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— Corbyn, eu posso tomar banho sozinha. — Gesticulo, em uma tentativa desesperada de ter um pouco de liberdade.

— Eu sei, mas quero te ajudar. — Me namorado diz, ao que está parado em frente a porta do banheiro com as mãos na cintura. O observo, a procura de algum sinal de que ele vai desistir e quando não acho, bufo.

— Tudo bem. — Passo por ele e começo a me despir, de costas para o mesmo. Ele não faz nenhum barulho, parece que tem medo de me machucar até com as palavras. Ao ver minhas peças de roupa caírem no chão gelado, me lembro de todas as cicatrizes que agora possuo e sinto um pouco de vergonha, então entro na banheira o mais rápido possível e deixo que a água morna cubra o meu corpo. — Sabe, já faz um mês desde que eu sofri aquele acidente.

— E? — O loiro se aproxima e senta de frente para a banheira. Ele toca o líquido com uma das mãos, transformando a calmaria em um pequeno cismo.

— Eu tô bem. — Miro seus olhos azuis. Os olhos que tanto amo e que me olham com tanto cuidado. Meu namorado suspira de forma pesada.

— Você não faz idéia do que eu senti quando vi aquela moto bater em você — Ele abaixa o olhar. — e do que eu senti quando soube que o nosso bebê... — Corbyn não termina a frase. Ele não consegue falar sobre isso.

No momento em que desci a rua correndo, acabei sendo pega por uma moto e além de ter torcido alguns ossos, perdi o nosso filho. Não estou nem perto de me sentir tão mal com isso quanto o garoto a minha frente. Entretanto, meu coração está machucado também.

— Sinto muito. — Digo e afundo na banheira, ao passo em que fecho os olhos e deixo meus pensamentos ecoarem mais alto no silêncio que a submersão me proporciona.

A culpa é toda minha.

Depois do banho, Corbyn decide ir buscar algumas roupas em casa. Voltamos para Los Angeles assim que o médico permitiu e ele dorme aqui todos os dias desde então.

Depois de algum tempo em completo tédio, me encaminho até o quarto de Hailey e faço menção de bater na porta, porém a encontro entreaberta e o conteúdo da conversa que a morena está tendo no telefone me deixa interessada.

— Ele passa todas as noites aqui. — Ela diz e eu me aproximo um pouco mais, para tentar entender melhor. — Não é tão fácil quanto parece, Lottie. — A garota bufa. — De que tipo de provas estamos falando? Grampear o quarto da Kaia? — Meu corpo todo fica tenso, ao passo em que me encosto na parede ao lado da porta. — Ela não conversou comigo desde que voltou, talvez tenha ficado chateada, afinal, fui eu quem contei pro Corbyn sobre a gravidez.

Não é preciso ser um gênio para entender a conversa de Hailey. Depois de tudo o que aconteceu, eu não me lembrei de ficar de olho nela e também não parei para pensar sobre o fato de que ela abriu o bico para o meu namorado. Ainda assim, ela estar falando para mais alguém sobre e ainda por cima cogitando grampear o meu quarto é, no mínimo, preocupante.

— Eu vou conseguir provar que a Kaia engravidou do Corbyn e perdeu o bebê. Nosso portal vai ficar famoso com isso, pode ter certeza. — Ao ouvir essa sentença, quase dou um grito de horror. Percebo a movimentação dentro do cômodo e corro escada abaixo, em seguida pela sala e acabo esbarrando em Syd.

— Ai! — A morena reclama. — Tá doida?

— Foi mal. — Digo, nervosa e com a respiração acelerada.

— Aconteceu alguma coisa? — Detecto preocupação em sua voz. Minha amiga arregala os olhos e me toca suavemente. — Você tá bem? — Olho ao redor e quando constato que Hailey não está por perto, puxo Sydney para a cozinha e sussurro:

— Eu ouvi uma conversa da Hailey no celular. — Antes que a garota possa reclama que é errado, tapo a boca dela. — Pelo que eu entendi, ela quer divulgar que eu fiquei grávida e precisa de provas.

— O que? — Graças à Deus a minha mão abafa o grito de Syd, mas ela logo se livra do meu contato. — Isso é sério? — Apenas assinto. — Ela é tipo uma espiã?

— Acho que ela é uma daquelas meninas que dedicam a vida a postar informações sobre os meninos. — Observo Sydney arquear as sobrancelhas, surpresa. — Antes de tudo isso, eu peguei ela ouvindo uma música deles e fiquei desconfiada. Fui no quarto dela hoje pra conversar com alguém que achei que não iria me tratar como se eu fosse de vidro, mesmo com uma pulga atrás da orelha. Ouvi tudo muito bem, ela falou sobre um portal e tudo mais.

— Em primeiro lugar, você é um bebê que precisa ser tratado com amor, principalmente agora. — Ela aponta o dedo na minha cara. — Em segundo, — Sua voz fica mais baixa. — o que nós vamos fazer em relação a isso? — Cruzo os braços e ponho o meu cérebro para trabalhar. Nesse momento, a porta da casa se abre e ambas damos um pulo no lugar. Ao nos encaminharmos para a sala, temos uma bela imagem de Corbyn e Abby conversando. Por ambos serem loiros e muito bonitos, eles parecem irmãos.

— A gente conversa mais tarde. — Sussurro. — Vieram juntos? — Meu sorriso sai forçado, mas duvido que algum dos dois perceba.

— Sim, — Meu namorado se aproxima e me dá um selinho, em seguida franze o cenho. — já comeu?

— Não, — O cinismo na minha fala é evidente. — pretendo fazer uma greve de fome.

— E pelo quê você tá protestando? — Ele pergunta.

— A favor de vocês todos me tratarem que nem gente. — Solto, ríspida.

— Deixa de ser chata. — Abby diz, atrás do loiro. — A gente só tá cuidando de você.

— Eu não sou criança!

— Mas tá agindo feito uma. — Sydney rebate e eu me viro para ela.

— Inferno! — Cruzo os braços e observo o cantor soltar uma risada sincera.

— Vem, meu neném. — O garoto passa os braços ao redor do meu pescoço e me encaminha de volta para o andar de cima. Antes de entrarmos no meu quarto, miro a porta de Hailey e fecho a cara.

Me sinto em um episódio de Blindspot, mas não de uma forma emocionante. Não acredito que coloquei uma fã maluca dentro da minha própria casa e que depois de conviver conosco ela está disposta a fazer coisas maldosas.

Sorte a minha que há sempre uma máscara de vadia má disponível para que possa usar quando necessário.

𝒄𝒍𝒊𝒄𝒉𝒆 ↺ corbyn bessonOnde histórias criam vida. Descubra agora