Ice on Fire

Capítulo 1

Música: Welcome to the madness

A música tocava e Jimin fazia a coreografia no ritmo, era lindo, todos na platéia gritavam de emoção, e não era atoa, o jovem era um dos patinadores de gelo mais famoso. Os ingressos para assistirem sua apresentação tinha acabado em menos de três dias após anunciado. 

Todos queriam ver como era a apresentação de um dos artistas mais aclamados da Coréia. A música acabou, mas a vibração da platéia continuava, todos aplaudiam e jogavam buquês de rosas e presentes na pista, Jimin estava ofegante e cansado pela esplêndida apresentação, mas não deixava de emanar felicidades por ter conseguido novamente fazer com que todos sentissem o que o jovem sentia quando estava na pista, ele conseguia compartilhar seus sentimentos com a platéia.

Mas tudo isso acabou no dia em que sofreu um acidente, a luz que Jimin tinha se apagou, e junto com ela a bondade e generosidade do pobre garoto. O jovem havia ido embora após sua apresentação, mas o carro em que estava perdeu o controle, os freios pararam de funcionar e o automóvel capotou, Jimin sofreu ferimentos graves, mas o que mais o marcou foi ter ficado cego. Após o carro capotar, os vidros do carro quebraram, ficaram em pedaços pequenos, e entraram nos olhos do jovem, deixando-o cego. Mas uma notícia era boa, não era cegueira permanente, poderia voltar a enxergar após realizar um transplante de córnea, porém só seria possível quando houvesse um doador.

Após aquele dias, Jimin esperou, esperou muito tempo, mas sempre que havia alguém, algum problema surgia, o coitado estava cansado de esperar, queria voltar a patinar, a sorrir novamente pois era a única coisa que o fazia feliz. 

Jimin não tinha pais, era sozinho, e ficar assim como estava era o maior desafio que tivera enfrentado até seus amigos vinte e quatro anos. E depois do acidente não havia saído nenhuma vez de casa, era difícil sair e não conseguir ver o que via antes, mesmo assim Jimin tentava não se render, se alongava em casa, mesmo com a ajuda de seu empregado Kim Taehyung, que era mais como um amigo, mas era difícil para o Kim.

Jimin havia mudado depois do acidente, ficou grosseiro, e com um pavio muito curto, mas claro que o jovem empregado o compreendia, pois sabia das dificuldades que o loiro havia passado após perder a visão, e o quanto era difícil, ele teve que mapear a casa, saber onde ficava cada cômodo, e se acostumar a andar com a ajuda de uma bengala e um cão guia, mesmo assim Jimin era forte, forte demais.

Kim ajudava Jimin a tomar banho enquanto cantarolava a música preferida de Jimin, a música que o loiro costumava ouvir antes de se apresentar, pois o acalmava.

— Jimin? — O ruivo perguntou, parando de esfregar as costas do outro.

— Hum?  

— O que acha de sairmos hoje? Está um clima muito bom lá fora.

— De novo esse assunto, Tae? — O loiro respondeu levantando-se da banheira.

— Você está muito pálido, precisa pegar um pouco de sol. — Pegou a toalha, cobrindo Jimin e segurando-o para sair do banheiro.

— Eu vou sair, mas não por enquanto. 

— Sim, quando você conseguir ver como antes, não é? — indagou colocando a última peça de roupa em Jimin.

— Não quero que sintam dó de mim, Tae, quero que me vejam como antes, quero conseguir patinar novamente. — Pegou sua bengala, e caminhou até a janela aberta, sentindo o vento correr.

— Jimin, a única pessoa que sente dó de você, é você mesmo se trancando aqui dentro.

Jimin continuou calado, sabia que não valia a pena aquela conversa, já haviam conversado tantas vezes, mas o Kim não compreendia. E Jimin gostava do silêncio, pois ao menos assim ainda poderia ouvir os pássaros cantando.

Taehyung saia do quarto, voltando a suas tarefas, quando ouviu alguém bater na porta. Foi atender, e lhe entregaram uma carta a qual o Kim a recebeu após assinar. Tomou a liberdade de abrî-la, era mais um convite para Jimin ir a apresentação de uma jovem que vinha ganhando o público, e aos poucos o lugar de Jimin, que estava sendo esquecido.

Jimin ouviu a batida, e logo desceu a escada com sua bengala, o ruivo tentou esconder, mas era impossível e acabou a entregando ao jovem. Jimin passou os dedos na carta, que também era em braille, e depois de alguns segundos pôde notar do que se tratava, rasgou a carta em pedacinhos e a jogou no chão.

— Jogue isso fora, não quero mais nenhuma carta desse tipo na minha casa! — exclamou alto, com raiva, e não era para menos, Jimin estava sofrendo, e a companhia de patinação mandava cartas para confirmar sua presença sempre que podiam.

— Jimin, porque ao menos não os cumprimentamos? 

— Você quer ir, Tae? 

— Eu quero que você vá!

— Pra rirem de mim? Pra verem como estou? Para depois comentarem como eu desabei em tão pouco tempo, Taehyung? — Respirou fundo. — Eu não quero que saibam como estou, não quero ir em um lugar que um dia eu estive feliz!

— Tudo bem, Jimin, eu.. eu entendo. — Aproximou-se o abraçando.

— Não, Tae, você não entende. — O loiro falou, se distanciando e subindo para o quarto.

Jimin deitou-se, lembrando de como tinha uma vida feliz e não sabia, ao menos fazia outras pessoas felizes com sua apresentação, era emocionante, excitante, mas acima de tudo era como se quando deslizasse pelo gelo, estivesse em outro mundo, criado por si para esquecer os problemas do mundo real. 

Seus pensamentos cessaram no momento em que novamente ouviu a campainha. Desceu as escadas o mais rápido que pudesse, para pessoalmente pegar as malditas cartas que deixavam ali.

— Entregue-me! — gritou, assim que abriu a porta.

— Senhor? — O jovem do lado de fora respondeu, surpreso. — Entregar-lhe?

— Não são as malditas cartas novamente? 

Kim Taehyung logo surgiu, atrás de Jimin.

— Senhor Jeon Jungkook?

— Sim, estou aqui como combinado mais cedo — falou, encarando Jimin da cabeça aos pés. 

— Quem é esse, Tae?

— Ele.. bom, eu contratei um acompanhante.

— Para que? Você já sabe que não irei sair de casa! — Jimin gritou, novamente.

— Senhor Jimin, prazer, sou Jeon Jungkook.