ANNIE
Quando abri os olhos na manhã seguinte, a única coisa que eu sentia era o peso dos braços fortes e tatuados do Luke sobre mim.
Ele se agarrava a mim como uma criança agarrava ao seu ursinho de pelúcia preferido, e algo naquele abraço me dizia que ali eu estava protegida e que nada de ruim poderia me acontecer.
Com uma das mãos, alisei gentilmente sua barba por fazer. Passei delicadamente os dedos por seu maxilar rígido, observando o seu peito subir e descer numa respiração tranquila.
Ele parecia em paz.
Vê-lo ali, deitado na minha cama, com seu peitoral definido e seu abdômen enrijecido, me causava uma sensação que eu jamais poderia descrever. Aparentemente eu jamais conseguiria descrever a sensação de acordar ao lado do Luke, o homem que eu amava.
Sorri, sozinha no quarto pouco iluminado pelo sol que havia acabado de nascer. Selei seus lábios devagar e me levantei, alcançando o chão gelado do meu quarto com os meus pés. A sensação não foi nem um pouco boa, mas continuei caminhando até o banheiro.
Quando cheguei até a minha pia, o reflexo que vi no espelho me assustou. Senti meu coração ser esmagado com as lembranças do dia anterior ao ver as marcas dos dedos no meu pescoço e o sangue seco, preso na vermelhidão em uma das minhas bochechas.
Meus olhos se encheram de lágrimas no mesmo momento. Vi toda aquela proteção que eu senti deitada ao lado Luke ir embora num só segundo. As marcas da agressão do Adam estavam ali pra me lembrar que a noite anterior havia sido real, apesar de ter sido a pior da minha vida.
Eu me sentia feia, desmoralizada, corrompida. Um nó se formou nas minhas vísceras e eu corri até o vaso sanitário pra vomitar toda aquela dor que estava dentro de mim. Voltei até a pia e lavei a boca, aproveitando pra encher as duas palmas das mãos com a água gelada e leva-las até o meu rosto.
Quando a água tocou a minha face, tudo que eu consegui fazer foi manter as minhas mãos nos meus olhos e soluçar. Eu não queria me sentir assim, mas toda vez que eu lembrava dos detalhes da noite anterior, sentia o medo invadir o meu peito e criar um buraco no meu coração.
Senti a presença do Luke atrás de mim, e foi só aí que consegui parar de soluçar. Sem dizer nada, ele tocou as minhas mãos, tirando-as do meu rosto e fazendo com que eu olhasse pra ele. Eu desviei os olhos, mas notei como o seu olhar era gentil, amoroso e cauteloso.
— Vai ficar tudo bem, meu amor. — ele prometeu — Estou aqui com você.
Ele me envolveu em mais um de seus abraços apertados e esperou pacientemente até que eu parasse de chorar, em silêncio. Nenhum de nós tinha nada a dizer, mas era exatamente do silêncio — e da sua presença — que eu precisava naquele momento.
Ele me conduziu de volta pra cama e me colocou sentada, se ajoelhando à minha frente. Colocou uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha e pôde, pela primeira vez naquela manhã, finalmente olhar pra mim.
— Não quero que você me veja assim. — eu pedi, chorosa.
— Ei. — ele falou, segurando as minhas mãos — Não há nada que possa mudar a forma que eu me sinto em relação a você. Preciso ver como você está.
Relutantemente, eu levantei a cabeça, dando-lhe a visão da minha bochecha quase arroxeada e do meu pescoço marcado.
— Você tem algum kit de primeiros socorros aqui? — ele perguntou.
— No banheiro, na terceira gaveta. — eu indiquei.
Ele foi até o meu banheiro e retornou com uma bolsinha nas mãos. Se sentou ao meu lado e molhou um algodão com algo que parecia ser soro fisiológico.
— Me avise se arder ou doer, está bem? — ele pediu.
Ele continuou limpando o meu rosto com a maior delicadeza possível. Se me perguntassem se eu acreditava ser possível um homem de quase dois metros de altura, completamente tatuado e forte como um touro ser delicado daquele jeito, a minha resposta seria não. Mas ali estava ele: fazendo todos os esforços do mundo pra que suas mãos calejadas não tocassem nos lugares mais machucados do meu rosto.
— É bom ver você do outro lado uma vez na vida. — eu brinquei — Quero dizer, sendo o cara que cuida dos meus machucados em vez de eu estar cuidado dos seus.
— Sente falta disso? — ele indagou, com um sorriso no rosto.
— Do quê? — eu retruquei.
— Disso. — ele respondeu, colando um band-aid na minha bochecha — Nós dois sentados entre uma maleta de primeiros socorros, conversando amenidades enquanto cuidamos um do outro.
— Quando você perdia uma luta e precisava que eu cuidasse de você, era uma das poucas vezes em que eu podia ver o verdadeiro Luke. — eu confessei — Não essa fortaleza inderrotável, esse muro de músculos e tatuagens... apenas o Luke. Frágil. Vulnerável.
Seu sorriso se expandiu e ele jogou o algodão usado na lixeira ao lado da minha cama.
— Quando você cuidava de mim, eu me sentia o cara mais sortudo do mundo. — ele respondeu — Eu poderia ter sido nocauteado ou perdido uma luta no primeiro round. Se eu soubesse que você estaria lá, esperando por mim no vestiário, isso fazia a minha noite valer a pena.
Eu sorri e estiquei meu tronco, selando seus lábios.
— Hoje vai ser um dia difícil pra mim. — eu lamentei, mudando de assunto — Preciso deixar o meu pai e o Andy a par de tudo o que aconteceu e ir na delegacia dar o meu depoimento.
— Tem certeza que precisa fazer isso hoje? — ele indagou — Não prefere descansar ou algo do tipo?
— Não. — eu respondi — Preciso resolver todas essas questões e virar a página de uma vez. Quanto mais eu postergar isso, mais vou reviver esse momento e... não é o que eu quero. Não mesmo.
— Quer que eu te acompanhe? — ele sugeriu — Posso tirar o dia todo pra ficar com você hoje.
— Obrigada, Luke, mas está tudo bem. — eu respondi — São coisas que eu preciso enfrentar sozinha. Vou ficar bem.
Ele pegou minhas mãos e as beijou, olhando-me nos olhos em seguida.
— Eu sinto muito que isso tenha acontecido com você, Annie. — ele lamentou — Não queria que você tivesse passado pelo que passou. Não queria que o Adam tivesse tido a oportunidade de encostar um só dedo em você. Me desculpe por ter ido embora.
— Não foi sua culpa. — eu falei — Não quero que pense isso nem por um só minuto.
— Você disse que queria ficar comigo. — ele lembrou, com os olhos marejados — Você precisava de mim, então eu deveria ter ficado. Me desculpe por tudo. Por ter ido embora há quatro anos e por ter ido embora ontem de novo.
Eu sei que me perdi algumas vezes. E cometi erros. Cometi erros de partir o coração. Mas nunca deixei de te amar. E eu preciso que você saiba que estou aqui agora, entendeu? Pra valer. Eu te amo e não vou mais a lugar nenhum.— Ótimo. — eu respondi, com um sorriso no rosto — Porque eu também te amo, Luke Reed. E também não vou a lugar nenhum. Não sem você.
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Nocaute
Romance[LIVRO 2 DA DUOLOGIA "PROIBIDA PRA MIM"] Algumas escolhas na vida custam caro, e Luke Reed parecia estar disposto a pagar por elas quando escolheu partir. Mas depois de passar quatro anos em Atlanta, ele está de volta à Los Angeles. E sabendo que to...