Lullaby

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Ele me ligou antes mesmo do café, dizendo tímido e agitado o quanto acordara elétrico e então eu não precisei roubar energia de nenhum café ou vitamina rotineira para me sentir tão animada quanto ele, ele me deu tudo isso de graça. Eu sabia que ele estava colocando a camiseta enquanto achava todas as graças no céu azul, dizendo que eu precisava levantar para ver, e só por ele eu levantei, e o ouvi falar sobre a infância em sépia dele, sobre os dois primeiros discos de vinil, os saquinhos de balinhas de caramelo e coco e a pipoca cheirosa dos circos que ele entrava escondido para assistir mais uma mágica. Ele desligou dizendo que hoje o espetáculo de nós dois, seria uma hora mais cedo, no palco de alguma nova terra, ele sorri, eu o acompanho, hoje sairíamos para enviar beijos aos 4 cantos do mundo em um ar diferente.

Fiquei olhando o céu por mais um tempinho, delirando seu nome desenhado pelas nuvens, Jungkook, repetidas vezes, em um carrossel encantado, até me sentir tonta com a reverberação de sua voz serenizada, e quando pensei em me deitar novamente, percebi que sonhei com ele antes mesmo de ter meu primeiro sono. É irretornavél agora Jungkook, todos seus detalhes estarão comigo nesse parque, especificamente no carrossel onde você me tira para dançar e essa é nossa terra paradisíaca e a circunferência ao nosso redor é embaçada, mas seus olhos são como o verniz brilhante na minha frente, constante e firme. Tenho meus olhos em você, deixe que o mundo rode, enquanto rodopiamos.

E aquele fim de manhã, de braços com a tarde me trouxe um dia tão normal que inesquecivelmente eu o tenho como sorte, quer dizer, eu vivi e abracei o mundo da minha casa naquele dia e deitei tirando fotos do teto e o instinto abraçou o travesseiro e eu deixei a impressora revelar algumas das nossas fotos, fotos que lançaram essência de baunilha na minha mesa tão branca. O tempo fez hora junto comigo, e ainda tinha a mesma feição quando no meio da tarde eu tirei alguns cochilos entre dois filmes genéricos e repetidos que passam no canal 5, e admirei as cenas informais das atrizes antigas, foi uma das minhas melhores tardes nem tão reconhecidas, eu fiz tanta coisa estável, inocente, sem produções finais além de uma memória a atravessar a rotina de dias parecidos, um dia de adjetivos ainda não caracterizados, um dia em tons de preto, branco e bordô.

Fiz e comi pudim de chocolate no sofá com edredons, colchas e cobertores, e deixei a transparência doce do frasco vazio casar com sua colher na mesinha de centro enquanto me permitia ficar mais que o tempo recomendado exposta a luz violeta de telas brancas com linhas coloridas escondidas. Então a voz ainda fraca da noite começou a lhe chamar, e eu ouvi. Tomei meu banho ao meio termo de duas unidades de tempo e a água acompanhou esse tom, vesti as roupas guardadas na gaveta baixa, e me colori com rosas em pó e com o cabelo mal lavado arrumei a cama com lençóis de pano verde como folha que imitaria a natureza ao se bagunçar com toques distraídos como as pétalas fariam ao vento.

E ele chegou na hora da sorte, sete em ponto assoviando no corredor, cantando carícias com meu nome na porta que abro para um abraço quente como chá e muitos "boa noite" na noite de ingressos vermelhos para o circo, ele disse que seu amigo o presenteou, e ele era feliz, ele disse que até o endereço, faríamos viagens de carro que ultrapassariam as divisas entre antes, agora e depois, tínhamos 2 ingressos para o outro lado da cidade e os gastaríamos ressignificando músicas da infância para um novo momento, criando e recriando as histórias que ele me contava, para dormir ou para acordar. Fomos com as janelas fechadas, mas as luzes do circo quebravam as proteções de vidro escuro, e mesmo de fora, dava pra sentir a mudança certa do nível do ar, e ver as manchas de terra seca na tintura listrada dos tecidos que faziam barracas e tendas, principalmente o palácio ao ar livre cheio de palhaços e expressões, aquele lugar parecia reunir hoje todas as épocas que já passaram e ainda conheceria mais cedo as que viriam e criariam, e do mesmo jeito que mil e um tipos de flores formam um jardim, todos lá também eram um só, assim como nós, e ele fazia questão de reafirmar isso toda vez que me beijava e ambos fogo incendiamos nossos corações já intensamente ardentes um pelo outro, e a lua pávida observava querendo estar sempre conosco porque sabia, sabia de todos as ruas sem saída naquele lugar de ouro.

Lullaby + jkOnde histórias criam vida. Descubra agora