irmão não deixa minha vaga oscilação passar despercebida.

— Algo errado?

O que você acha?

Suspiro. O nó do meu estômago se intensifica.

— Eu só quero que esta noite acabe logo, Mavey.

— Não vai acabar hoje, Rae. Vai demorar muito para acabar. Você sabe disso, não?

Eu sei. Céus, como eu sei. Mas não adianta fingir ser de ferro, uma estátua intocável. Estou muito, mas muito longe de ser assim. E, particularmente, não almejo ter essa personalidade tão cedo, apesar de tudo.

A Mais Forte (What If...?/AU) [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora