ELA DISSE NÃO.

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Waller, Texas - 7h57

Brunna

Acordei sentindo minha cabeça latejando. O sol entra pela janela do quarto, iluminando cada canto, me fazendo piscar algumas vezes afim de acostumar com a claridade. Tento me mexer e sinto braços firmes a minha volta, me prendendo como em uma jaula. Só então percebo que Ludmilla me abraça forte enquanto eu estou deitada em seu peito. Estranho o fato de me sentir confortável estando próxima a ela. Com certa dificuldade, consigo me desprender de seus braços e saio da cama indo até o banheiro. Fecho a porta, tirando a roupa logo em seguida e entro no box. Ligo o chuveiro sendo presenteada com o jato de água gelada. Minha cabeça estava uma bagunça assim como meu emocional.

Minha vida virou de ponta cabeça de um dia para o outro.

Esfrego a bucha em meu corpo tentando organizar meus pensamentos, a sensação da espuma se fazendo sobre minha pele era relaxante e me ajudava a pensar direito. Eu havia perdido uma pessoa incrível e importante, o vi morrer na minha frente e isso colocou não só minha vida em risco, mas a todos que eu conhecia. Eu não achei ruim o fato de ter que me mudar pra um lugar quase no fim do mundo, nasci e cresci em uma cidade do interior, então esse era o menor de meus problemas, o que me incomoda de fato era a pessoa que estava encarregada de me "proteger". Ludmilla é extremamente grossa e hostil, deixa claro que não quer estar aqui e debocha sempre que pode do serviço que lhe foi encarregado. Sem querer, acabei ouvindo sua conversa no telefone ontem e deduzi que era com seu chefe, ouvi ela dizendo que estava aqui de babá, o que realmente me deixou irritada. Eu não sou nenhuma criança e não queria estar aqui tanto quanto ela. Fui obrigada a abandonar minha vida e meus sonhos em Nova York e não sei se poderei recuperar o que me foi perdido.

Termino meu banho, saindo do box já me secando. Quase caí de cara no chão quando levei um leve escorregão por estar com os pés molhados, mas consegui me segurar. Larissa vivia me dizendo que para a ex bailarina que fui até os 15 anos, eu sou bem desastrada, o que não deixa de ser verdade. Sorri ao lembrar de minha amiga, eu sinto falta dela e de suas brincadeiras idiotas e piadas sem graça. Até mesmo sua depravação agora me fazia falta.

Saio do banheiro e me deparo com o quarto vazio. Ótimo, a ogra já acordou. Vou até o armário e coloco um short branco de malha e uma blusa de alcinha rosa bebê. Me encaro no espelho, vendo o estrago que a noite de choro me fez, meus olhos estão inchados e olheiras horríveis os rodeiam. Termino de me arrumar e olho pela janela, o dia está bonito, nem quente nem frio, mas o sol está um tanto forte, típico do Texas. Desço as escadas e vejo um prato de panquecas com ovos mexidos em cima da mesa. Olho ao redor e não vejo nenhuma sinal de Ludmilla. Por mais brutamontes que ela seja, eu me sentia segura com ela por perto. Sei que se algo acontecer, mesmo me xingando, ela irá me proteger, afinal é o trabalho dela.

Me sento a mesa, me servindo um copo de suco de laranja e começo a comer. Devo admitir, ela cozinha muito bem. Quando termino, lavo a louça e saio na varanda da casa. Haviam alguns agentes do lado de fora que me cumprimentam com um aceno de cabeça e mais alguns espalhados pelo terreno, segurando armas enormes e pontudas. Me sento no balanço branco de madeira que havia ali e observo ao redor. O céu azul, sem muitas nuvens, o sol brilhando na esperança de nos trazer um pouco de alegria, o gramado verde tinha um cheiro maravilhoso e as enormes árvores em volta deixam tudo ainda mais incrível. Respiro fundo sentindo o ar fresco encher meus pulmões e me permito sorrir minimamente, as condições não eram as melhores, mas na medida do possível, tudo estava bem.

Cansada de ficar observando o revoar dos pássaros, subo novamente afim de encontrar a única coisa que fiz questão de trazer comigo, meu velho companheiro de viagem, um livro que ganhei de meu primo assim que me mudei para Nova York. Volto até a varanda e me sento ali, com uma xícara de café e reinicio a leitura aonde havia parado. Não sei ao certo quanto tempo se passou, depois de cinco páginas e meia, ouvi o pisar nos cascalhos e levanto a cabeça. Ludmilla caminha até a entrada da casa, imponente como sempre. O nariz sempre empinado dando um ar de poder, a mandíbula trincada, os ombros sempre tensos, ela tinha um óculos escuro no rosto, o que realmente era uma pena, pois eu adorava seus olhos. Usa uma regata preta apertada, que marca nitidamente seu corpo definido, uma calça jogger também preta e coturnos de couro. Devo admitir, por mais grosseira e mal educada que seja, ela é extremamente linda e atraente.

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