Capítulo Um

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Visita sem hora marcada.


Lindsay olhou uma última vez o ônibus amarelo antes de seguir seu caminho para casa, sentia a chuva cair em si enquanto sua respiração ficava visível em uma fumaça. Se encolheu no casaco quando iniciava sua caminhada. Não parecia chover forte nesta manhã, mas seu corpo se encontrava molhado independentemente. Ficou sozinha na escola a manhã inteira já que seus dois únicos amigos faltaram, o que a deixou incerta sobre o quão frio estava. Teve que se contentar com a vista esbranquiçada de gramados cobertos pela geada da manhã e ruas levemente congeladas.
Ao chegar em sua casa reconheceu Kim, um de seus melhores amigos, empoleirado perto da porta da frente com seu costumeiro casaco vermelho o cobrindo do impiedoso frio. Ele estava diferente, com marcas de choro nas bochechas e seus olhos estavam quase fechados mesmo com a proteção de seus óculos de grau. Assim que a garota entrou na cobertura, puxou a chave de casa no bolso.

— Boa tarde para você, gazeador de aulas. — Lindsay brincou, mas não o deixou explicar, pois logo continuou. — Está aqui a quanto tempo?

—Alguns minutos... — Kim murmurou e tremulamente ajeitou seus óculos, olhando para sua amiga albina. — Menos de uma hora que cheguei.

Lindsay suspirou e negou com a cabeça, sabendo que era uma mentira.

— Entre, me ajude a fechar as janelas de casa. — Lindsay murmurou conforme ambos entraram. — Não achei que iria chover.

—Mas já estava gelado e úmido de manhã, Lind. — Kim comentou conforme pendurava o casaco e encostava sua bota na entrada.

Após não ser respondido, Kim olhou para Lindsay e percebeu que ela estava desassociando, por já estar acostumado, decidiu se mover na casa de sua amiga para fechar as janelas. Apenas após um tempo, Lindsay se moveu ao escutar Kim grunhindo e reclamando sobre uma janela.

— Vocês precisam concertar isso aqui, sério! Já pensaram em trocar ela? Está toda enferrujada e travada!

Lindsay riu e foi subir os degraus, conversando com ele para indicar que estava de volta. — Essa janela precisa mesmo de concerto, mas não acho que meus pais tenham tempo ou vontade de consertar por agora. — Comentou, mas paralisou ao ver o cabelo de seu amigo levantar-se. — KIM! Se afasta da...

Mas já era tarde para qualquer ação. Teve apenas um breve segundo para tentar fechar os olhos para evitar se cegar completamente com a luz que invadia o ambiente. Agarrou-se no corrimão para não cair com a eletricidade que passou pelo seu corpo, apenas um estrondo indicando o ataque do trovão.
Quando pode abrir seus olhos, arregalou os mesmo em choque, vendo o corpo de Kim colidir com o chão de barriga para cima, sua cabeça perto dos degraus em sua direção, inconsciente.
Lindsay sentiu sua pele fumegar e escutava um distante zunido, a escadaria cheirava a ozônio e carne queimada. Não pensou enquanto corria para seu amigo, não cortando seus pés nos cacos de vidro por um triz. Kim estava com um sangrento ombro exposto por sua blusa que se encontrava com queimados na borda. Assim que o pegou e o moveu de lado, chegou sua respiração e batimento cardíaco. Sentiu sua cabeça ficar leve enquanto o corpo pesava e ficava entorpecida para tentar sentir algo, qualquer sinal de vida...

Kim estava...Morto...Não havia Batimentos!

Lindsay procurou seu celular ou o dele para chamar a emergência, mas seu celular estava descarregado e o de Kim ela não sabia onde. Teve que forçar a lembrar dos primeiros socorros ensinados pela sua mãe para emergências, uma excelente cirurgiã. Teria de provar o quanto havia aprendido em aulas que pareciam sem importância quando criança. Não poderia esperar com ninguém, pois cada segundo contava.
Se tivesse sorte, conseguiria o fazer voltar a vida. Limpou suas mãos na calça jeans para acalmar seus nervos e começou RCP, procurando dar respiração para Kim a cada 6 segundos. — Me dá um sinal Kim! Qualquer sinal! — Começou a gritar, tentando de alguma forma chamar a atenção de Kim, mesmo sabendo que era mais como uma prece do que um chamado, uma reza para qualquer entidade salvar seu amigo. Não iria desistir dele, mesmo que seus braços começassem a tremer, mesmo que a experiencia de sentir a anatomia de seu amigo fosse traumatizante. 

Nem Tudo É AzulOnde histórias criam vida. Descubra agora