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A criança fugiu do edifício sem olhar para trás, cruzando com uma Isis e um Snape invisíveis aos seus olhos

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A criança fugiu do edifício sem olhar para trás, cruzando com uma Isis e um Snape invisíveis aos seus olhos. Os pés descalços e machucados esmagaram o gramado em frente à entrada do orfanato; os andrajos cobrindo o corpo magricela não eram tão diferentes dos que os elfos domésticos recebiam dos donos, embora a garota não fizesse ideia da existência dessas criaturas na época. Quando alcançou o chão áspero da estradinha de terra, as lágrimas caíram em profusão, criando sinuosidades no rosto sujo de poeira.

O céu era uma vastidão branca naquela tarde de dezembro, e os moradores do pequeno condado na Escócia escondiam-se sob casacos e cachecóis grossos. As passadas ágeis só pararam ao ver sinais de civilização, atravessando as longas fileiras de prédios geminados e se escondendo no vão entre dois carros, ao perceber a atenção dirigida a ela. Os cabelos escuros eram um emaranhado selvagem, crescendo em tufos irregulares após as freiras os cortarem durante um surto de piolhos.

— Essa foi a última vez em que fugi do orfanato — comentou Isis, estudando seu eu infantil —, pouco depois de descobrir que o meu melhor amigo havia morrido. A abadessa o fizera dormir ao relento, como uma forma de me punir. — Um casal de idosos cochichou ali perto e apontou para a garotinha acuada. — Minhas feridas cicatrizavam muito rápido e eu nunca ficava doente, já Rhys... — acrescentou ao notar o olhar indagativo de Snape.

"Implorei ao deus das freiras para que a cura parasse, que tirasse o demônio que a elas diziam se agarrar à minha alma, assim ninguém seria punido além de mim. E não é que 'ele' me atendeu? — Isis riu, embora o resto do rosto gritasse tristeza. — Porém tarde demais. Rhys morreu de hipotermia, sozinho, com medo..."

Isis não arriscou encarar Severus, conservando a atenção em si mesma até ver a pequena correr em direção ao canteiro central florido, após outras pessoas notarem a criaturinha arisca. Os acontecimentos seguintes arrancaram gritos da plateia; as freadas bruscas dos pneus precederam o estrondo da batida. A frente do carro virou um amontado de metal retorcido ao colidir contra uma parede invisível, responsável por proteger a criança do impacto. O povo não sabia se ficava estarrecido por ver a menina incólume ou com a visão do veículo deformado em um casulo ao redor do motorista.

O choque fora tanto que ninguém notou o homem bem-vestido do outro lado da rua, encarando a garota com um deslumbramento quase solene. Ninguém à exceção de Isis e Severus. Uma mecha dos cabelos castanhos caiu sobre a testa larga quando ele botou os pés no asfalto, aproximando-se do acidente sem fazer questão de disfarçar o interesse na cena caótica. O sobretudo preto, repleto de bordados intricados em dourado, movia-se com leveza ao seu redor.

Antes que se aglomerassem em volta do carro, ele puxou a menina para longe. Ela não ofereceu resistência, receosa pelo acontecido, olhando por cima do ombro a todo instante. A escuridão envolveu Isis e Severus, e a memória prosseguiu dentro de uma minúscula lanchonete trouxa. A garçonete encarava a dupla incomum — sentada em um canto afastado — com desconfiança, contudo, a julgar pela quantidade de pratos na mesa dos dois, a mulher estava preocupada demais com a gorjeta para questionar a cena atípica.

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