Fumaça, pólvora e sangue

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"Nas Águas de Sentina não vamos brincar,

 lá tem piratas e monstros do mar.

No fogo em brasa as armas forjar,

justiça e honra ao mundo levar,

se monstros dormem na escuridão,

vamos pular num navio grandão,

mas se o pirata malvado surgir,

corram pra casa ou vão sucumbir".

A melodia repetia em sua mente como um disco arranhado, e ela conhecia aquela voz, de quem era? Ela não conseguia se lembrar, não havia um rosto, um corpo, só risos como pequenos sinos e aquela canção que, por algum motivo, trazia um aperto no peito. Quantas lembranças passando como um filme tosco em sua mente, fios longos dourados como raios de sol, um coração aquecido como as águas do verão e então... Só havia sangue. O vermelho tingindo tudo de tristeza e ódio, sangue, ganância e pólvora, o cheiro da morte, um corpo retorcido e banhando em um mar rubro. A canção arranhando seus ouvidos como se fossem gritos, ela acorda e percebe que esses gritos, na verdade, eram seus.

Não é como se essa fosse a primeira vez que ela acabava sonhando com a morte dos seus pais, com o dia em que um pirata maldito roubou suas vidas, o dia em que ela também deveria ter morrido.

▬ Não... Naquele dia eu também morri, uma parte de mim foi deixada naquela oficina em chamas e o que saiu dali com um suspiro de vida e um corpo criticamente ferido não era eu. Era um monstro. ▬ Após um suspiro cansado, ela permite que seu corpo se acalme aos poucos, os batimentos, a respiração, os tremores. Só depois é que ela se levanta, olha para a estátua de macaco que conseguira roubar em uma de suas caçadas e sai da cabine do capitão, ou seja, a sua cabine, porque ela é que comanda aquele navio a quem deu o nome de A Sereia, e sua tripulação de Yordles e homens que se juntaram ou por quererem uma aventura, ou fugir de suas mulheres. Quem era ela pra saber ao certo ou julgar?! O importante é que depois de anos se aprimorando e planejando acabar com Gangplank, ela finalmente conseguiu destruí-lo e humilhá-lo diante de toda Água de Sentina, ou pelo menos era isso no que acreditava, na verdade, ele havia escapado e agora ela tinha, novamente, que correr em sua busca para saciar seu desejo de vingança.

▬ Querendo ou não, às vezes temos que fazer acordos com demônios para que um objetivo seja alcançado e eu achei, eu realmente acreditei que tudo tinha acabado. Mas ele escapou... Maldito.

▬ Capitã! Avistamos terra, mas nada do navio daquele patife. Ele se perdeu na névoa depois de sair da ilha. ▬ O homem engoliu a seco sob o olhar de fúria lançado por sua capitã e se apressou em completar. ▬ Mas... Mas... Veja! Ele só pode estar em algum lugar desse continente, ouvi de dizer lá no cais que ele foi contratado por um viajante cheio da grana pra explorar umas terras encantadas...

Novamente ele se cala, assustado demais para continuar porque se o olhar de Miss Fortune já era considerado fatal, o sorriso era ainda pior, porque ela não costumava sorrir, a não ser para a morte daqueles que ela caçava.

▬ Terras Encantadas, hein? O que será que aquele porco do mar está querendo agora? ▬

Fortune observou seus vassalos prepararem o navio para ancorar próximo àquelas terras desconhecidas, seus cabelos vermelhos ondulavam ao vento seguindo a direção das majestosas velas que erguiam-se em direção ao céu, um céu tão límpido e azul, tão diferente do céu tosco e sem brilho das Águas de Sentina, aquele lugar realmente parecia encantado, ou talvez só não estivesse afundado em morte como o lugar de onde ela veio.

▬ Vamos ver o que tem nessas terras, homens. Fiquem atentos a qualquer sinal daquele maldito, caçar em nosso território não é fácil, caçar em terras desconhecidas pode fazer com que viremos a presa.

Ela colocou seu chapéu que, por incrível que pareça, lembrava a silhueta de um navio, desceu para os botes e fixou seu olhar no horizonte, para as imensas terras banhadas de verde florestal e grãos de areia dourada como ouro, se não era uma terra encantada, certamente era uma terra sagrada, não havia cheiro de podridão no ar, era até difícil respirar aquele ar puro, fazia o nariz coçar, talvez ela estivesse acostumada demais ao cheiro de cadáver.

▬ Ah, Gangplank, você vai pagar o preço... Eu vou garantir que dessa vez sua cabeça esteja em minhas mãos, bem longe do seu corpo. 

League of Legends - A Magia PerdidaOnde histórias criam vida. Descubra agora