MICHELLE

22

Naquela manhã Camila acordou tarde. Sentiu os raios de sol que entravam pela janela aberta queimarem a pele do seu braço descoberta. Abriu os olhos com dificuldade por conta da claridade e desejava dormir mais um pouco. Estava tão cansada que nem ouvira os galos que cantavam ao nascer do sol. Olhou o relógio encostado na parede que indicava o horário próximo ao meio-dia.

"Tenho que levantar" pensou para si mesma, mas o barulho vindo do andar de baixo fez ela se sobressaltar. Alguém batia na porta. Sem enrolar mais um segundo sequer, Camila levantou de uma vez recolhendo um robe quente para tapar o pijama amassado que vestia. "Quem pode ser?"

Assim que desceu as escadas deu um pulo em direção a porta e sem espiar quem era a abriu dando de cara com a mãe de Courtney. A mulher que era a exata imagem da filha, só que anos mais velha tinha um olhar desesperado e fez Camila entrar em pânico sem saber o que acontecia.

— Bom dia Camila, eu preciso perguntar, você viu a minha filha essa noite?— Angela McCullers soltou as palavras de uma vez, sem um sorriso ou simpatia, sua voz emitia pânico e o coração de Camila começou a bater mais rápido.

— Não Angela, eu não a vi desde que cheguei aqui ontem.— mentiu ajeitando a postura e as pantufas nos pés que haviam escorregado. A senhora McCullers parecia decepcionada.

— Oh, ela não veio dormir em casa ontem, imaginei que passara a noite com nossos vizinhos, os Wilson's, mas passei lá agora pouco e eles não faziam ideia de onde ela está.

Camila entrou em um estado de choque assim que se lembrou que um dia atrás encontrou a garotinha com Michelle no meio da floresta, de repente entrou em pânico e ao mesmo tempo se sentiu culpada. Deveria ter mantido Michelle em casa e não dar toda essa liberdade…será que ela estava com Courtney?

— Sua esposa por acaso a teria visto?

A menção da palavra fez ela se apavorar ainda mais e balançou a cabeça rapidamente em negativa. Não, não poderia ser, Michelle não…

— Miche…Lauren— limpou a garganta.— Lauren, minha esposa, não, não, não estava se sentindo bem ontem, está deitada, passamos a manhã toda juntas, não a vimos, sinto muito.— Camila falava com rapidez, seu nervosismo era palpável, mas a mãe desesperada não pareceu notar, já começou a pensar em outras dezenas de possibilidades de para onde sua filha teria ido.— Mas podemos ajudar…

— Está tudo bem.— a mulher interrompeu.— Eu e meu pai vamos procurar mais um pouco, qualquer coisa eu te aviso.— e sem esperar uma resposta a mulher se afastou, olhava para todos os lados esperando encontrar a filha em algum lugar, qualquer lugar.

Não poderia ser coincidência, Camila pensou ao fechar a porta e assim que as engrenagens na sua cabeça começaram a girar, ela começou a gritar procurando pelos cômodos da casa.

— Michelle!— não estava na sala.— Michelle!— ninguém na cozinha e muito menos no andar de cima. A mulher se desesperou completamente, sabia que tinha algo de errado acontecendo e se culpava por isso.

"Eu deveria ter sido mais cautelosa, não posso confiar nela."

Ainda de pijamas Camila saiu de casa pela porta dos fundos, a que saia da cozinha, viu que ninguém estava por perto e correu em direção às árvores, sabia que ali era o caminho para o mesmo riacho daquele dia e tinha a impressão de que poderia encontrar ao menos Michelle ali.

Tropeçou nas pantufas de coelhinhos enquanto tentava andar por entre os gravetos no chão, teve que segurar em uma árvore para se equilibrar. O sol estava forte e iluminava bem, mas as árvores altas e densas escureciam um pouco o caminho.