Capítulo XXXVIII - Às estrelas

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Na manhã seguinte, os corpos haviam sido retirados das torres. De todos, somente conhecia o de Griffith e a cerimônia de despedida foi breve, com piras funerárias sendo acesas ao campo de treinamento. Os corpos foram consumidos após longos minutos. Os noviços haviam sido obrigados a permanecer no átrio até que a última faísca se apagasse.

O aperto em seu coração se devia ao silêncio que assombrava Hendrik desde a noite anterior, quando, após horas, haver sido descoberto o terror disposto no castelo. Selena segurava firme na mão do amigo do mesmo modo que ele fizera quando estava mal. Dalie fazia o mesmo. Todavia, o pior era saber que ninguém mais prestaria luto pela morte de Griffith, visto que o pai havia sido o único de sua família.

- Lynn pode ter dedo nisso - conjecturou Selena quando a pira de Griffith cessou de queimar.

Hendrik não falou nada, mas concordou com um gesto.

- Isso é muito sério, Lena - disse Dalie.

- Vamos até ela e sanamos nossa dúvida. Talvez saibamos por que razão Malthor fez isso.

Mesmo das escadas, podia ouvir murmúrios ecoarem das masmorras. E estava certa quando deduziu que Lynn podia estar tendo mais um acesso de insanidade.

A mulher lacerou um sorriso perverso, embora estivesse vendados os olhos.

- Eu peço a atenção de toda a sagrada descendência, nobres e modestos filhos de Rhoan - disse, com um movimento brusco em direção a Selena e a Dalienne. - Eu fui requisitada, ó Lua, para bem narrar os antigos acontecimentos do mundo, como lembrar dos tempos longínquos. Eu me lembro dos gigantes nascidos no primórdio, aqueles que outrora em Alphard habitaram. Nove mundos, eu lembro, nove criaturas da terra aos pés da ilustre Árvore.

"Foi no começo dos primórdios, ali na Terra Prima, quando Orion se assentou. Um vasto vazio se era. Não havia areia, nem mar e nem ondas gélidas; não havia terra para pisar e nem o céu acima. Fez-se entre Orion e seus filhos o elo que jamais deve ser quebrado."

Ensandecida, ela ria.

- O Sol se estabeleceu quando da boca de Orion setas voaram e à noite, a Lua alumiou segundo ordens do deus. - Lynn batia com a mão sobre o chão, indicando onde estava. - Inabitada era a Terra dos Alfares, até que vieram três dentre as estrelas do céu e encontraram pela terra pouca vivacidade em Odo e Embla, desprovidos de destinos. Eles não tinham respiração, eles não tinham espírito, nem pele ou sussurro; sequer boa cor; Orion concedeu a respiração, Infinito concedeu o espírito, Kyrios concedeu a pele e a boa cor.

"O carvalho eu sei que ali está, chamado Vitara, árvore alta, polvilhada. E a estrela havendo sobre a Terra dos Alfares tinha doze brilhos distintos. Todavia, quando o Sol fugiu e a Lua, ocultou-se, as trevas avançaram sobre os filhos do Caçador. Era-se esperado que permanecessem sob o arco e a aljava, mas invocaram deuses para si e com insurreição fizeram da vida sua glória."

"Portanto, os poderes do Caçador se retiraram do favor dado aos seus filhos, indo todos ao trono do destino e tornando finito o que outrora não estava subjugado ao tempo."

- E Malthor? - perguntou Selena. - Me diga sobre ele.

- Estremece Vitara, estando de pé o carvalho; geme a velha árvore, e o gigante se liberta. Ele vem tomar a herança de Odo para si, antigo dono da estrela de doze brilhos distintos. Onze brilhos se apagaram; um permanece e o décimo terceiro há de se tornar o primeiro.

"Atenta, ó Lua, para o que fui rogada a dizer: o Sol e a Lua vieram preceder a chegada da Aurora, mas só um deles atendeu. No caminho há sangue derramado pelo que se fez escolhido, o enviado à terra dos viventes como testemunha da verdadeira aurora. Decerto, porém, a Terra dos Mortos clama por vida; três serão tiradas e a última vive. A aurora resplandece nas trevas, e as trevas não prevaleceram contra ela."

Princesa de Gelo: O Legado da Aurora [Vol 1]Onde histórias criam vida. Descubra agora