O Céu Cor De Laranja

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Boa leitura!

"O Céu Cor De Laranja"

Diego Sant'Anna

Não importava por onde eu andava, não escutava os sons dos meus próprios passos e não via as cores ao meu redor. Parecia que era um eterno sonho, onde eu não tinha controle de nada. Sabia que estava ali, sabia que tinha que tomar as rédeas, mas não conseguia. A cidade parecia a tela de um quadro em preto e banco, sem ninguém ao meu redor.

A culpa, o arrependimento, podem nos consumir. Aquele dia todos os meus medos, minhas dores pareciam ter tomado forma e estavam andando ao meu lado. Cada lembrança era um machucado sem cura, que por mais que eu tentasse curá-lo, lá estava ele novamente sangrando.

Como eu poderia me perdoar pela dor que eu causei a alguém? Como eu poderia seguir em frente por ter magoado alguém de uma forma que eu nunca imaginaria poder magoar? Naquele dia, minhas lágrimas estavam descendo pelos meus olhos com tanta naturalidade que pareciam fazer parte de mim. Um rio que fluía sem pedras e sem bifurcações terminadas em uma grande cachoeira. Onde em sua queda, as águas se espalhavam tão poeticamente que pareciam estar vivas, ou até conscientes.

Então eu subi as escadas de pedra do prédio onde morava, bem devagar. Analisando cada degrau, pois minha cabeça sempre baixa, já conhecia bem as cores do piso. Abri a porta da cobertura, a vista da cidade era enlouquecedora. As nuvens se desenhavam em suas mais variadas formas por toda a tela que se chama céu e no horizonte, para deixar a pintura mais bonita, o sol ia se pondo e tudo estava alaranjado. Foi o que, com certeza, eu veria se naquele momento minha cabeça não estivesse baixa, as lágrimas não estivessem escorrendo e meu mundo não estivesse todo em preto e branco.

Eu subi na beirada do prédio, pela primeira vez e senti o vento tocar meu rosto. Fui balançando de um lado para o outro – "Será que vão sentir a minha falta?", "Será que amanhã aconteceria algo de bom comigo?", "Eu só quero que a dor pare!", "A culpa é toda minha. Não tem o motivo de eu estar aqui." – Fechei meus olhos e meu corpo, como se estivesse sido treinado, se inclinou para frente. Eu senti o peso nas minhas costas me pressionar, era a gravidade me fazendo descer. As lágrimas em vez de estarem indo para baixo, agora com a força do vento estavam subindo e evaporando pela velocidade da queda. Tudo ficou escuro e eu não sentia mais nada. Eu não via nada, nem sabia que estava a pensar em algo. E tudo acabou!

*

Aquele dia estava chovendo mais que em os outros. Eu me lembro bem. Faz tanto tempo, mas ficou bem guardado na minha memória. O gramado verde se estendia longe, as várias árvores eram espalhadas de maneira uniforme. Eu caminhava sozinha apertando meu guarda-chuva com as duas mãos pelo caminho de pedras que se estendia por todo o cemitério da cidade. Ele parecia me defender de qualquer coisa naquele momento, me distanciava das pessoas e eu podia me esconder embaixo dele para que ninguém visse que eu estava chorando. –"Porque ele se foi?" – "Qual motivo que o fez pular?", "Se eu estivesse lá, será que poderia ter o salvado?" –. Perguntas que nunca terão respostas, mas arrependimentos e dores que podem durar uma vida inteira.

– Edward, você estava sempre sorrindo. – A voz saiu sem perceber por debaixo do guarda-chuva. Foi difícil pronunciar seu nome. Em todo o tempo que passamos juntos eu não havia notado nada nele de diferente. – "Você estava sempre sorrindo, será... que... se eu tivesse prestado mais atenção, você estaria aqui entre nós?"

Senti uma mão tocar meu ombro. Era o Thomas. Estava tão perdida nos meus pensamentos, que me esqueci que toda a turma do colégio estava aqui para prestar homenagem a Edward. – "Porque esperamos quem amamos ir para fazer algo por essa pessoa?" – Andamos mais alguns minutos e chegamos no lugar em que o caixão estava. Os ternos e vestidos pretos se misturavam sobre o gramado verde. Havia flores brancas em cima do caixão de madeira marrom lustrado. Algumas pessoas também seguravam uma rosa branca em cada mão envoltas em um plástico transparente.

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⏰ Última atualização: Jul 29, 2020 ⏰

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