43 - escolha

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Enquanto o terreno está sendo preparado, me ponho a pensar na palavra assassinar, tal como se tivesse consciência do que ela significa apenas agora. Bem, eu sei que não. Não é a primeira vez que penso nisso. Mesmo antes do Máscara Negra, já era algo recorrente para mim, mas agora é um pouco diferente.

Nesse jogo, se é que posso encarar dessa forma, o perdedor sempre morre, é claro. É isso que o CMN é, e os jornais já falavam disso. Eu já sabia, e mesmo sendo chocante, eu aceitei isso. Agora eu me pego pensando no quão isso é trágico. Logo após me impressiono por pensar em tal coisa. Uma pessoa normal não faria isso.

A gente mata porque é necessário, e isso é verdade. Igualzinho ao Exército - estou muito satisfeito em comparar essas coisas ao Exército, porque decerto é a coisa mais similar. Coisa de adestrar o psicológico. De substituir qualquer sentimento pelo instinto de lutar e matar. Qualquer coisa parecida com um inimigo não pode ser poupada de maneira alguma.

Strike não deve ser poupado.

Então por que estou assustado?

Esse sou eu: Erich, um membro do Clã Máscara Negra, e estou prestes a por cada coisa em seu lugar, pagar com a mesma moeda. Eu já sei disso, já saquei o lance há séculos. Não sou mais o antigo Erich. Tudo da minha vida anterior já acabou, foi para o túmulo com a minha velha personalidade e tal. Eu aprendi a começar uma vida do zero, como um assassino perito e sem pudor, às vezes longe de ser humano. Enfiei em minha mente a ideia de que sou parte fundamental no conserto desta cidade, de que sou um herói vivendo por um bem maior, de que posso me tornar um mártir, mas jamais deverei abandonar minha fé. E o mais relevante de tudo: aprendi que teria que assassinar para tal.

Pense por um lado positivo: devo assassinar pessoas más, as quais realmente prejudicam a todos. É o trabalho de um assassino do Máscara Negra: não hesitar em exterminar quem esteja em nosso caminho. Há um motivo em fazer desse jeito.

Acho que entrei em um consenso com minha alma. Posso ser um homicida de centenas de pessoas, mas não considerarei como uma transgressão a mim mesmo. É um pensamento muito cruel, eu sei, mas não há muitas justificativas para isso. Matar é sinônimo de ajudar neste caso. Ajudar a maioria.

Claro que isso é muito teórico. Nunca fiz isso antes de verdade. E eu preciso repetir várias vezes para eu não fraquejar na hora. Nada de remorso ou culpa. Talvez me sinta melhor se eu colocar em minha cabeça que isso é justiça, embora uma parte significativa de mim ainda lute fervorosamente contra essa atitude. Uma parte moral, quase religiosa.

Eu estou disposto. E quem sabe futuramente toda essa complexidade se torne bem mais compreensível. Eu sou um soldado, batalhando a favor de uma causa.

E batalhando contra minha própria espécie.

Eles merecem.

Descubro não sentir tanto ódio assim por Strike, nem por ele ter invadido minha antiga casa, mas é por uma questão de ignorância. Até hoje não sei quais são as causas dele, o porquê dele e de seus homens fazerem todo o mal que fazem, qual o seu trabalho corrupto nesta Célula. Eu mal sei o que está havendo na porcaria desta cidade! Strike deve ser apenas um peão nesse jogo todo, assim como eu. Contudo não é como se não fizesse diferença mata-lo ou não. Encerrar uma vida em prol de uma missão. Encerrar algo... Eu não conheço Strike, mas tenho certeza que não seria mais fácil se eu o conhecesse.

O que sucederia a mim se eu soubesse?

Tenho que me concentrar. A missão: eliminar Strike, ao menos o básico. Ele estava me caçando e sabia que eu tinha algo a ver com o CMN. Tenho que acreditar que ele acreditou em minha morte forjada, já que Franco, a única pessoa perto do meu eu civil, não está em perigo. No entanto preciso considerar todas as possibilidades e ficar com um pé atrás. Ele pode ser muito mais perspicaz do que imagino. Eu continuar existindo equivale a ser uma potencial presa de Strike. Preciso pôr um fim nisso.

Máscara Negra - ImpactoOnde histórias criam vida. Descubra agora