INUSITADO
Por Sergio Viula
“A aventura não depende apenas do encontro com o inusitado, ela é, antes de mais nada, uma disposição do espírito.” – Contardo Calligaris
Rodrigo sempre curtiu mais a pegação virtual das salas de bate-papo do que caçar na savana do mundo real correndo o risco de virar presa de algum golpista violento. Dono de uma compleição gentil, quase andrógina, sua fantasia predileta era fazer strip-tease em frente a webcam. Encontrar gente interessada em sexo era fácil. Difícil era encontrar alguém interessado em bunda, exclusivamente. Como Rodrigo tinha uma trolha avantajada, muitos caras deixavam de dar atenção àquela bundinha lisa, durinha e disponível, para se concentrarem naquele pedaço de carne pulsante e cabeçuda que dividia suas pernas. O dotadão, porém gostava mesmo era de ser enrabado, preferencialmente várias vezes na mesma noite. Quando saía, queria o máximo de prazer. Quem diria que aquele rego com carinha de inocente pudesse ser tão experiente? Mas, ele sempre selecionava cuidadosamente seus parceiros, de acordo com seu desejo, para evitar levar para cama algum passivo fingindo-se de ativo. E, por isso, uma vez na cama com Rodrigo, dificilmente algum peregrino resistia ao chamado soberano de lançar suas cargas porta adentro daquele templo de desejos.
O procedimento habitual, quase um ritual, era entrar na sala de bate-papo, fazer seu show particular, e se o bofe mostrasse nitidamente que queria aquele traseiro mais do que qualquer outra coisa, então Rodrigo puxava conversa para conhecer melhor a possível nova aquisição. O papo tinha que ser gostoso, sacana mesmo, mas quando se tratasse de alguma informação pessoal, tinha que ser coerente. Mentiras eram facilmente detectadas e disparavam o sinal de alerta. Ele precisava ter certeza que não seria alvo de algum doido. Só depois desse processo de seleção é que ele sugeria um encontro, sempre no mesmo motel, próximo à Praça Tiradentes, no centro do Rio. A cidade era maravilhosa, mas o hotel nem um pouco requintado. Ele dispensava quartos com mimos tais como banheira de hidromassagem, sauna, e coisas semelhantes. Como seu objetivo era unicamente o de trepar, cama e chuveiro eram suficientes. Música ambiente era desejável.
Rodrigo nunca repetia um encontro. Bastava uma noite para que ele perdesse o interesse no parceiro. Até podia ter uma ou outra lembrança digna de uma punheta, preferencialmente com a assistência de um consolo de silicone na medida certa de seu desejo, mas nada mais do que isso. O dadivoso internauta nunca se comprometia com seus parceiros de aventura – o que só fazia aumentar a lista de garanhões que já o haviam enrabado – homens capazes de trepar três a quatro vezes numa noite sem qualquer blackout na ereção. Isso, porém, não excluía uma ou outra decepção, como quando saiu com um cara lindo, muito bem dotado, mas que mal conseguiu dar umazinha até o fim. A beldade broxou várias vezes antes de gozar e não havia graça que fizesse aquele “pauralítico” levantar. Fracassos eram, porém, raríssimos, quaisquer que fossem as razões.
Numa dessas investidas na sala de bate-papo, Rodrigo foi contemplado com uma oportunidade rara e inesquecível de prazer. Ele já tinha tentado pegar alguém várias vezes naquela noite, mas ficou no vácuo.
- Será que não tem nenhuma ativa online, porra? – perguntava-se impacientemente, já pensando em desligar o computador e sair para comer alguma coisa no quiosque da esquina. Quando clicou no menu para abrir a opção “desligar”, uma última frase chamou sua atenção:
- Privado?
O apelido do cara que fazia o convite era “ativo-quer-passivo”. Sem pensar duas vezes, Rodrigo aceitou o convite, já com a câmera direcionada para a bunda, mesmo que ainda oculta por uma cueca estilo boxer, branca, de cós preto, onde a marca Calvin Klein em letras garrafais parecia um letreiro garantindo a qualidade do produto. Os dois tinham microfone e podiam conversar. A voz do ativo-quer-passivo era deliciosamente masculina. Parecia até dublador de galã americano em filme de cinema.